CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO
O cabo da Polícia Militar Gerson Correa - réu confesso no caso das interceptações ilegais realizadas em Mato Grosso - admitiu ter descumprido medida cautelar e ido à casa noturna Malcom Pub, em Cuiabá, na madrugada do dia 30 de agosto.
Em setembro, o Ministério Publico Estadual encaminhou ao juiz Murilo Mesquita, da 11ª Vara Militar do Fórum de Cuiabá, a denúncia informando da saída. O descumprimento de medida cautelar pode levá-lo de volta à prisão.
A defesa do cabo, feita pelo advogado Neyman Monteiro, chegou a negar o fato. No entanto, após o representante da casa noturna apresentar à Justiça uma ficha cadastral de clientes que entraram no ambiente com arma de fogo, o militar admitiu a saída.
“Sem delongas e outras justificativas, o acusado confirma que esteve no local naquela data e no horário descrito, em companhia do casal de amigos que o acompanhou”, diz trecho do documento apresentado ao juiz no dia 9 de outubro.
Esse episódio, infelizmente, instigou o deslocamento imediato, impensado e desastroso do acusado Cb. Gerson em companhia de um casal de amigos da família
Conforme alegou a defesa, o cabo se deslocou de sua residência – em Várzea Grande – até a casa noturna após um desentendimento com a mulher.
“Esse episódio, infelizmente, instigou o deslocamento imediato, impensado e desastroso do acusado Cb. Gerson em companhia de um casal de amigos da família até o local para acalmar os ânimos da esposa, remover as ideias despontadas e buscá-la daquele ambiente, a todo custo. E isso de fato aconteceu”, disse a defesa.
Conforme o advogado, a mulher de Gerson estava com os “nervos à flor da pele” e saiu de casa rumo ao pub sem nenhum documento e dinheiro. O documento, no entanto, não detalha os motivos da briga do casal.
Conforme registros da boate, o cabo passou cerca de uma hora no local, entre 1h49 e 2h52 do dia 30 de agosto.
Mesmo admitindo o descumprimento da cautelar, a defesa pede que ele não seja preso, visto que teria agido com passionalidade.
“A defesa requer que seja mantida a liberdade ao acusado pelos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, e se necessário, a critério do julgador”.
O advogado pede ainda uma audiência de justificação com Gerson e testemunhas – como mulher e amigos - para sanar as dúvidas referentes ao caso.
Violação da tornozeleira
Na petição do MPE, ainda constava que, além de ir à boate, o réu violou a tornozeleira eletrônica, equipamento que faz uso desde que deixou a prisão, em março deste ano.
A defesa alega que o equipamento apresentou falha mecânica no carregador do equipamento. Este, segundo ele, comprovado junto a central de monitoramento.
"Não há de se falar em premeditação do fatos, ou que o acusado já havia planejado ou arquitetado uma briga familiar para sair pela noite. É claro que isso não aconteceu. Alias, problemas que já incidiam na tornozeleira foram agravados entre os dias 29 de agosto e 31 de agosto, e que desabrochou na troca total da tornozeleira, como já exaustivamente explanado em manifestação anterior”, consta na argumentação.
"Grampolândia pantaneira"
O caso dos grampos veio a público em maio do ano passado.
Além do cabo, também são réus do esquema o ex-comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa; os coronéis Evandro Alexandre Lesco e Ronelson Barros, ex-chefe e ex-adjunto da Casa Militar, respectivamente e o coronel Januário Batista.
Os grampos clandestinos militares tinha a finalidade de espionagem política, escuta de advogados no exercício de sua função, jornalistas, desembargadores, deputados e médicos. E, nesse contexto, estima-se que foram grampeados ilegalmente entre 80 e 1000 terminais.
Gérson foi o único a confessar o crime. Ele afirmou que chegou a operar as escutas ilegais dentro do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE), local onde atuava.
“Nesse período, eu estava lotado no Gaeco, fazia dupla jornada. Com o surgimento da plataforma Sentinela, facilitou muito o trabalho porque o acompanhamento era operado pela web. Então, eu realizava algumas escutas na sede do Gaeco mesmo”, afirmou.
Segundo Gerson Correa, foi o cabo PM Euclides Luiz Torezan, também envolvido na trama, quem instalou o sistema em seu computador no Gaeco, para que ele pudesse ouvir os grampos dentro da instituição.
Do Gaeco, Gerson passou a operar os grampos de uma sala comercial, localizada na Rua Desembargador Ferreira Mendes, nº 235, na região central de Cuiabá. Lá, ele teve ajuda de outros quatros militares.
As interceptações, segundo ele, só foram interrompidas após o promotor de Justiça Mauro Zaque – que descobriu o esquema - interrogar os coronéis Zaqueu Barbosa e Airton Siqueira sobre o caso.
O promotor de justiça Allan Sidney do Ó Souza apresentou recentemente as alegações finais do processo relacionado ao caso dos grampos e, entre os requerimentos, pediu a condenação do cabo Gerson e dos coronéis da PM Zaqueu Barbosa e Evandro Lesco.
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