DOUGLAS TRIELLI
DA REDAÇÃO
O advogado Júlio Cesar Domingues Rodrigues, um dos acusados de participação em esquema que teria desviado R$ 9,5 milhões da Assembleia Legislativa, afirmou ao Gaeco, em março deste ano, que o deputado estadual Romoaldo Júnior (PMDB), então presidente do Parlamento, lhe pediu R$ 500 mil para viabilizar o pagamento de uma ação vencida pelo HSBC na Justiça, cujo valor era de aproximadamente R$ 8 milhões.
O advogado, que ficou sete meses preso e fez delação premiada, disse no depoimente, ao qual o MidiaNews teve acesso, que era preciso "vontade política" para o pagamento milionário. O suposto esquema está sendo investigado pela Operação Ventríloquo.
“O deputado foi direto e me disse que a dívida poderia ser paga, mas desde que houvesse viabilidade jurídica e que ele recebesse uma parte no valor de R$ 500 mil, em Francisvaldo (seu chefe de gabinete) recebesse o valor correspondente a 1% do que fosse pago”, disse o advogado, ao Gaeco.
O advogado, então, sinalizou positivamente à proposta, conforme o Gaeco, mas disse que o também advogado Joaquim Mielle, patrono da ação, também deveria concordar.
“Nessa reunião, o deputado Romoaldo me passou o número de seu telefone celular e, no dia seguinte, eu levei a sua proposta para o Joaquim Mielle, que concordou imediatamente com as exigências”, disse.
Segundo Júlio Cesar, no dia seguinte ele disse ao deputado que Joaquim Mielle concordara com o pagamento dos R$ 500 mil, e ficou aguardando as determinações de como deveria proceder.
Depois de cerca de noventa dias, segundo o depoimento, o chefe de gabinete marcou uma nova reunião com Romoaldo. No encontro, o deputado lhe disse: “Falei com o pessoal aí e não tem jeito. Não consegui”.
O advogado perguntou com quem ele tinha falado, e ele disse que falou com o “baixinho”, se referindo ao então deputado José Riva – que disse que não havia viabilidade jurídica.
Eu insisti que havia sim viabilidade jurídica para um acordo, ocasião em que o deputado pediu que eu procurasse o então procurador-geral da Assembleia, Anderson Godoi. Dois dias depois, eu me encontrei com o Anderson e levei a ele uma minuta demonstrando a viabilidade”, disse.
Da água para o vinho
Segundo o advogado, o procurador da Assembleia também lhe disse que não havia viabilidade para o pagamento.
“Então eu procurei o chefe de gabinete e sugeri que ele dissesse pro Romoaldo dar uma dura no dr. Anderson, para ele encontrar uma viabilidade jurídica para o pagamento pela via administrativa”.
Segundo Júlio César, alguns dias depois ele procurou Anderson Godoi, que “tinha mudado da água para o vinho”.
“Tanto que disse que iria emitir um parecer favorável, mas que precisariam apresentar um valor para servir de base no parecer”, disse.
Segundo ele, ao apresentar o valor, aplicando juros de 1% ao mês e 10% de honorários sobre o valor da dívida, o procurador da Assembleia lhe pediu R$ 150 mil para emitir o parecer.
"São uns filhos da p..."
Depois de fazer o relatório favorável ao pagamento, segundo o advogado, o procurador da Assembleia lhe disse que, a partir daquele momento, a questão deveria se tratada com o então secretário geral da Casa, Luiz Márcio Pommot – “que literalmente avocou para si o procedimento e, literalmente, o colocou embaixo de sua mesa”.
Depois disso, o advogado contou ao Gaeco que se reuniu com Riva, pois Romoaldo havia lhe dito que o pagamento não seria possível sem o aval do “baixinho”.
“Logo no início da conversa, Riva demonstrou que não tinha interesse em levar adiante o pagamendo, chegando a falar mal do banco e dizer ‘esses caras são uns filhos da p...’ e que não tinha interesse em pagar essa m...’”, disse.
Três ou quatro dias depois, em nova conversa, o advogado disse que Riva, que disse: “Eu pago, mas quero 50% de volta para a Casa”.
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