LUCAS RODRIGUES E AIRTON MARQUES
DA REDAÇÃO
O empresário João Batista Rosa relatou que recebeu uma ameaça de morte após a Delegacia Fazendária, com base em sua delação ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), ter deflagrado a Operação Sodoma, em setembro do ano passado.
A declaração foi dada na manhã desta sexta-feira (29), durante audiência da ação penal derivada da operação, que apura suposto esquema que teria lucrado R$ 2,8 milhões por meio de cobrança de propina para a concessão de incentivos fiscais pelo Prodeic (Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso).
A Sodoma resultou na prisão do ex-governador Silval Barbosa e dos ex-secretários de Estado Pedro Nadaf (Indústria e Comércio e Casa Civil) e Marcel de Cursi (Fazenda).
Durante seu depoimento, João Batista Rosa – que teve o acordo de delação anulado após a juíza Selma Arruda lhe colocar na condição de vítima, e não de coautor – contou que sua secretária pessoal recebeu uma ligação anônima pouco depois das prisões efetuadas pelo Gaeco.
O autor da ligação, de acordo com o relato, teria dito a seguinte frase para sua secretária: “A viúva do senhor João Rosa está?”.
O empresário depôs que, após o telefonema, passou a temer pela sua integridade física e, em razão disso, contratou segurança particular e avalia até mesmo mudar de residência.
O fato levou João Batista a solicitar quebra de sigilo telefônico para descobrir de onde e por quem foi feita a ligação.
"Arrependido"
À juíza Selma Arruda, João Batista confirmou os fatos que já havia declarado em sua delação, como o funcionamento do suposto esquema e as intimidações que teria recebido de Nadaf e Marcel de Cursi para continuar pagando propina.
Ele também acrescentou que, após ter feito a delação ao Ministério Público Estadual (MPE), foi procurado pelo diretor da City Lar, Florindo José Gonçalves, para tentar marcar uma reunião com Pedro Nadaf.
Na ocasião, Florindo Gonçalves teria questionado João Batista sobre os boatos da delação ao MPE, mas o empresário disse que negou os fatos e não marcou a reunião.
João Batista ainda relatou que se sentiu pressionado a pagar os R$ 2 milhões em propina ao grupo político de Silval Barbosa para ter suas empresas enquadradas no Prodeic. Porém, ele disse estar "arrependido" de ter se submetido à alegada extorsão.
"Pedro [Nadaf] me disse que eles estavam me ajudando, concedendo o incentivo, e que eu também deveria ajudá-los", disse João Batista.
A denúncia
Além de Silval, Nadaf e Cursi, também são réus da ação penal: Francisco Andrade de Lima Filho, o Chico Lima, procurador aposentado do Estado; Sílvio Cézar Corrêa Araújo, ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa; e Karla Cecília de Oliveira Cintra, ex-secretária de Nadaf na Fecomércio.
Ao receber a denúncia, a juíza Selma Arruda a relatou que, segundo o MPE, o empresário João Batista Rosa foi obrigado a abrir mão de um crédito de R$ 2 milhões que suas empresas tinham direito, para poder incluir as mesmas no Prodeic, programa que concede benefícios fiscais.
Após, ele teve que pagar propinas mensais ao grupo comandado por Silval, Nadaf e Cursi porque, segundo ele, percebeu “que havia caído em uma armadilha ao abrir mão do crédito de ICMS, eis que tal renúncia é irretratável”.
Os pagamentos totais das propinas, conforme a denúncia, chegaram a R$ 2,5 milhões e teriam sido exigidos por Pedro Nadaf a mando de Silval Barbosa, no intuito de saldar dívidas de campanha do ex-governador.
Selma Arruda ainda destacou a participação da ex-secretária da Fecomercio, Karla Cintra, acusada de ter se prestado a receber os valores pagos a título de propina, por meio de empresa a qual era sócia, a mando de Nadaf.
Já o ex-procurador Chico Lima foi descrito pela magistrada como o integrante que tinha o papel de promover a lavagem de dinheiro, por ordem de Silval Barbosa, junto a uma empresa de factoring.
“Francisco, a mando de Silval e em comunhão de ações com os demais, teria efetuado pessoalmente as trocas dos primeiros cheques recebidos pela organização na factoring referida (FMC), no total de R$ 499,9 mil, dividida em 6 cheques de valores iguais”, narrou.
O ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa, Silvio Araújo, também passou a ser réu em razão de supostamente ter recebido R$ 25 mil do dinheiro da propina, o que, em tese, configura lavagem de dinheiro.
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