LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
A promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco afirmou, na denúncia derivada da Operação Sodoma, que os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf (Indústria, Comércio, Minas E Energia) e Marcel de Cursi (Fazenda) confessaram, em uma gravação, ter recebido propina do empresário João Batista Rosa, delator do esquema.
A confissão, segundo Ana Bardusco, ocorreu durante conversas que ambos tiveram com o empresário, em ocasiões diferentes, no mês passado.
Eles estão presos preventivamente no Centro de Custódia da Capital desde o dia 15 de setembro, acusados de comandarem esquema que teria lucrado R$ 2,6 milhões com a cobrança de propinas em troca de benefício de incentivos fiscais em Mato Grosso. Também foi preso o ex-governador Silval Barbosa (PMDB), que está detido no Corpo de Bombeiros.
Além deles, foram denunciados Francisco Andrade de Lima Filho, o Chico Lima, procurador aposentado do Estado; Sílvio Cézar Corrêa Araújo, ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa; e Karla Cecília de Oliveira Cintra, ex-secretária de Nadaf na Fecomércio.
Todos responderão pelas acusações de organização criminosa, concussão, extorsão e lavagem de dinheiro. O grupo é acusado de receber mais de R$ 2 milhões em propina.
As conversas foram gravadas, com o auxílio do MPE, na sede de uma das empresas do delator, a Tractor Parts Distribuidora de Auto Peças Ltda, localizada em Várzea Grande.
O primeiro diálogo ocorreu entre João Batista e Pedro Nadaf, no dia 19 de agosto.
No encontro, o delator citou o fato de ter aberto mão de um crédito de R$ 2,5 milhões para que suas empresas fossem enquadradas no Prodeic.
Ele disse a Nadaf que temia que suas empresas fossem canceladas junto ao Prodeic e que fosse multado pelas irregularidades, mas o ex-secretário garantiu que, se algo desse errado, ele pagaria.
João Batista contou a Cursi que Nadaf havia lhe pedido R$ 15 mil para repassar ao mesmo. Já Cursi afirmou que recebeu apenas R$ 5 mil, mas que não havia problema.
Durante a conversa com Cursi, o delator também citou o crédito das empresas que ele abriu mão em favor do grupo, sendo que o ex-secretário pediu para que ele adotasse uma posição mais "tranquila", porque o caso era problema do Estado.
João Batista: na verdade nós temos uma cacetada de (...), algumas coisas nós não tínhamos Marcel porque nunca foi pedido, por isso até eu queria te explicar, nunca foi pedido nada, para nós, nada, daquela vez que nós estivemos lá, em que você sugeriu um Prodeic você se lembra como foi uma ideia excelente, porque o Prodeic é legal, naquela época era na 7895, era indústria e comércio né! aí você sugeriu o Prodeic, eu ia abrir mão do crédito tudo certinho, bom! aí eles nunca me pediram um nada, nada, nada, nada, nada.
Marcel: esse é problema deles, é por isso que eu estou, é assim que a gente precisa alinhar a conversa, você tem que ficar em uma posição mais tranquila, eu estou vendo você cheio de direitos aí, o problema está do lado do Estado, não fez isso é um problema interno, lá! Você não tem nada a ver com isso, então a gente precisa seguir na linha o seguinte: eu fiz os investimentos, aquilo que está no protocolo de intenções eu cumpri
Extorsão
Para a promotora Ana Bardusco, a justificativa dada por Marcel de Cursi, em depoimento prestado durante sua prisão, não é verdadeira e revela o crime de extorsão praticado por ele e por Pedro Nadaf.
Isso porque o ex-secretário disse que mentiu ter recebido os R$ 5 mil para não criar uma situação constrangedora entre João Batista e Pedro Nadaf.
Além disso, alegou que o encontro com o delator foi uma “visita humanitária”, pois tinha conhecimento de que João Batista estava com depressão.
Na denúncia, a promotora questionou: “para não “constranger” Pedro Nadaf, optou por confessar a prática de crime, qual seja: receber vantagem indevida fruto de coação?”.
Segundo Ana Bardusco, mesmo após o delator ter contado que Nadaf havia lhe extorquido, Marcel de Cursi “não esposou nenhuma reação de repúdio e/ou protesto, exteriorizando aceitação desta prática criminosa”.
“Conclui-se, portanto, quão distorcidos são os seus conceitos de legalidade, moral e ética”, avaliou.
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