LAICE SOUZA
DA REDAÇÃO
Está marcada para o próximo sábado, dia 14, pontualmente às 10 horas da manhã, na sala 5 do Cine Pantanal a estréia, em Cuiabá, do documentário ‘Sobral, o homem que não tinha preço‘, com direção de Paula Fiuza.
O filme, selecionado para a mostra competitiva da Première Brasil no Festival do Rio 2012, enfoca a vida do jurista mineiro Sobral Pinto (1893-1991), que ganhou destaque ao lutar contra as injustiças e defender a democracia, mesmo em um dos períodos mais obscuros da história do Brasil, a ditadura militar. O documentário reúne depoimentos e imagens de arquivo, mostrando a trajetória do advogado e ressaltando a importância de seu trabalho na defesa da justiça e dos direitos humanos.
Sua exibição, na capital de Mato Grosso, é uma iniciativa do Movimento pela OAB Democrática, coordenado pelo advogado Bruno Boaventura. Mineiro de Barbacena Mineiro de Barbacena, Heráclito Fontoura Sobral Pinto formou-se em direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, onde começou a atuar pela defesa das liberdades. Na fase da abertura política, Sobral Pinto participou das Diretas Já.
Em entrevista à Ordem dos Advogados do Brasil/RJ, a diretora Paula Fiuza, que é neta de Sobral, conta que “a ideia de fazer um filme sobre meu avô sempre povoou minha cabeça. Ele morreu em 1991 e, de lá pra cá, as pessoas foram se esquecendo dele. Havia apenas uma biografia feita por um brasilianista americano, rica em fatos históricos, porém não faz jus à figura humana de Sobral”, afirma, contando que o projeto tomou corpo a partir de sua inquietação “em relação ao que percebia como a falência da ética na nossa cultura.” “No que pusemos uma pá de cal sobre a ditadura e o poder voltou a ser regido por leis democráticas, me pareceu que não havia mais parâmetro ético para a aplicação de qualquer lei (…). Achei que fazer um filme sobre ele era a contribuição mais direta que eu poderia dar para tentar mudar esse cenário.”
Heráclito Fontoura Sobral Pinto nasceu em Barbacena, MG, em 5 de novembro de 1893. Era o filho caçula de Príamo, agente ferroviário, e Idalina, mulher de espírito público incomum para uma mãe de família naquele tempo. Sobral dizia que as mulheres, por serem as guardiãs do lar e dos filhos, costumavam olhar primeiro (e muitas vezes somente) para os seus, mas Idalina se preocupava com o mundo. Foi com ela que Sobral, ainda criança, dividiu sua indignação ao presenciarem juntos um homem ser espancado covardemente por policiais – episódio que o fez decidir dedicar sua vida a defender a justiça e a liberdade.
A filha de Olga Benário Sobral Pinto se destacou na história da advocacia brasileira, entre muitos episódios, por ter sido o principal responsável por salvar Anita Leocádia, filha de Prestes e Olga Benario, das prisões de Hitler na Alemanha, para onde Olga foi deportada grávida.
Havia uma campanha internacional pela libertação de Olga e Anita, mas o governo nazista sequer reconhecia Prestes como pai da criança. Ele e Olga não eram casados oficialmente, e Hitler se recusava a entregar a menina para a avó paterna, Dona Leocádia, alegando que não havia parentesco. Prestes estava preso no Brasil e o governo Vargas não permitia qualquer movimento no sentido de recuperar a filha.
Depois de muita luta e persistência, no último minuto antes de Anita ser separada da mãe e entregue aos nazistas, Sobral Pinto conseguiu quebrar as barreiras de Vargas e levar um documento para Prestes assinar, atestando a paternidade da menina. Este documento foi o salvo-conduto para tirar Anita da Alemanha. Sua mãe, Olga, infelizmente foi executada numa câmara de gás pouco tempo depois.
Em Sobral – O homem que não tinha preço, Anita Leocádia, hoje com quase 77 anos, conta toda esta dramática história.
Homenagem da OAB
Sobral casou-se em 1922 no Rio de Janeiro com Maria José, beldade carioca que adorava festa e carnaval. Depois de casada, porém, D. Maria dedicou sua vida à família e raramente saía de casa. Os dois faziam aniversário no mesmo dia, 5 de novembro, e foram casados por 65 anos. Tiveram sete filhos, oito netos e dezesseis bisnetos.
No Rio de Janeiro, o prédio da OAB leva o nome do Dr. Sobral Pinto. Uma forma dos advogados prestarem uma homenagem ao Homem Que Não Tinha Preço.
Sobral Pinto é autor de 3 livros que expressam a sua forma singular de pensar e agir em defesa da justiça e da liberdade: “Lições de liberdade” (1977) “Por que defendo os comunistas” (1979) “Teologia da libertação — o materialismo marxista na teologia espiritualista” (1984)
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