VINÍCIUS LEMOS
DA REDAÇÃO
A delegada Alessandra Saturnino revelou que a também delegada Alana Cardoso ligou para ela "ofegante e chorando de raiva" após prestar depoimento ao então secretário de Estado de Segurança Pública, Rogers Jarbas, e ao atual, Gustavo Garcia.
Alana foi a responsável por conduzir a Operação Forti, no início de 2015, na qual foram encontradas interceptações telefônicas ilegais para grampear Tatiana Sangalli Padilha, ex-amante do ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques, e a ex-assessora dele, Caroline Mariano dos Santos.
Em 26 de maio, Alana prestou depoimento sobre as supostas interceptações ilegais. Nas declarações, feitas ao então secretário de Estado de Segurança Pública, ela comentou sobre a operação.
Na data do depoimento, pouco após prestar o depoimento, Alana ligou para a delegada Alessandra Saturnino. Em cinco de setembro, Alessandra prestou depoimento aos delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Stringueta – até então responsáveis pelas investigações referentes aos grampos clandestinos, já que o Superior Tribunal de Justiça avocou os procedimentos – e revelou que a colega estava desesperada ao telefone.
"A declarante recebeu um telefonema da Delegada de Polícia Civil Alana Darlene, a qual relatava que estava saindo da Sesp naquele momento, e que havia vivido uma situação ‘surreal’”, narrou.
Conforme Alessandra, Alana detalhou que foi convocada por Jarbas para prestar o depoimento poucas horas após as supostas interceptações ilegais serem reveladas.
A declarante recebeu um telefonema da Delegada de Polícia Civil Alana Darlene, a qual relatava que estava saindo da Sesp naquele moment
“Alessandra percebeu, ao falar com a delegada Alana ao telefone, que ela estava com a voz arfando muito, muito nervosa. Alana relatou que Rogers havia determinado sua ida até a secretaria e lá teria a questionado sobre a Operação Forti”.
“Alana relatou que Rogers dizia que a operação Forti teria sido ilegal, sendo que Alana informou ter rebatido tal informação, inclusive explicado a natureza da operação. Alana relatava, ofegante, que Rogers repetia o tempo todo que a operação era ilegal e que teria inclusive recebido ofício do governador, enviado pela doutora Selma Arruda, relatando tal fato”, acrescentou.
Segundo Alessandra, Alana relatou que Rogers disse que tinha sido designado pelo governador Pedro Taques para apurar os fatos referentes à Forti.
“[Rogers] inclusive teria mostrado um despacho assinado pelo governador, porém Rogers não teria dado permissão a Alana para ler o citado despacho”.
A Forti tinha como objetivo investigar uma organização criminosa no Estado. O procedimento era chefiado pela delegada Alana Cardoso, que contava com o apoio de Alessandra Saturnino, então secretária-adjunta de Inteligência da Sesp.
Alessandra Saturnino ocupou o cargo de adjunta de inteligência na secretaria durante o período de janeiro de 2015 a março de 2016.
Questionamentos de Rogers
Conforme Alessandra Saturnino, Alana lhe disse que Rogers teria feito diversas perguntas sobre a conduta do promotor de Justiça Mauro Zaque – responsável por encaminhar a denúncia sobre o esquema de grampos ilegais à Procuradoria-Geral da República –, no período em que esteve à frente da Sesp.
Rogers também teria questionado Alana sobre a condutada da delegada Alessandra.
“A declarante perguntou à delegada Alana. ‘Se ele queria saber da Sesp na época do dr. Mauro, ou sobre o dr. Mauro, ou sobre mim, por que ele não me chamou ou não tratou diretamente do assunto com o dr. Mauro Zaque?’ Alana respondeu que fez a mesma indagação ao secretário Rogers, do por que não ter convocado a declarante (Alessandra), em vez de convocar ela. Em resposta, Rogers teria dito que 'com Alessandra não tem conversa'", detalhou trecho do depoimento.
Ainda de acordo com Alessandra, Alana disse que Rogers repetiu diversas vezes que a Operação Forti era ilegal. A delegada teria chegado a dizer ao então secretário que foi instaurada a Operação Querubin, para apurar separadamente uma ameaça ao governador Pedro Taques. Rogers também teria dito que este segundo procedimento era ilegal.
"Rogers também teria indagado sobre a conduta do delegado Flávio Stringueta, que presidiu o inquérito da Operação Querubim, na Gerência de Combate ao Crime Organizado - GCCO".
Rogers teria dito que 'com Alessandra não tem conversa'
Indignação
No depoimento, Alessandra frisou que a todo momento Alana repetia, durante a ligação, com indignação: "Alessandra, eu não acredito que estão querendo transformar a Forti em uma operação ilegal, eu não acredito".
"A delegada Alana, durante o diálogo, várias vezes repetiu a frase 'eu não acredito nisso'. Em dado momento, a expressão arfante passou a ser de choro, de uma profunda indignação diante de tudo aquilo", narrou.
Alana disse a Alessandra que perguntou a Rogers sobre qual procedimento seria referente à oitiva que ela estava concedendo.
"Rogers teria dito que não tinha não tinha procedimento instaurado. Alana relatou que pediu para ser ouvida então, já que o secretário Rogers queria pôr a termo as declarações, que isso fosse feito por um corregedor, inclusive poderia ser aquele que estava na própria Sesp, sendo que o secretário teria dito que ele mesmo iria fazer ali".
Durante a ligação, Alana disse a Alessandra que iria à Diretoria Geral da Polícia Civil, naquele momento, falar com o delegado geral sobre o fato de ter sido inquirida sem ter sido convocada de modo regular.
A delegada Alessandra contou que ao perceber que Alana estava abalada, chegou a pedir para que elas se encontrassem para conversar, "pois o deslocamento dela, naquele horário de pico de trânsito, no estado emocional em que ela estava, preocupou muito a declarante".
O encontro não ocorreu na data, pois Alana disse que precisava conversar imediatamente com o delegado-geral da Polícia Civil, Fernando Vasco, e que depois as duas conversariam novamente.
"Cerca de uma hora depois, a declarante tentou fazer novo contato com a delegada Alana, sendo que ela respondeu que estava conversando com o delegado-geral".
Detalhes sobre a oitiva
Conforme o depoimento de Alessandra, as duas somente teriam se falado novamente dias depois, no fim de semana. Na conversa, Alana relatou, de modo mais detalhado, sobre o episódio envolvendo Rogers Jarbas.
A delegada relatou que durante um tempo, o secretário Rogers falava de forma pausada, fazendo elogios a Alana
"Alana relatou que encontrou o secretário-adjunto de Inteligência, Gustavo Garcia [atual chefe da Sesp] na antesala de Rogers, antes de chegar à sala deste. O secretário-adjunto entrou na sala, teria conversado alguns minutos com o então secretário e em seguida chamou Alana para conversar".
"A delegada relatou que durante um tempo, o secretário Rogers falava de forma pausada, fazendo elogios a Alana, e afirmando que a Operação Forti era ilegal, porém a delegada teria atuado daquela forma por ‘inexigibilidade de conduta diversa’, pois Rogers teria dito que de fato teria existido ameaça contra o governador".
Conforme Alessandra, Alana relatou que Rogers e Gustavo foram com ela até a sala da Secretaria-Adjunta de Inteligência.
"Até aquele momento, ela imaginava que o relato feito por ela, demonstrando a legalidade da Operação Forti, teria sido entendido pelo secretário Rogers. Ela relatou que Rogers saiu da sala, ficando apenas ela e o secretário Gustavo, sendo que eles teriam dito a ela para que fizesse a redação dos fatos".
A delegada Alessandra Saturnino disse que Alana comentou que chegou a digitar as declarações sobre a Operação Forti no computador da sala da Secretaria-Adjunta de Inteligência. Posteriormente, Rogers teria retornado, lido o texto e dito: "Não, mas não é nada disso".
"Alana relatou que neste momento Rogers ficou mais exaltado, teria sentado no computador e passado a redigir o texto, alterando o que havia sido escrito pela delegada. Alana relatou que Rogers teria passado a indagá-la sobre dr. Mauro Zaque", disse.
Alana teria relatado à colega que nenhum dos questionamentos do então secretário sobre Mauro Zaque foi mencionado no texto que ele estava redigindo sobre a Forti.
"Ela indagou o secretário Rogers sobre isso, sendo que o referido secretário então consignou algumas perguntas ao final do texto que ela havia redigido".
Posteriormente, Alana detalhou que a oitiva foi encerrada e comentou que estava em choque enquanto saía da sala da Sesp. A delegada disse que Rogers chegou a abraçá-la, pouco antes de ela ir embora.
Dias depois do interrogatório, Alana disse que o então secretário de Segurança Pública não a procurou mais.
Retaliações
Em seu depoimento, Alessandra Saturnino afirmou que passou a sofrer diversos ataques desde que o depoimento veio à tona e foi noticiado que ela teria solicitado as interceptações a mando de Paulo Taques. Ela também pontuou que os delegados Alana e Flávio Stringueta também passaram a ser alvos de críticas.
MidiaNews
Delegada Alana Cardoso foi interrogada por Jarbas em maio
"Em relação a esses ataques, a declarante desconhece qualquer atuação do sindicato dos delegados de Polícia, cujo presidente é o doutor Wagner Bassi, em enviar nota de apoio à imprensa. A atitude ocorrida em relação ao sindicato foi uma convocação motivada pelo delegado de polícia, e atualmente vereador, Marcos Veloso, que provocou o sindicato, uma vez que não somente a atuação de três delegados de polícia, mas também o nome da instituição estavam sendo atacados".
Ela ainda negou que tenha havido qualquer ilegalidade durante a gestão do promotor Mauro Zaque na Sesp.
"O ofício 1183/2017/GAB/SESP, datado de 31/05/2017, leva o leitor a acreditar que ocorrera ilegalidade na gestão do secretário Mauro Zaque, inclusive que a declarante teria praticado ilegalidades, as quais estariam comprovadas por documentos juntados em citado ofício, quando na verdade tais documentos juntados comprovam a legalidade e formalidade de tudo que ocorrera na Operação Forti, inclusive constante em arquivo específico, com toda a documentação formalmente exigida para a ação", narrou.
Os delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Stringueta questionaram se Alessandra havia sofrido algum tipo de represália por parte de Rogers Jarbas.
"A própria resposta dele dada à Dra. Alana demonstra atitude hostil dele comigo, quando perguntado do porque eu não ter sido chamada à secretaria para que ele me fizesse os questionamentos que ele estava fazendo a ela, sobre minha pessoa", respondeu.
A delegada ainda levantou suspeitas sobre o fato de ter sido retirada da Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz).
"Até hoje a declarante não entendeu o motivo de ter sido tirada da Defaz, uma vez que após deixar a Sesp, foi lotada em citada unidade, e em pouco mais de três meses foi tirada da referida delegacia por ordem do secretário de segurança, Rogers Jarbas, de forma repentina e sem nenhuma justificativa", afirmou trecho do depoimento.
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