Gabriel Soares
Editor-Chefe | Estadão Mato Grosso
Intimado para apresentar sua defesa prévia no processo que trata das denúncias falsas e difamatórias feitas contra a diretoria da Unimed Cuiabá, o médico radiologista Ricardo Antônio Gonsales reconheceu que o e-mail com as acusações partiu da rede de computadores de sua clínica, a Doyon Medicina Diagnóstica, localizada em Tangará da Serra. A petição foi anexada ao processo no dia 9 de março.
Conforme noticiado pelo Estadão Mato Grosso em março de 2021, Ricardo Gonsales é acusado pela diretoria da Unimed Cuiabá de ser um dos responsáveis por montar um esquema com o objetivo de difamar a diretoria da cooperativa, acusando-os de uma série de crimes contra a Receita Federal, fraudes fiscais e promover um rombo de R$ 100 milhões. Segundo a prestadora, ele teria agido em conluio com o também médico Gilmar Ferreira do Espírito Santo, que teria encomendado um parecer fiscal sobre as contas da Unimed Cuiabá.
Documentos anexados ao processo apontam que o telefone de Ricardo Gonsales teria sido usado para criar um e-mail falso, que apresentava o nome do ex-juiz “Sergio Moro”, e foi utilizado para disseminar anonimamente denúncias falsas contra a cooperativa. A informação foi obtida após notificação da Google Brasil, que também revelou o endereço de IP utilizado para criação do e-mail: o mesmo da Clínica Doyon
Em sua defesa, Gonsales admite que o e-mail pode ter saído de sua clínica. Entretanto, ele afirma que qualquer pessoa poderia ter enviado o conteúdo e criado o e-mail, pois disponibiliza acesso gratuito à internet por meio de uma rede de wi-fi para clientes. O médico chegou a requerer a elaboração de uma ata notarial, que comprova que a rede é aberta para acesso público.
A defesa de Gonsales chega a sugerir que a diretoria da Unimed Cuiabá teria enviado alguém - um terceiro mal-intencionado - para acessar a rede de sua empresa, criar o e-mail falso e dispará-lo. Segundo ele, essa suposta ‘armação’ teria sido feita porque ele disputaria um cargo na Unimed Nacional em chapa oposta à do presidente da Unimed Cuiabá.
Gonsales também apresenta um tutorial de como criar um e-mail sem cadastrar o telefone, como forma de justificar o motivo pelo qual seu telefone celular estava cadastrado para receber código de segurança e ativar a conta do e-mail.
“Excelência, o Querelado Ricardo Antônio Gonsales, foi alvo de uma tremenda armação com o fim de desmoralizar sua imagem, pois, o mesmo seria concorrente direto do Querelante, frente às eleições da UNIMED, concorrendo em chapa contrária ao Querelante”, diz trecho da petição, assinada pelo advogado Welder Gusmã Jacon.
Gonsales ainda afirmou à Justiça que teria sido alvo de um ataque cibernético, tendo suas senhas hackeadas. Para isso, apresentou uma notícia veiculada pela imprensa local em 10 de março de 2021, data posterior à publicação da primeira reportagem do Estadão Mato Grosso (5 de março de 2021) e 15 dias após a Google Brasil revelar o endereço de IP da empresa de Gonsales como ponto de partida do e-mail apócrifo.
Versão do Gilmar
Já o médico Gilmar Ferreira do Espírito Santo, proprietário da Oncomed Tratamento Multidisciplinar, afirmou em sua defesa prévia no processo que é alvo de uma perseguição política na Unimed Cuiabá. Em petição anexada ao processo, ele afirma que contratou o parecer de um escritório de advocacia sobre a situação fiscal da Unimed Cuiabá.
Segundo Gilmar, o parecer foi contratado por um grupo formado por 20 médicos, que supostamente estavam preocupados com a saúde financeira da cooperativa. Esse relatório é que teria sido usado como base para envio do e-mail apócrifo, com acusações falsas contra a diretoria da Unimed Cuiabá.
No entanto, Gilmar afirma que não teve qualquer participação no envio do e-mail e nem tinha relacionamento com Ricardo Gonsales até o surgimento da denúncia.
Gilmar afirma que os médicos exerceram seu direito ao contratar o parecer e que o envio da nota fiscal para a Unimed foi um erro do setor administrativo do escritório.
Pela suspeita de envolvimento nesta trama, Gilmar e Ricardo respondem a processos nas esferas cível e criminal. Na esfera criminal, a diretoria da Unimed pede a condenação dos médicos a dois anos de prisão, conforme art. 139 do Código Penal, agravado pelos art. 141, inciso III; art. 70; e art. 29.
Já na esfera cível, é pleiteada indenização por danos morais, além pagamento das custas judiciais e dos honorários advocatícios.
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