THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO
O advogado Bruno Alegria, que faz a defesa do médico Rodrigo Barbosa, filho do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), afirmou que ficou surpreso com a declaração da delegada Alexandra Fachone de que o seu cliente trocava cheques a título de propina em uma factoring.
As revelações da delegada foram feitas durante depoimento na ação penal derivada da 2ª e 3ª fase da operação, dado na segunda-feira, no Fórum de Cuiabá. Ela foi arrolada como testemunha pela defesa do médico.
“Ela [delegada] citou um fato que não existe no processo. No processo não tem absolutamente nada sobre isso, foi uma surpresa até para mim”, afirmou Alegria.“Se realmente o que a delegada disse é verdade, que o Pedro Elias [ex-secretário de Administração e réu confesso do esquema] afirmou isso para ela, será que ele está escondendo algum argumento na delação premiada que fez?”, completou.
No depoimento, Alexandra Fachone afirmou que Rodrigo Barbosa colocou Pedro Elias dentro do Governo para angariar empresários dispostos a pagar propina em troca de concessão e/ou manutenção de contratos.
A delegada disse que o depoimento de Pedro Elias também evidenciou que os cheques de propina recebidos por Rodrigo Barbosa teriam sido trocados em uma factoring, em um total de R$ 433 mil. O filho do ex-governador chegou a ser preso durante a operação, mas foi solto no dia 1º de junho, após pagar fiança de R$ 528 mil.
"Com certeza ele fez isso. Esse é o modus operandi. Segundo o Pedro Elias, ele [Rodrigo] trocava esse dinheiro numa factoring do Jurandir [da Silva Vieira], dono da Solução Cosméticos".

Ela [delegada] citou um fato que não existe no processo. No processo não tem absolutamente nada sobre isso, foi uma surpresa até para mim
Sem provas
Para o advogado do médico, porém, não existem provas que possam confirmar as declarações de Pedro Elias.
“A delegada deixou claro que todo esse processo é pautado na conversa de réus corruptos confessos que acabaram direcionaram para outras pessoas também, em alguns casos existem provas, mas os casos que realmente interessa a gente saber, aí o dinheiro não dá para rastrear".
Bruno Alegria também colocou em xeque a imputação de que Rodrigo Barbosa teria sido o responsável pelo sumiço de documentos do apartamento de Pedro Elias. “Até agora nós não temos uma resposta, uma fotografia desse armário invadido.
Não é possível que uma perícia demore tanto, pelo menos para dizer se tem uma impressão digital. E outra: os documentos eram sobre o Pedro Elias, não dizem nada sobre o Rodrigo, então porque ele faria alguma coisa?”, questionou.
Cira
O advogado também contestou a função do Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos (Cira) nas investigações da Sodoma.
“Não conheço como funciona esse órgão, qual é a atuação dele, não ouvimos falar até agora que o Cira atuou em outras investigações fora do contexto de Silval Barbosa. Por exemplo, a Operação Rêmora da Seduc, não entendo o porque de o Cira não estar participando”, afirmou.
Na audiência de ontem, o delegado Márcio Vera, que faz parte do Cira, alegou que o órgão faz parte da Delegacia Fazendária (Defaz). “A gente quer conhecer mais sobre esse órgão, saber qual é a sua função, assim como a gente conhece a função do Gaeco do Ministério Público, do GCCO da Polícia Civil,”, rebateu Alegria.
“Porque até agora não foi apresentado um relatório do que o Cira fez. Veja, é um o órgão que foi criado lá em fevereiro de 2015, já tem mais de um ano e meio e a gente não sabe de nada”, completou.
Questionado se acredita que o Cira foi criado para cunho político contra o ex-governador, o advogado preferiu não se posicionar. “Eu acho que é muito difícil falar sobre isso, porque eu, enquanto defesa, procuro trabalhar com fatos, com coisas concretas. Aliás, é isso que eu tenho combatido dentro do processo, tirar o diz-que-me-diz, a conversa, e foi por isso que eu pedi para que os delegados viessem. Eu prefiro acreditar que não seja isso, prefiro acreditar que as intenções são boas, mas que elas sejam feitas dentro da legalidade”, pontuou.
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