LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
A ex-secretária do advogado Antonio Eduardo da Costa e Silva, Rebeca Maria de Sousa Arruda, afirmou que os 407 cheques emitidos em sua conta pelo seu então patrão, no valor de R$ 2,2 milhões, foram sacados por ela e repassados em espécie ao advogado.
A informação consta em depoimento prestado à Delegacia Fazendária no dia 2 de março, nas investigações da Operação Bereré, deflagrada no mês passado.
A Operação Bereré, deflagrada no mês passado, apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados, em razão do contrato com o Detran-MT, retornava como propina a políticos. O dinheiro era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Antônio Eduardo é acusado pelo Ministério Público Estadual de compor o núcleo principal da organização criminosa. Ele é apontado como um dos responsáveis por lavar o dinheiro da propina.
Trabalhava com Antonio Eduardo da Costa e Silva sendo que o mesmo me pedia para sacar os valores e posteriormente eu repassava ao próprio Antonio a importância em espécie
Ele chegou a ser sócio da Santos Treinamento e, junto com seu irmão Marcelo Costa, é acusado de ser um dos intermediadores da propina destinada ao ex-deputado federal Pedro Henry.
Pedido do chefe
Na oitiva, Rebeca Arruda contou que trabalha desde 2015 como secretária do empresário Marcelo da Costa e Silva.
Antes disso, de 2010 a 2014, ela afirmou que atuava para o irmão de Marcelo, o advogado Antônio Eduardo da Costa e Silva.
Questionada sobre os 407 cheques que ela sacou e que foram emitidos por Antonio Costa, no valor de R$ 2,2 milhões, a secretária disse que o valor foi integralmente repassado de volta ao advogado.
“Do ano de 2010 até o final do ano de 2014, trabalhava com Antonio Eduardo da Costa e Silva sendo que o mesmo me pedia para sacar os valores e posteriormente eu repassava ao próprio Antonio a importância em espécie. Eu nunca somatizei o montante visto que uma de minhas funções era sacar as folhas de cheques que me eram repassadas, entregando posteriormente a quantia à Antonio, sendo que algumas vezes quando assim era determinado, realizava alguns pagamentos pertinentes aos expedientes da empresa”.
Outros 114 cheques emitidos pelo advogado em seu favor, no valor total de R$ 731 mil, foram usados para pagar contas de Antonio Costa, segundo a secretária.
“Possivelmente eram valores referentes às contas da empresa, tais como energia, conta
de água, financiamento de carro, etc [...] Além de secretária, eu realizava entrega de documento a cartórios, fazia a limpeza do local de trabalho, e efetuava alguns pagamentos referentes a empresa de Antonio, direto ao banco, sendo que tudo era pré-organizado por Antonio Eduardo da Costa e Silva”.
“Com relação a quantia de R$ 38.120,03 em minha conta bancária. por intermédio de 17 cheques emitidos por Antonio Eduardo da Costa e Silva, eu não me recorda, porém quero deixar consignado que provavelmente pode ter sido ‘saldo’ de salário ou alguma conta do escritório que necessitava de pagamento. Meu salário era de aproximadamente R$ 2 mil”.
Rebeca Arruda ainda relatou que, em algumas ocasiões, após entregar a Antonio Costa os valores que sacava, ele pedia que ela repassasse o dinheiro a Marcelo, “sendo que eu assim procedia seguindo as instruções de Antonio”.
Outro lado
A assessoria do advogado Antonio Costa afirmou que iria buscar um posicionamento dele sobre o caso. Porém, até a edição desta matéria, não houve nenhum retorno.
Veja trecho do depoimento:
A operação
A operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
São alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia". Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.
As empresas FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação Ltda (que agora usa o nome de EIG Mercados Ltda.) e a Santos Treinamento Ltda teriam sido usadas para lavar dinheiro no esquema.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
Conforme as investigações, parte dos valores milionários pagos pelo Detran à FDL eram repassados para a empresa Santos Treinamento, que seria de fachada e atuaria apenas para “lavar” e distribuir a propina aos políticos. Dezenas de servidores e parentes de servidores do Poder Legislativo também teriam sido usados para lavar o dinheiro arrecadado por meio do esquema criminoso.
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