LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Os empresários Willians Paulo Mischur e Julio Minoru Tisuji afirmaram que o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) retirou o ex-secretário de Estado de Administração (SAD) Cézar Zílio da função de “fiscal de propinas”, trocando-o pelo ex-secretário Pedro Elias, em razão da suposta “desonestidade” de Zílio nos repasses dos valores movimentados no esquema.
Cézar Zílio assumiu a SAD no final de 2010 e foi substituído por Pedro Elias no início de 2014.
As declarações dos empresários foram prestadas à Polícia Civil e utilizadas pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, para decretar a prisão de Silval Barbosa e Pedro Elias, no último dia 22, na Operação Sodoma 3.
Além deles, também foi preso o ex-secretário adjunto de Administração, coronel José Jesus Nunes Cordeiro, e o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Cezar Correa Araújo.
Mischur e Tisuji são donos das empresas Consignum e Webtech, respectivamente, e foram alvos da 2ª fase da Sodoma. Ambos confessaram que pagaram propina aos integrantes do alegado esquema, no intuito de manter os contratos que possuíam com o Estado.
Segundo o depoimento do empresário Julio Tisuji, que relatou ter feito pagamentos de propina a ambos os ex-secretários, o próprio Pedro Elias teria afirmado que havia sido designado para receber a propina até então repassada pelo empresário a Cézar Zílio, “ou seja, na quantia de 20% do valor dos seus lucros”.
A substituição do intermediário dos repasses teria sido motivada pela possível "desonestidade" de Zílio no que tange à distribuição combinada dos valores de propinas.
“Se recorda de ter ouvido nos corredores da SAD que Cezar Zilio tinha saído de lá e Pedro Elias assumido o lugar em razão de Cezar Zilio não estar sendo honesto com o seu grupo, de não estar repassando todo o dinheiro que angariava a título de recebimento de propinas para dividir entre os demais participantes de seu grupo”, diz trecho do depoimento.
A versão de Tisuji também foi corroborada pelo empresário Willians Mischur. À Polícia, Mischur contou que houve uma reunião entre ele, Pedro Elias e Silval Barbosa no apartamento do ex-governador, situado no bairro Jardim das Américas, na Capital.
Nessa reunião, Silval teria deixado claro a Mischur que a propina mensal de R$ 500 mil deveria ser entregue pelo empresário a Pedro Elias, e não mais a Cézar Zilio.
A razão da troca, segundo teria dito o ex-governador ao empresário, foi a suposta “deslealdade” de Zílio nos repasses dos valores.
“Que o declarante percebeu que nessa época Pedro Elias era a pessoas usada por Silval para acompanhar e fiscalizar se as propinas estavam sendo repassadas da forma correta, era o ‘fiscal das propinas’”, disse Mischur.
Evidências embasam prisão
Para a juíza Selma Arruda, o fato de o pagamento de propinas ter, em tese, continuado a ocorrer mesmo após a troca de secretários “indica claramente que o destinatário principal era o membro que permaneceu todo o tempo na chefia da organização, ou seja, Silval da Cunha Barbosa”.
“As informações vindas neste momento da investigação são conta, pois, da existência de fortíssimos indícios da efetiva participação de Silval da Cunha Barbosa nos crimes em apuração”, disse a magistrada
Cézar Zílio foi preso na Operação Sodoma 2, mas liberado após propor um acordo de delação premiada com o Ministério Público. Ele se comprometeu a trazer documentos que provariam pelo menos 11 casos de corrupção ocorridos na gestão de Silval.
Acusações
Silval Barbosa foi alvo de outros dois mandados de prisão, na primeira fase da Operação Sodoma e na Operação Seven, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), mas já conseguiu revogar ambas as prisões por meio de habeas corpus.
No caso da Sodoma 1, o ex-governador é acusado de liderar um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, que teria lucrado R$ 2,6 milhões, entre 2013 e 2014, por meio de cobrança de propina para a concessão de incentivos fiscais pelo Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso).
Já na Operação Seven, ele é acusado pelos crimes de peculato, por integrar organização criminosa e ordenar despesa não autorizada por lei, por liderar suposto esquema que teria desviado R$ 7 milhões dos cofres do Estado, em 2014, por meio da compra de uma área de 721 hectares na região do Manso, que já pertencia ao poder público
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