LUCAS RODRIGUES
ESPECIAL PARA O MIDIAJUR
A eleição que vai definir que grupo irá comandar a diretoria da OAB de Mato Grosso aconteceu nesta sexta-feira (23). Depois de intensas reuniões, visitas a escritórios da capital, viagens à subseções do interior, arrastões em órgãos públicos e busca de apoio e adesões por todo o Estado, os candidatos Maurício Aude (Chapa 01), José Moreno (Chapa 02) e Pio da Silva (Chapa 03) finalmente irão saber qual deles sairá vitorioso na disputa ao cargo máximo da Ordem em Mato Grosso.
A votação teve início às 9 horas e se encerrou às 17 horas. Todos os advogados inscritos na OAB e adimplentes com a Ordem votaram em Cuiabá e nas 29 subseções do interior do Estado. A apuração dos votos começou há pouco e a previsão é que até as 22 horas já esteja definido o próximo presidente da Seccional.
Começo da campanha
A disputa deste ano foi marcada por debates acirrados, acusações mútuas, críticas agressivas, uniões de chapas, especulações e muitas indefinições que só foram resolvidas praticamente neste último mês de campanha.
A princípio havia especulações em torno dos nomes de João Celestino, Paulo Taques e João Scaravelli para representar a oposição. Scaravelli foi candidato em 2009, quando perdeu a disputa para o atual presidente da Seccional, Cláudio Stábile, que também concorre ao cargo de conselheiro federal na chapa de Maurício Aude. Acreditava-se também que Stábile disputaria a reeleição, já que sua gestão obteu bom desempenho em uma avaliação feita pelo Instituto de Pesquisas Sociais Políticas e Econômicas (Ipespe).
Os nomes oposicionistas começaram a se definir no começo do ano, quando Luciana Serafim afirmou que seria candidata. No dia 15 de maio Pio da Silva também se lançou como candidato à presidência da instituição no Estado. O representante da situação só foi oficialmente anunciado no final de junho, quando Maurício Aude, atual vice-presidente da OAB-MT, foi escolhido pelo grupo que comanda a atual gestão.
A partir dessas definições vieram também as críticas da oposição quanto a Maurício Aude. O fato de Aude não ter se desincompatibilizado do cargo de vice foi a principal crítica de Pio, Serafim e seus apoiadores, que incumbiam esta atitude como “uso da máquina”. Aude e Stábile negaram as acusações e argumentavam que a gestão deveria ser levada até o final pelo candidato.
Surgem mais dois candidatos
Porém, quando se pensava que a oposição já estaria definida por Pio e Serafim, começaram a surgir boatos de que José Moreno seria lançado por um grupo de oposição intitulado “OAB Democrática Ética”, fato que se confirmou no dia 21 de agosto. Moreno foi vice-presidente da Aatramat na gestão presidida pela candidata Luciana Serafim e acreditava-se que ele a apoiaria na campanha. Pio da Silva criticou duramente o novo candidato e também Serafim, com a afirmação de que existiria um “duelo de vaidades na oposição” e que só ele representava a renovação, pois ao contrário dos adversários, nunca fez parte da diretoria da Ordem. Ambos os candidatos oposicionistas afirmavam que estavam abertos a uma união da oposição, porém nenhum deles abriria mão de ser o cabeça-de-chapa.
O mês de setembro foi decisivo para os grupos oposicionistas. Luciana iniciou o mês com o anúncio de Huendel Rolim como seu vice e Pio, no dia 05, oficializou a advogada Mari Alves para a vice-presidência de sua chapa. No dia 14, Huendel desiste de ser vice de Serafim, duas semanas após o anúncio oficial, o que gerou muita polêmica interna no grupo da candidata.
As especulações para a substituição de Huendel giravam em torno do advogado Felipe de Oliveira, filho do presidente do TJMT, Rubens de Oliveira. No entanto, o que seria uma substituição se confirmou como mais uma baixa na candidatura de Serafim: Felipe, no dia 21, se lançou como candidato à presidência da Ordem.
Como esses rachas internos facilitariam a vida do candidato da situação, vários advogados de renome no cenário mato-grossense, como Paulo Taques, afirmaram que trabalhariam pela unificação, no intuito de acabar com o “continuísmo” que existiria na Seccional há 18 anos.
União da oposição
Felipe deixou claro que estava aberto a discutir sobre uma possível união da oposição, mesmo que tivesse que abrir mão de ser o cabeça-de-chapa. E isso veio a acontecer no dia 4 de outubro, quando abriu mão de sua candidatura em prol de José Moreno. Com isso, o grupo de Moreno começava a ganhar força tanto na capital quanto no interior, o que incomodou o grupo da situação. O advogado Francisco Faiad, que comandou a ordem por dois mandatos, chegou a afirmar que “a oposição não sabe se unir”.
No mesmo dia, um fato lamentável ocorreu com a filha de Pio da Silva. Thallita Pio sofreu um AVC na noite do dia 3, não resistiu e acabou por falecer na manhã seguinte. Com este duro baque, era incerto se Pio continuaria ou não na disputa. Porém dias depois, o advogado reafirmou seu desejo em ser presidente da Seccional e garantiu que continuaria na campanha classista.
No dia 19 de outubro, o que parecia improvável, senão impossível, aconteceu. Luciana Serafim, que afirmou que não desistiria de ser candidata à presidência da Ordem, desistiu da candidatura e aderiu a José Moreno, para concorrer ao cargo de presidente da Caixa de Assistência dos Advogados. Nos bastidores correram boatos de que a advogada teria desistido por não conseguir os 84 nomes necessários para a composição, o que foi negado por ela. Enquanto isso, Aude anunciava a advogada e presidente da Comissão do Direito do Trabalho de MT, Cláudia Aquino, como sua vice.
A união de Felipe e Luciana ao advogado José Moreno foi amplamente criticada pela situação e até mesmo por alguns advogados oposicionistas, que viam estas adesões como “incoerentes”. Pio afirmou que não iria se unir em uma candidatura única com Moreno, pois acreditava que a chapa unificada era composta de “traidores e traídos”. No dia 23, último dia para a inscrição das chapas, o advogado Fábio Schneider , que foi candidato em 2003, se confirmou como o vice na chapa de Moreno.
Reta final
No mês de novembro, Pio, Aude e Moreno intensificaram suas respectivas campanhas com viagens pelo interior, arrastões em fóruns, órgãos públicos e inúmeras adesões de nomes respeitados do meio jurídico estadual.
Pio se concentrou em buscar apoio de procuradores, advogados públicos e advogados do interior, que, segundo ele, estariam abandonados pela atual gestão. Aude, que já possuía grandes nomes como Faiad e Stábile a seu lado, buscou angariar ainda mais apoio de jovens e mulheres advogadas. Moreno, que teve um crescimento vertiginoso durante a campanha, conseguiu adesões de peso como a de Marden Tortorelli e João Celestino, alem de já contar com Paulo Taques e Scaravelli.
Disputa esquenta
Nas últimas semanas anteriores ás eleições, o número de críticas entre os candidatos aumentou e o nível da campanha diminuiu. Cada dia surgiam novas denúncias, ataques e acusações entre os candidatos.
Aude foi acusado de uso da máquina, favorecimento de alguns com cestas de café da manhã, de ter processado a Ordem em favor de juízes do Trabalho, de fazer críticas pessoais a Moreno e de bloquear acesso a advogados votantes; Moreno de ter inventado notícias, de não representar renovação e de ter pedido para ser vice da situação; Pio de ter plagiado propostas, de estar mancomunado com Faiad, de trabalhar para a situação e de responder processo por estelionato.
No dia 21 de novembro, a chapa de Pio da Silva foi impugnada pela Comissão Eleitoral da Ordem. Moreno, na busca de angariar votos para si, assediou apoiadores de Pio para votarem nele. No entanto, a alegria dele durou pouco, pois no dia 22, ás vésperas da eleição, Pio conseguiu uma liminar que o autoriza a concorrer pela Chapa “OAB 100% Você”.
Ao que parece, a disputa que inicialmente parecia ganha por Maurício Aude pode enfrentar um adversário a altura, José Moreno, que conseguiu crescer de forma surpreendente durante a campanha. A dúvida que paira é se essa força conquistada nos últimos meses pode tirar o posto de Aude de futuro presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso.
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