ORLANDO MORAIS JR.
DA REDAÇÃO
Investigações da Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a Administração Pública (Defaz-MT), a partir da quebra do sigilo bancário de Marnie de Almeida Cláudio, esposa do ex-secretário Marcel de Cursi, mostram que uma empresa aberta no nome dela (a M de A Claúdio EPP) recebeu 503 cheques do Posto Siloeiro Ltda., pertencentes ao Grupo Martell, do empresário Geni Martelli. O valor total chega a R$ 2,4 milhões.
O empresário está envolvido na Operação Ararath, da Polícia Federal, pela suspeita de lavagem de dinheiro. Marcel de Cursi está preso no Centro de Custódia da Capital desde setembro de 2015, sob a acusação de integrar suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.
A suspeita é de que os cheques sejam um “pagamento” da empresa em troca de benefício concedido pelo Governo do Estado na época em que Marcel de Cursi era secretário de Fazenda.
“Em relação ao recebimento dos cheques, foi possível efetuar uma correspondência entre estes com o decreto de nº 924/2011 e 1.642/2013, que alteraram o decreto nº 2.683/2010, responsável por permitir que o segmento das transportadoras do Estado de Mato Grosso conforme o caput do artigo 2º (decreto 2.683/2010), poderiam aproveitar em sua conta gráfica o valor nominal do crédito do imposto retido na aquisição de óleo diesel”, diz trecho do inquérito.
Em março, o MidiaNews publicou matéria mostrando que, ao todo, a empresa de Marnie movimentou mais de R$ 6,8 milhões entre os anos 2012 e 2015.
Marnie de Almeida já foi chamada para prestar depoimento sobre o caso – e liberada em seguida.
Segundo os investigadores da Polícia Civil, a empresa de Marnie Almeida foi aberta em 6 de julho de 2012, dois dias após a nomeação de Marcel de Cursi como secretário de Estado de Fazenda pelo então governador Silval Barbosa (PMDB) – e não possuiria fornecedores, funcionários e tampouco clientes.
Nos primeiros seis meses, a empresa já recebeu depósitos que somam R$ 1,75 milhão – mas nesse período não teria gastado um centavo “com funcionários, fornecedores, impostos ou qualquer outro tipo de custo que uma empresa com esse faturamento possuiria”, diz o relatório de investigação.
Entre 2012 e 2014, a empresa recebeu, em contas abertas no Bradesco, Banco do Brasil, Caixa, Itaú e HSBC, centenas de depósitos que somam R$ 3,53 milhões.
Além dos R$ 1,75 milhão em 2012, Marnie recebeu R$ 1,59 milhão em 2013 - e R$ 188 mil em 2014. Nos dois primeiros anos os recebimentos vieram na forma de 503 cheques.
Já os débitos, num total de R$ 3,34 milhões, foram feitos através de 273 saques (totalizando R$ 364,4 mil) e 507 cheques, cujos maiores beneficiários seriam André Luís Marques de Souza, Domingos Orlando, MD Engenharia e Construções Ltda., Evillyn Thuany Alves dos Santos Arruda, Gonçalo de Souza e Marques de Souza Ltda., STM Construção e Incorporação Ltda. e Yasmim Jamil Nadaf, irmã do ex-secretário Pedro Nadaf, também preso na Operação Sodoma.
Outra curiosidade, segundo o relatório da Defaz: a esposa de Cursi, Marnie de Almeida, consta como única sócia da empresa, mas, segundo o Cadastro de Informações Sociais (CNIS), Marnie está registrada, desde janeiro de 2010, como funcionária da mineradora canadense Lago Dourado Mineração Ltda, que tem área de exploração em Mato Grosso.
Mas no dia em que policiais executaram o mandado judicial de busca e apreensão na casa de Marnie e Marcel de Cursi, nada, nenhum papel ou arquivo de computador, foi encontrado na residência do casal que fizesse referência à empresa.
Além de checar as contas da empresa, os policiais do Núcleo de Inteligência também fizeram diligências na sua sede, cujo endereço está registrado como sendo na Rua Buenos Aires, número 552, Edifício Acaiaca, apartamento 301, bairro Jardim das Américas, em Cuiabá.
Ali, foram informados de que nenhuma empresa funciona no edifício de seis andares, que é exclusivamente residencial. E que no apartamento 301 mora a dona Zilda de Almeida Cláudio, mãe de Marnie.
Na decisão que determinou novamente as prisões de Marcel de Cursi e Pedro Nadaf, além do ex-secretário de Administração Cézar Zílio, a juíza Selma dos Santos Arruda afirma que cheques que saíram da empresa de Marnie podem ter sido usados para pagar um terreno adquirido na Avenida Beira Rio, em Cuiabá.
A transação foi alvo de investigação e culminou na Operação Sodoma 2, deflagrada na sexta-feira (11), uma vez que o dinheiro utilizado é supostamente “propina” que fornecedores do Governo do Estado, na gestão de Silval Barbosa, estariam “devolvendo” aos então secretários.
“Mais especificamente em relação a Marcel de Souza de Cursi, constatou a autoridade policial a provável ocultação de capitais sob a maquiagem de uma empresa de fachada registrada em nome de sua esposa. A movimentação financeira atípica por parte de Marcel de Cursi teria ocorrido por intermédio de uma empresa aparentemente de fachada, de propriedade de sua esposa”, escreve a juíza Selma Arruda.
“Sem nenhum funcionário e sem registrar qualquer atividade lícita, com o capital social de R$ 15 mil, durante os anos de 2012 a 2014, movimentou em todas as suas contas bancárias o montante de R$ 3,53 milhões. Interessante frisar que ao longo do ano de 2013, foram realizadas 70 operações de saque no valor total de R$ 46.948,39, em coincidência com os diversos pagamentos realizados de forma fracionada para a aquisição do imóvel em questão”, diz a juíza, em sua decisão datada do último dia 26 de fevereiro.
Outro lado
O advogado Roberto Tardelli, que defende a família do ex-secretário Marcel de Cursi, afirmou por telefone que desconhece o relatório elaborado pela Defaz, mas que Marnie de Almeida “está tranquila, porque sempre trabalhou e sempre teve rendimentos sem ligação com as funções exercidas pelo marido”.
“Veja bem: ela tem expertise no segmento de exploração de jazidas minerais e abriu a empresa para prestar consultoria nessa área. Ela vende o talento dela, presta serviços, daí porque não precisa de funcionários e nem de escritório. E se você calcular bem, movimentar seis milhões de reais em três anos significa que foram dois milhões por ano, o que nem é tanto assim”, disse Tardelli. “Não há prática criminosa alguma”.
O advogado não soube dizer para quais empresas sua cliente prestava serviços, mas atacou o que chamou de “discurso ideológico” dos relatórios da Defaz.
“O que a Defaz está fazendo é de uma mediocridade sem fim. São só insinuações malévolas para difamar a imagem de pessoas de bem”.
Quer receber notícias no seu celular? Participe do nosso grupo do WhatsApp clicando aqui .
Tem alguma denúncia para ser feita? Salve o número e entre em contato com o canal de denúncias do Midiajur pelo WhatsApp: (65) 993414107. A reportagem garante o sigilo da fonte.