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JUSTIÇA Sexta-feira, 09 de Março de 2018, 08:59 - A | A

09 de Março de 2018, 08h:59 - A | A

JUSTIÇA / ANTES DA EIG MERCADOS

Acusado diz que Dóia teria recebido R$ 3 milhões de empresa

Marcelo Costa revelou em depoimento na Operação Bereré que valor era propina para impedir licitação

LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO



O empresário Marcelo da Costa e Silva, sócio da Santos Treinamento, afirmou que a empresa GRV Solutions, que até 2010 teve como sócio o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, pagou propina de R$ 3 milhões para o ex-presidente do Detran-MT e delator da Operação Bereré, Teodoro Lopes, o “Dóia”.

O valor teria sido pago para impedir que Dóia lançasse uma licitação, em 2009, que visava substituir a empresa GRV Solutions.

A empresa, que foi vendida para a Cetip e hoje se chama B3,  fazia o registro de contratos de financiamento de veículos comprados em Mato Grosso, serviço atualmente prestado pela EIG Mercados (antiga FDL).

A informação consta em depoimento dado no dia 19 de fevereiro à Delegacia Fazendária, mesma data em que foi deflagrada a operação que apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito da autarquia, na ordem de R$ 27,7 milhões, por meio do contrato firmado de forma fraudulenta com a EIG Mercados, em 2009.

Conforme as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG retornava como propina a políticos, entre eles o ex-governador Silval Barbosa, o ex-deputado Pedro Henry, e os deputados Mauro Savi e Eduardo Botelho, ambos do PSB. Após o pagamento os valores eram “lavados” por meio da empresa Santos Treinamento, que era parceira da FDL no contrato.

Marcelo Costa, que confessou ter integrado o esquema, disse que a partir de 2003 houve uma alteração no Código Civil que permitiu que os Detrans pudessem fazer os registros dos veículos, serviço que até então era feito apenas pela empresa GRV.

Em um desses encontros de Dóia no Rio de Janeiro, em uma reunião de presidentes de Detran, Dóia teria recebido da GRV o montante de R$ 3 milhões para suspender a licitação

Ele disse que em 2007 foi procurado pelo empresário Roque Reinheimer, da Santos Treinamento, e, posteriormente, os dois se reuniram com o sócio da EIG Mercados visando implementar o serviço em Mato Grosso.

Marcelo afirmou que se tornou sócio da Santos Treinamento e investiu R$ 300 mil para que a empresa estivesse estruturada o suficiente para participar da licitação no Detran-MT, em parceria com a EIG Mercados, em 2009.

Propina da GRV

Segundo o empresário, o edital da licitação foi suspenso várias vezes pelo então presidente do Detran-MT, o Dóia, “o qual por motivos diversos sempre arrumava um motivo para suspendê-la”.

“A empresa GRV, de propriedade de Carlos Augusto Montenegro, responsável por fazer esse gravame no país todo, não tinha interesse que o edital de MT fosse lançado, pois iriam perder esse mercado”.

Marcelo relatou que sempre que o edital era lançado, Dóia viajava ao Rio de Janeiro e a São Paulo, se reunia com a gerência da GRV e, na volta, acabava suspendendo o edital.

“Tomei ciência por um diretor operacional da GRV da época, cujo nome não me recordo, que em um desses encontros de Dóia no Rio de Janeiro, em uma reunião de presidentes de Detran, Dóia teria recebido da GRV o montante de R$ 3 milhões para suspender a licitação”.

Diante da informação, Marcelo Costa afirmou que foi até a casa de Dóia, no Bairro Jardim Petrópolis, em Cuiabá, e disse ao presidente do Detran-MT que sabia da propina de R$ 3 milhões e que se “continuasse com aquela atitude de impedir a execução do edital eu iria denunciá-lo ao Ministério Público”.

“Após essa conversa com Dóia, este acabou por soltar o edital e tudo passou a fluir de forma normal, possibilitando a execução do certame”.

“A licitação ocorreu de forma lícita, sendo que foi muito difícil o processos licitatório, com muitas discussões jurídicas, tendo a GRV trabalhado com várias empresas pequenas com o intuito de embaraçar a licitação, contudo acabou a empresa FDL, atual EIG, sagrando-se vencedora no certame, tendo assim no fim do ano de 2009 ocorrido a celebração do contrato entre a FDL e o Detran-MT”, disse ele.

Leia trecho do depoimento:

depoimento sobre carlos montenegro

 

A operação

A operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa EIG em Brasília.

São alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.

A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia". Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.

As empresas FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação Ltda (que agora usa o nome de EIG Mercados Ltda.) e a Santos Treinamento Ltda teriam sido usadas para lavar dinheiro no esquema.

A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.

Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.

Conforme as investigações, parte dos valores milionários pagos pelo Detran à FDL eram repassados para a empresa Santos Treinamento, que seria de fachada e atuaria apenas para “lavar” e distribuir a propina aos políticos. Dezenas de servidores e parentes de servidores do Poder Legislativo também teriam sido usados para lavar o dinheiro arrecadado por meio do esquema criminoso.

Outro lado

A redação tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa de Carlos Montenegro junto ao Ibope. A empresa que atendeu as ligações afirmou que já não presta mais assessoria ao instituto de pesquisas e não soube informar qual empresa faz o serviço.

A GRV Solutions, atual B3, afirmou que a empresa não tem mais vínculo com Carlos Montenegro. 

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