ANGELA JORDÃO
DA REDAÇÃO
O assassinato da adolescente Emelly Azevedo Sena – que estava grávida e teve seu bebê arrancado do corpo – é o mais recente e triste exemplo de violência contra a mulher no Brasil. O caso chocou todo país e especialmente Mato Grosso.
Para a representante do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher e procuradora do Estado, Glaucia Amaral, o crime contra Emilly é o ápice da objetivação do corpo da mulher. “A objetivação do corpo da mulher é um pensamento machista, que a coloca nesse papel de objeto, uma das raízes do feminicídio. Então, a forma como a Emilly foi tratada é o ápice da objetificação do corpo feminino”, completa Glaucia.
Glaucia destaca que o assassinato da adolescente mostra que, mais uma vez, o corpo da mulher foi tratado com menos valor. “Um crime cruel e muito triste. Nós do Conselho ficamos consternadas. Testemunhamos, novamente, o corpo e a vida de uma mulher ser tratado com menos valor. É preciso mudar essa forma de encarar a mulher. Aguardamos punição, que é o que podemos fazer por essa menina, que era uma boa filha, boa aluna, uma jovem que tinha toda a vida pela frente”.
Dados levantados pelo Judiciário mostram que a violência contra a mulher continua crescente. Em Mato Grosso, somente em 2025, já foram concedidas 332 medidas protetivas para mulheres vítimas de violência. Os números constam do novo Painel Violência Contra a Mulher, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), lançado no dia 11 de março, em alusão ao Dia Internacional da Mulher (08 de março).
O Painel também aponta que este ano já foram registrados 2.095 casos de violência doméstica no estado.
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) aponta que o estado enfrenta um cenário preocupante em relação à violência contra a mulher. Em 2024, o estado registrou 99 mortes de mulheres por violência, sendo 47 feminicídios e 52 homicídios dolosos.
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Das vítimas de feminicídio, 41 eram mães e deixaram 83 crianças órfãs. Somente nos dois primeiros meses de 2025 já foram registradas 16 mortes violentas, destas, seis feminicídios. A estatística se torna ainda mais grave quando considerados os crimes que lideram as ocorrências contra mulheres no estado: ameaças, lesões corporais e injúrias.
Para tentar combater essa realidade, o TJMT, por meio da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cemulher-MT), está instalando Redes de Proteção às Mulheres Vítimas de Violência Doméstica em todo o estado.
As Redes envolvem a participação de vários órgãos federais, estaduais e municipais e exige a adesão e participação das prefeituras, e atua em três níveis: prevenção, atuação em situações de risco e atendimento às vítimas. O objetivo é chegar a instalação das Redes em 50 municípios até o fim do mês de março.
Já o presidente do CNJ, ministro Luís Roberto Barroso, declarou que a criação do Painel Violência Contra a Mulher foi uma necessidade diante do aumento dos casos de violência contra as mulheres no Brasil. “Esse número cresce a cada ano, o que revela a procura pelo Sistema de Justiça para proteção das mulheres. Nesse contexto, o desenvolvimento do painel se revela de grande importância, a fim de que possamos promover políticas públicas para garantir os direitos fundamentais das mulheres brasileiras”, avaliou.
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