LUCAS RODRIGUES
ESPECIAL PARA O MIDIAJUR
A partir de hoje, o Midiajur passa a publicar uma retrospectiva sobre os principais fatos que movimentaram os setores jurídicos do Estado, destacando as ações que chamaram mais a atenção da classe de juristas. A eleição da nova diretoria da OAB, Seccional de Mato Grosso é a primeira matéria da série que trará também as eleições no Ministério Público, no Judiário, na Procuradoria, além de outros assuntos que marcaram 2012.
A Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT), teve um ano bastante movimentado internamente. Grandes expectativas foram criadas em torno da eleição da nova Diretoria da entidade. A eleição que ocorreu no dia 23 de novembro e definiu a chapa “Pela Ordem. Para os Advogados”, encabeçada pelo então vice-presidente da gestão de Cláudio Stábile, advogado Maurício Aude, para comandar a nova diretoria foi marcada por debates acirrados, acusações, críticas agressivas, união de chapas, abandono de cargos, especulações e muitas indefinições que se mantiveram ao longo de toda a campanha.
Acompanhe abaixo a retrospectiva das eleições na Ordem em Mato Grosso deste ano:
Começo da campanha
No princípio, havia especulações em torno dos nomes de João Celestino, Paulo Taques e João Scaravelli para representar a oposição. Scaravelli foi candidato em 2009, quando perdeu a disputa para o atual presidente da Seccional, Cláudio Stábile, que também concorria ao cargo de conselheiro federal na chapa de Maurício Aude. Acreditava-se também que Stábile disputaria a reeleição, já que sua gestão obteve bom desempenho em uma avaliação feita pelo Instituto de Pesquisas Sociais Políticas e Econômicas (Ipespe).
Os nomes oposicionistas começaram a se definir no começo do ano, quando Luciana Serafim lançou seu nome na disputa. No dia 15 de maio, Pio da Silva, também se lançou como candidato à presidência da instituição no Estado. O representante da situação só foi oficialmente anunciado no final de junho, quando Maurício Aude, atual vice-presidente da OAB-MT, foi escolhido pelo grupo que comanda a atual gestão.
A partir dessas definições vieram também as críticas da oposição contra Maurício Aude. O fato de Aude não ter se desincompatibilizado do cargo de vice foi a principal crítica de Pio, Serafim e seus apoiadores, que apontavam esta atitude como “uso da máquina”. Aude e Stábile negaram as acusações e argumentavam que a gestão deveria ser levada até o final pelo candidato.
Surgem mais dois candidatos
Porém, quando se pensava que a oposição já estaria definindo por Pio da Silva ou Luciana Serafim, começaram a surgir boatos de que José Moreno seria lançado por um grupo de oposição intitulado “OAB Democrática Ética”, fato que se confirmou no dia 21 de agosto. Moreno foi vice-presidente da Aatramat na gestão presidida pela candidata Luciana Serafim e acreditava-se que ele a apoiaria na campanha.
Pio da Silva criticou duramente o novo candidato e também Serafim, com a afirmação de que existiria um “duelo de vaidades na oposição” e que só ele representava a renovação, pois ao contrário dos adversários, nunca fez parte da diretoria da Ordem. Ambos os candidatos oposicionistas afirmavam que estavam abertos a uma união da oposição, porém nenhum deles abriria mão de ser o cabeça-de-chapa.
O mês de setembro foi decisivo para os grupos oposicionistas. Luciana iniciou o mês com o anúncio de Huendel Rolim como seu vice e Pio, no dia 05, oficializou a advogada Mari Alves, de Várzea Grande, para a vice-presidência em sua chapa. No dia 14, Huendel desiste de ser vice de Serafim, duas semanas após o anúncio oficial, o que gerou muita polêmica interna no grupo da candidata.
As especulações para a substituição de Huendel giravam em torno do advogado Felipe de Oliveira, filho do presidente do TJMT, Rubens de Oliveira. No entanto, o que seria uma substituição se confirmou como mais uma baixa na candidatura de Serafim: Felipe, no dia 21, se lançou como candidato à presidência da Ordem.
Como esses rachas internos facilitariam a vida do candidato da situação, vários advogados de renome no cenário mato-grossense, como Paulo Taques, afirmaram que trabalhariam pela unificação, no intuito de acabar com o “continuísmo” que existiria na Seccional há 18 anos.
União da oposição
Felipe deixou claro que estava aberto a discutir sobre uma possível união da oposição, mesmo que tivesse que abrir mão de ser o cabeça-de-chapa. E isso veio a acontecer no dia 4 de outubro, quando abriu mão desistiu de ser candidato para apoiar o nome de José Moreno. Com isso, o grupo de Moreno começava a ganhar força tanto na capital quanto no interior, o que incomodou o grupo da situação. O advogado Francisco Faiad, que comandou a ordem por dois mandatos, chegou a afirmar que “a oposição não sabe se unir”.
No mesmo dia, um fato lamentável ocorreu com a filha de Pio da Silva. Thallita Pio sofreu um AVC na noite do dia 3, não resistiu e acabou por falecer na manhã seguinte. Com este duro baque, era incerto se Pio continuaria ou não na disputa. Porém dias depois, o advogado reafirmou seu desejo em ser presidente da Seccional e garantiu que continuaria na disputa.
No dia 19 de outubro, o que parecia improvável, senão impossível, aconteceu. Luciana Serafim, que afirmou que não desistiria de ser candidata à presidência da Ordem, desistiu e também aderiu a José Moreno, para concorrer ao cargo de presidente da Caixa de Assistência dos Advogados. Nos bastidores correram boatos de que a advogada teria desistido por não conseguir os 84 nomes necessários para a composição da sua chapa, o que foi negado por ela. Enquanto isso, Aude anunciava a advogada e presidente da Comissão do Direito do Trabalho, Cláudia Aquino, como sua vice.
A união de Felipe e Luciana ao advogado José Moreno foi amplamente criticada pela situação e até mesmo por alguns advogados oposicionistas, que viam estas adesões como “incoerentes”. Pio afirmou que não iria se unir em uma candidatura única com Moreno, pois acreditava que a chapa dele era composta de “traidores e traídos”. No dia 23, último dia para a inscrição das chapas, o advogado Fábio Schneider , que foi candidato em 2003, se confirmou como candidato a vice na chapa de Moreno.
Reta final
No mês de novembro, Pio, Aude e Moreno intensificaram suas respectivas campanhas com viagens pelo interior, arrastões em fóruns e órgãos públicos e inúmeras adesões de nomes respeitados do meio jurídico estadual.
Pio se concentrou em buscar apoio de procuradores, advogados públicos e do interior, que, segundo ele, estariam abandonados pela atual gestão. Aude, que já possuía grandes nomes como Faiad e Stábile a seu lado, buscou angariar ainda mais apoio de jovens e mulheres advogadas. Moreno, que teve um crescimento vertiginoso durante a campanha, conseguiu adesões de peso como a de Marden Tortorelli e João Celestino, alem de já contar com Paulo Taques e Scaravelli.
Disputa esquenta
Nas últimas semanas anteriores ás eleições, o número de críticas entre os candidatos aumentou e o nível da campanha diminuiu. Cada dia surgiam novas denúncias, novos ataques e novas acusações entre os candidatos.
Aude foi acusado de uso da máquina, com ajuda da CAA que teria presenteado alguns advogados com alguma representatitividade com cestas de café da manhã, de ter processado a Ordem em favor de juízes do Trabalho, de fazer críticas pessoais a Moreno e de bloquear acesso a advogados votantes; Moreno de ter inventado notícias, de não representar renovação e de ter pedido para ser vice da situação; Pio de ter plagiado propostas, de estar mancomunado com Faiad, de trabalhar para a situação e de responder processo por estelionato.
No dia 21 de novembro, a chapa de Pio da Silva foi impugnada pela Comissão Eleitoral da Ordem. Moreno, na busca de angariar votos para si, assediou apoiadores de Pio para votarem nele. No entanto, a alegria dele durou pouco, pois no dia 22, ás vésperas da eleição, Pio conseguiu uma liminar que o autoriza a concorrer pela Chapa “OAB 100% Você”.
Ao que parecia, a disputa que inicialmente aparentava estar ganha por Maurício Aude poderia enfrentar um adversário a altura, José Moreno, que conseguiu crescer de forma surpreendente durante a campanha e ameaçava tirar de Aude o posto de presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Mato Grosso.
Resultado
No dia 23 de novembro, porém, não houve surpresas. Os candidatos chegaram cedo à sede da Seccional para fazer boca de urna (prática permitida nas eleições da classe) e o azul que representava a camisa de Aude predominou. Faltando apenas cinco urnas para serem apuradas, às 20 horas já se sabia quem era o vencedor. Com mais de 800 votos de diferença a frente de Moreno, Maurício Aude foi o presidente eleito para comandar a Ordem a partir de 2013.
Pós-eleição
O segundo e o terceiro colocado na disputa, José Moreno e Pio da Silva, respectivamente, declararam que vão continuar a fazer oposição à atual gestão e que serão candidatos nas próximas eleições da Seccional, em 2015. Outro oposicionista que declarou que irá disputar a presidência da Ordem é o advogado Eduardo Mahon, que, inclusive, já está trabalhando para isso por meio do projeto Aprender Direito, que ele próprio lançou com intuito de auxiliar estudantes de direito e jovens advogados, simulando sessões de júri.
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