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Midia Jur
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Entrevista Domingo, 19 de Janeiro de 2014, 08:01 - A | A

19 de Janeiro de 2014, 08h:01 - A | A

Entrevista / LICENCIAMENTOS AMBIENTAIS

“Tempo de espera deixa empresas na ilegalidade”

Advogados criticam falta de efetividade na descentralização para diminuir burocracia na emissão de licenciamentos às empresas

LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO



Uma empresa que entra com um procedimento para obter licenciamento ambiental dentro do território mato-grossense, especialmente as do ramo de agronegócio, em alguns casos pode esperar até cinco ou seis anos para conseguir a permissão legal para empreender.

A informação é dos advogados Jorge Tadeu Malvenier e Anete Garcia Fiuza, que trabalham com Direito Ambiental há mais de 10 anos.

Anete Fiuza, que também é bióloga, diz que a burocracia na emissão de licenciamentos acaba por contribuir para que muitas empresas se instalem de forma irregular.

“Imagine ficar à espera por todo este tempo para poder iniciar um empreendimento. Por isso se vê muitas empresas à margem da legalidade. Porque elas não vão esperar”, afirmou a advogada.

Jorge Tadeu corrobora a opinião e assegura que a maioria das empresas tenta se instalar de maneira lícita e executar os passos legais para obter o licenciamento, “mas o Estado não oferece estrutura para acompanhar a demanda empresarial”.

“ A Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente) hoje não tem estrutura, corpo técnico e, pelo visto, não tem vontade política para ampliar. Ela está preocupada com a Copa, com grandes empreendimentos”, diz Jorge, que integra a Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT).

A advogada Anete Garcia Fiuza
A saída mais viável para agilizar a emissão dos licenciamentos, segundo os advogados, é trabalhar com a descentralização, por meio de consórcios, instrumento já previsto na legislação.

Anete Fiuza explica que a descentralização permite que seja realizado “um pacto entre municípios próximos para que haja uma cooperação de trabalho e assim agilizar os procedimentos” de licenciamento ambiental.

“Diminuiria a pressão sobre a Sema e certamente agilizaria a emissão das licenças. Poderíamos ter uma situação de menor irregularidade e menor quantidade de ilícitos ambientais”, argumenta Anete.

Na entrevista da semana do MidiaJur, os advogados Jorge Tadeu Malvenier e Anete Garcia Fiuza também comentam sobre o Novo Código Florestal, a falta de aplicação e fiscalização do Poder Público nas questões ambientais e possíveis saídas para diminuir a irregularidade das empresas neste quesito.

Confira os melhores trechos da entrevista:

MidiaJur – A preservação do meio ambiente foi colocado como direito fundamental da pessoa humana apenas com a Constituição Federal de 1988. De lá para cá, o Direito Ambiental conseguiu acompanhar as mudanças sociais e estruturais da sociedade?

Jorge Tadeu
- Nós temos um sistema de legislação ambiental e fazemos o acompanhamento de alterações, avaliação desta legislação. Há lei suficiente, o direito ambiental tem acompanhado sim estas mudanças. Agora, a aplicação da lei que é o problema.

Anete Garcia - Esse é o descompasso. A lei é ágil, mas o Estado operacionaliza de uma forma lenta.

MidiaJur - Vocês teriam exemplos desta falta de aplicação da lei, especialmente no que tange às irregularidades constantemente detectadas em licenciamentos ambientais?

Jorge Tadeu
- Essa questão é um vai e volta. Hoje nós temos uma política federal de descentralização para os municípios emitirem licenças ambientais, que desburocratiza e diminui o tempo para emissão. Só que isso tem sido feito de forma bem capenga. O gargalo não é a legislação, mas a fiscalização, a implantação da legislação que existe. Nós temos vários instrumentos jurídicos, normativas. O que não temos é aplicação correta. Não sei se é por preguiça, desconhecimento técnico, a própria política pública do Estado que não fomenta seus fiscais e operadores dos licenciamentos a estarem atualizados, se falta uma conversa dentro das secretarias entre o jurídico e o técnico.

MidiaJur - Então o problema não é alguma falha ou omissão nas leis, na sua opinião...

Jorge Tadeu
– Só existe como detectar algum tipo de falha na legislação a partir do momento em que você consegue aplicá-la, o que infelizmente não acontece. Falha em sentido textual tem um monte. A todo tempo o Legislativo tenta refazer a legislação de forma equivocada, errada.

Anete Garcia -
Com o que já consta na legislação, poderia ser feito muito mais. Não precisava de novas leis. Se aplicassem só o que tem, já seria interessante.

MidiaJur - Falta então uma atuação das secretarias municipais e estadual do Meio Ambiente, mais proatividade dos gestores públicos?

Anete Garcia–
Falta diálogo entre os gestores para verificar se as regras ambientais estão sendo cumpridas, se é possível fazer aquele empreendimento daquela maneira... O Estado deveria funcionar como uma máquina orgânica, em que todos os setores tivessem relação. Me parece que cada secretaria é isolada e vai agindo sem comunicar com a outra.

Jorge Tadeu
- Inclusive com outras esferas deve haver essa relação, com a esfera federal e municipal, o que não há. Hoje se implantam grandes empreendimentos no município e não se pede o aval do município, o que a legislação determina. Mas não é verificado. Porque o gestor público municipal não se resguarda de assessores que tenham expertise nas áreas específicas que possam assessorar o prefeito de forma competente.

MidiaJur - Os prefeitos precisam se instrumentalizar mais para se adequar a estas normas ambientais?

Jorge Tadeu -
O instrumento legal está ali, mas muitos gestores desconhecem ou não fazem questão de conhecer e não aplicam. E quando o problema estoura, fazem TAC’s (Termo de Ajustamento de Conduta). Aí acabamos vivendo em um Estado regido pelo Ministério Público. Tem prefeito que deveria largar a função e deixar para o Ministério Público ser o executor, porque é isso que acontece. O Ministério Público entra com a ação, o prefeito larga mão e aceita.

MidiaJur – Em que casos aconteceu essa omissão?

Jorge Tadeu
– Estourou há pouco tempo as investigações do Ministério Público sobre as PCH’s (Pequenas Centrais Hidrelétricas). Essas centrais têm uma legislação enorme, bem descrita, e que é muito desconhecida. Há compensação financeira, ambiental, antecipação de créditos. Questões de compensação ambiental, onde poderiam gerar recursos ao erário, o Estado não aplica, o município não aplica.

MidiaJur - Vocês falaram sobre a descentralização para diminuir a burocracia na emissão de licenças. Como isso funciona?

Anete
Garcia– É um processo muito importante para Mato Grosso. Muitas empresas do ramo do agronegócio pleiteiam um procedimento para licenciamento ambiental que, às vezes, demora cinco, seis anos. Isso não é interessante para o Estado. Imagine ficar à espera por todo este tempo para poder iniciar um empreendimento. Por isso se vê muitas empresas à margem da legalidade. Porque elas não vão esperar esse tempo. Nem todos os municípios têm condições de ter um corpo técnico e estrutura para bancar o gerenciamento para emitir licenças em tempo hábil. Com a descentralização, que é permitida pelo Estado, pode-se fazer um pacto entre municípios próximos para que haja uma cooperação de trabalho e agilizar os procedimentos. A lei cria possibilidades.

Jorge Tadeu
- No nosso Estado, há 15 consórcios de desenvolvimento econômico. Há a Bacia do Rio Cuiabá, o Complexo do Pantanal, Bacia do Paraguai e aí vai. Os municípios se juntam em consórcios e, assim, os licenciamentos ambientais podem ser feitos de forma consorciada. Porque assim você junta valores à parte técnica, diminui o custo e você consegue atender a demanda e emitir a licença em tempo razoável. A lei permite.

MidiaJur - Essa atuação consorciada também facilita a fiscalização?

Anete Garcia–
Sim. Existem soluções já previstas na legislação, mas falta a operacionalização. A máquina precisa conhecer e dialogar entre si. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) precisa também acompanhar estes municípios, conforme diz a lei. Se a descentralização fosse de fato efetivada, até para a Sema ficaria só licenciamentos de locais mais complexos, intermunicipais, interestaduais. Diminuiria a pressão sobre a Sema e certamente agilizaria a emissão das licenças e poderíamos ter uma situação de menor irregularidade e menor quantidade de ilícitos ambientais.

Jorge Tadeu - As empresas legalmente constituídas não querem estar na marginalidade da lei. Tanto que entram com os procedimentos e tentam cumprir todos os programas de acordo com a lei. Quem é bandido, quem entra em área indígena, desmata, nem entra com pedido de licença, é uma minoria, mas é o que dá ibope. A grande maioria das empresas tenta agir da forma correta, mas o Estado não oferece estrutura para acompanhar a demanda empresarial. E a saída mais viável é a descentralização.

MidiaJur – Em outras palavras, a descentralização desburocratizaria a emissão de licenciamentos...

Jorge Tadeu
- E desafogaria a Sema. A Sema hoje não tem estrutura, corpo técnico e, pelo visto, não tem vontade política para isso, de ampliar. Ela está preocupada com a Copa, com grandes empreendimentos.

Anete Garcia- Mas também há a questão financeira. Muitos prefeitos reclamam que não podem arcar com mais essa obrigação de descentralização sem contrapartida de recursos, porque é preciso investimento, capacitação, se preparar para criar normas ambientais próprias em âmbito municipal. E o município sofre por não contar com a tutela, o amparo do Estado para esses passos iniciais.

Jorge Tadeu – E essa capacitação, segundo a própria legislação, deve ser feita pela Sema. E a Sema não consegue capacitar nem o seu corpo técnico, que dirá os servidores da prefeitura.

MidiaJur - Outra temor dos ambientalistas é relacionado ao Novo Código Florestal. Em Mato Grosso, essa nova legislação representa riscos ao meio ambiente?

Anete Garcia -
Do ponto de vista da tutela do meio ambiente, este Novo Código Florestal, que não é mais um Código Florestal, e sim tem outra vertente, tende a retroceder a proteção. Ele diminuiu a proteção para área de preservação permanente e mais na frente vamos sentir o impacto dessas novas medidas. O Estado de Mato Grosso segue a legislação ambiental estadual, que muitas vezes é diferente do que está na legislação federal. Nós ainda temos a mesma proteção ambiental de antes mas, na prática, estão sendo adotadas as regras federais.

MidiaJur - Como houve muita pressão da bancada ruralista na elaboração deste Novo Código Florestal, isso não acaba por abrir um precedente para que, pouco a pouco, o meio ambiente vá sendo degradado de forma legal?

Anete Garcia-
Há avanços e retrocessos e parece que nunca saímos do lugar. O que é preciso é achar um meio termo para a questão ambiental e do agronegócio, que agrade aos dois lados, encontrar alternativas de conciliá-los. Eu vejo que é possível, mas tem que ter muita boa vontade tanto do setor ruralista quanto do setor ambiental.

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