Nickolly Vilela, Da Redação
Caroline Carvalho Santos, que trabalha como cabeleireira em Cuiabá, registrou boletim de ocorrência e levou a público, via rede social, os maus-tratos e discriminações que a sua filha L. G. C. S., de 9 anos, diagnosticada com transtorno do espectro autista (TEA) grau II, teria sofrido no último mês, em uma escola particular em Cuiabá.
Conforme relato de Caroline, ela optou por retirar a filha de uma instituição pública pois a criança não se adaptou com o tamanho e a quantidade de crianças na escola. Os pais decidiram então colocá-la em uma escola menor. Nas pesquisas e entrevistas, segundo Caroline, a escola assegurou de que trabalhavam com crianças do espectro autista e mesmo informados de que a criança tem comportamento peculiar ao espectro, fariam a inclusão pedagógica da aluna com os demais colegas.
Após alguns dias de rotina escolar na instituição, a cabeleireira relata que passou a receber ligações diárias da escola pedindo para que os responsáveis buscassem a criança. Entre as alegações da escola, a menor teria tentando fugir, além de ser agressiva com monitores, professores e colegas.
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“Disseram que não poderiam mais ficar com ela na escola; que ela é uma criança agressiva, uma ameaça para outras crianças menores.. que ela estava quebrando material da escola, cortinas e que alguns funcionários estavam pedindo demissão por conta dela” conta a mãe.
A empreendedora conta que no dia 05 de outubro a criança teria defecado nas roupas e a escola se recusou a limpar e manteve a menor com fezes na roupa até o momento em que o responsável a buscou. A mãe conta que isso foi feito mesmo com a criança portando roupas limpas na mochila, além de produtos de higiene, enviados por ela justamente pensando nesses imprevistos.
"A escola me ligou alegando que não poderia limpar a L., por que não tinha ninguém na escola que pudesse fazer isso por ela. Pois então eles me devolveram a L. defecada."
No dia 7 de outubro, funcionários da escola filmaram a menor tirando as roupas para tomar banho em uma ducha instalada na escola. A mãe conta que, no relato deles, a criança não conseguiu ser contida pelos funcionários e a atitude dela, de se despir e tomar banho teria causado medo as demais crianças que presenciaram a cena.
"Me ligaram desesperados que a L. tava tirando a roupa para tomar banho na ducha e do jeito que eles me disseram pareceu atentado ao pudor né, que a L. tava fazendo atentado ao pudor. Me ligaram dizendo que ninguém conseguia conter ela na escola, a diretora me ligou super grossa, ela gritou comigo no telefone." conta.
No mesmo dia, a escola optou por denunciar a família ao Conselho Tutelar. Na denúncia mencionam que a criança não faz acompanhamento médico, além de não tomar medicações e fazer acompanhamento psicológico. Segundo a escola, a mãe teria se recusado a entregar o laudo médico na matrícula. Mencionam também que a criança não tem um Atendente Terapêutico (A.T) previsto em lei, para acompanhá-la durante as aulas.
A respeito do Atendente Terapeutico (A.T.) previsto em lei, a mãe informa que já havia entrado com uma liminar em tutela de urgência contra o plano de saúde da criança, pois eles haviam se recusado a prestar alguns atendimentos especializados, incluindo o acompanhante para escola. A reportagem teve acesso a decisão com liminar favorável farovável a família, mas o plano de saúde ainda não cumpriu. Relatou também que a criança foi diagnosticada aos três anos de idade e desde então é atendida por uma médica neurologista na capital.
O Conselho Tutelar visitou a casa da família e conforme relato da mãe, deram por infundadas as denúncias. No mesmo dia da visita, Caroline optou por registrar um boletim de ocorrência informando sobre maus-tratos com lesão corporal, pois a criança teria voltado da escola com hematomas pelo corpo.
Desde então, a criança voltou para a escola pública e a família não teve mais respaldo por parte da escola particular segundo a mulher. Em relato emocionado, a mãe finaliza pedindo mais respeito e cuidado por parte de profissionais que cuidam de crianças com espectro autista em sala de aula.
"A L. é sim muito grande, nós também temos dificuldades de lidar com ela, mas eu acredito que tem amor pelo o que faz, quem tem empatia e amor na profissão não vai medir esforços para ajudar ela dentro das limitações dela. A minha família e eu estamos revoltados, porque antes de por ela na escola eles disseram que ela seria inclusa, e na verdade não. Ela foi exposta, ela sofreu discriminação, ela recebeu rejeição. Eles viram que depois dela entrar na escola eles viram que não era fácil lidar com ela."
OUTRO LADO - Em manifestação à reportagem, a escola citada pela mãe da criança informou que acionou o Conselho Tutelar para tratar do caso da criança.
"Não comentamos a respeito de fatos que ocorrem com nossos alunos e ficamos tristes em ver a mãe expondo a criança desta maneira. Quanto as postagens e as denúncias que ela fez contra a escola tomaremos as medidas legais contra estas inverdades. Ressaltamos que somos referência no mercado pedagógico em atendimento a crianças do espectro autista e temos diversos profissionais capacitados que atuam dentro da unidade", diz trecho da manifestação.
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