LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Réu confesso do assassinato do ex-secretário de Estado Vilceu Marchetti, de 53 anos, o caseiro Anastácio Marafon foi absolvido pelo Tribunal do Júri da acusação de homicídio.
A sentença saiu na madrugada desta sexta-feira (10), após mais de 15 horas do início da sessão do Júri, ocorrida no Fórum de Santo Antônio do Leverger.
O Conselho de Sentença admitiu a materialidade e a autoria do crime, ocorrido há pouco mais de um ano. Porém, por quatro votos a dois, o júri acatou a tese de que o caseiro agiu em legítima defesa ao atirar contra o ex-secretário, que teria atirado primeiro em Marafon.
"Assim, atendendo às decisões do colendo conselho de sentença, o acusado Anastacio Marafon, devidamente qualificado nos autos, restou absolvido das imputações constantes nos autos", diz trecho da decisão.
O juiz que presidiu a sessão, Murilo Moura Mesquita, determinou a expedição imediata de alvará de soltura em favor do caseiro, que está preso desde a época do crime na Cadeia Pública de Capão Grande, em Várzea Grande.
"A perícia foi efetuada e demonstrou a existência de muitos vícios na cena do crime. Já haviam mexido no corpo, em tudo. A tese que defendemos foi justamente a verdade, que foi a legítima defesa, o que realmente aconteceu", disse ao MidiaJur o advogado de Marafon, Oscar Cesar Ribeiro Travassos.
Debates na sessão
A sessão iniciou na manhã de quinta-feira (09). Dos 20 jurados, o juiz Murilo Moura sorteou 7 para compor o Conselho de Sentença: Solange Dias da Silva Costa, Mariozan do Nascimento, Graziela de Oliveira, Valdeci de Oliveira Silva, Ronaldo Rodrigues da Silva, Flávio Ferreira Dias de Oliveira e Bento Benedito Padilha.
Logo após, foram ouvidas as testemunhas Valdineisa Joana da Silva (policial que recebeu o chamado do crime), Zenir Pedro Correa Junior (motorista da Fazenda Marasul, local onde ocorreu o assassinato), Manoel Vilmar da Cruz (suplente de vereador), Rigoberto Anderson Marchetti (filho de Vilceu Marchetti), Juemil Pires de Miranda (policial militar que atendeu a a ocorrência) e Angela Aparecido Ribeiros dos Santos (esposa de Anastácio Marafon).
Encerrados os depoimentos, foi a vez do réu Anastácio Marafon ser interrogado. Ele reafirmou que cometeu o crime, mas disse que apenas se defendeu dos ataques do ex-secretário, que teria atirado contra ele no momento em que foi tirar satisfação sobre um suposto assédio de Marchetti à sua esposa.
Já o Ministério Público Estadual (MPE), representado na sessão pelos promotores de Justiça Natanael Moltocaro Fiúza e Wesley Sanchez Lacerda, requereu a condenação do caseiro por homicídio qualificado, sem dar chance de defesa à vítima.
Os advogados de defesa, Oscar Cesar Ribeiro Travassos, Luciano Guilherme Barbosa dos Santos e Leidineia Katia Bosi pediram a absolvição de Marafon ou, caso não fosse possível, a condenação por homicídio privilegiado - quando o autor do crime comete o delito movido por forte emoção ou desespero.
Na réplica, o MPE contestou a versão dos advogados e insistiu na condenação do caseiro. A audiência foi suspensa, às 22:30, para a refeição dos jurados e, na tréplica, os advogados rebateram a acusação ministerial.
O juiz Murilo Moura formulou as questões para votação pelos jurados, cujo voto ocorreu por meio de cédulas de papel. Quatro jurados votaram pela absolvição e dois pela condenação, com uma abstenção.
O caso
Vilceu Marchetti foi morto na noite do dia 07 de julho, na Fazenda Marazul, localizada na região do Pantanal. A fazenda pertencia a Neri Fulgante e era administrada por Marchetti.
Na ocasião do crime, também estavam na fazenda seus dois netos, de 14 e 9 anos de idade.
Anastácio Marafon já trabalhava para Fulgante há seis anos em outra propriedade e assumiria a administração da Fazenda Marazul. O réu havia chegado ao local há pouco mais de 10 dias, junto com a família.
Ao chegar à sede da fazenda, o ex-secretário teria assediado a esposa do novo administrador, que presenciou a cena e tirou satisfação com a companheira – discussão que teria sido testemunhada pelos netos de Marchetti.
Marafon, então, teria se dirigido armado até o apartamento ocupado por Marchetti na fazenda e entrado em seu quarto.
Após uma breve discussão – ouvida pelo dono da fazenda –, o ex-secretário foi morto a tiros. O caseiro voltou à propriedade e atirou a arma no rio durante o percurso
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