LUCAS RODRIGUES E THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO
O ex-secretário adjunto de Administração, coronel José Jesus Nunes Cordeiro, afirmou que são falsas todas as acusações feitas contra ele na ação penal derivada da 2ª e 3ª fase da Operação Sodoma.
O coronel, que está preso no Batalhão de Operação Policiais Especiais (Bope), está sendo interrogado na tarde desta terça-feira (30), no Fórum de Cuiabá. A audiência é conduzida pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
Na ação, José Cordeiro é acusado de ser o "braço armado" e também o responsável por direcionar as licitações na secretaria, a mando da suposta organização criminosa que exigiria propina de empresários em troca da concessão e manutenção de contratos com o Estado.
"Todas as acusações contra mim são falsas, eu nunca ameacei ninguém, nunca fui na casa de Wilians [Mischur, dono da empresa Consignum]. Nunca pedi propina para ele, nunca fiz parte de nenhuma organização criminosa. Eu nunca direcionei nenhuma licitação", disse ele.
Em seu interrogatório, o coronel disse que a Consignum, responsável pelo gerenciamento dos empréstimos consignados dos servidores, não teria condições de pagar R$ 500 mil por mês, a título de propina, à suposta organização.

Todas as acusações contra mim são falsas, eu nunca ameacei ninguém, nunca fui na casa de Wilians
"Não tinha como uma empresa que não ganhava nada do Estado pagar propina. O Estado não pagava nada para empresa, então como que ela (empresa) ia pagar propina para o Governo? Eu não sabia que ela pagava propina e não recebi nada", afirmou, se referindo ao fato de que eram os bancos, e não o Estado, que faziam os repasses à Consignum.
O coronel José Jesus foi citado pelo empresário Willians Mischur, que confessou ter participado do esquema ao pagar propinas para manter os contratos da empresa com o Estado.
Mischur disse que José Jesus exigiu R$ 30 mil mensais de propina. No pedido de propina, de acordo com Mischur, José Jesus teria reclamado que não estava sendo “valorizado” pelo ex-secretário de Administração Cézar Zílio nos repasses.
José Jesus era o responsável pelas licitações na secretaria e teria chegado a afirmar a Mischur que, se Cézar Zilio não passasse a lhe “valorizar” no esquema, iria desfazer todos os contratos de Zilio na SAD, incluindo o da Consignum.
Como Mischur se negou a pagar os R$ 30 mil mensais, o coronel teria ameaçado a integridade física da família do empresário com a seguinte frase: “Nunca se sabe, às vezes um caminhão passa por cima dos seus filhos, acidentes acontecem...”. Após a ameaça, o empresário afirmou que chegou a mandar blindar os carros da sua família.
A pressão de José Jesus sobre os contratos da secretaria também foi confirmada pelo empresário Julio Minori Tsuji, da Webtech Softwares e Serviços Ltda, que igualmente confessou ter pago propina ao grupo investigado. No caso de Tsuji, no entanto, não teria ocorrido nenhuma ameaça de violência física.
Confira como foi a audiência:
"Nunca ameacei ninguém" (atualizada às 16h37)
O ex-secretário adjunto afirmou que as acusações contra ele na ação não procedem.
"Todas as acusações contra mim são falsas, eu nunca ameacei ninguém, nunca fui na casa de Wilians [Mischur, dono da Consignum]. Nunca pedi propina para ele, nunca fiz parte de nenhuma organização criminosa. Eu nunca direcionei nenhuma licitação.
"Não tinha como uma empresa que não ganhava nada do Estado pagar propina. O Estado não pagava nada para empresa, então como que ela (empresa) ia pagar propina para o Governo? Eu não sabia que ela pagava propina e não recebi nada", afirmou, se referindo ao fato de que eram os bancos, e não o Estado, que faziam os repasses à Consignum.
Relação com outros réus (atualizada às 16h46)
Na oitiva, José Cordeiro falou sobre a relação dele com os outros réus da ação penal.
"Minha relação com o Silvio Corrêa sempre foi profissional, ele era chefe de gabinete do governador. Eu não conhecia o Rodrigo Barbosa [filho de Silval], vi algumas vezes no Palácio. Tive relação somente profissional com o Pedro Nadaf e Chico Lima [procurador aposentado]. Da mesma forma com Pedro Elias e César Zílio [ex-secretários] dentro da SAD".
O coronel também negou que tenha pedido propina ao empresário Julio Tisuji, da empresa Webtech.
"Eu soube dessa questão de propina da WebTech só pela imprensa, bem depois".
Apresentação de empresas (atualizada às 16h54)
A juíza Selma Arruda disse ao ex-secretário que o José Riva disse anteriormente que apresentou várias empresas para ele, empresas que poderiam participar da licitação para gerenciar os empréstimos consignados dos servidores.
"Eu recebi só uma empresa, a Zetra. Uma vez eu fui até a Assembleia a pedido do Tiago [Dorileo] e lá encontrei ele e um proprietário da Zetra. Eu disse que o processo já estava em andamento".
Já a promotora Ana Bardusco questionou o porquê de o processo licitatório ter sido cancelado em 2013.
"O contrato com a Consignum começou no Estado em 2008. Em 2013 venceu o contrato e foi aberto um novo processo licitátorio, do qual a Consignum saiu ganhadora. A Zetra, porém, entrou com um mandado de segurança e, por uma decisão da Justiça, o processo foi cancelado".
A promotora também perguntou sobre a acusação de a Zetra ter oferecido R$ 1 milhão para vencer o certame. "Não sei de nada disso", respondeu José Cordeiro.
Esquema das gráficas (atualizada às 17h07)
O ex-secretário também foi questionado sobre o suposto esquema em que o ex-prefeito de Várzea Grande, Walace Guimarães, teria oferecido R$ 1 milhão, em 2012, ao então secretário de Administração, César Zílio, para que o poder público pagasse valores a gráficas – por serviços inexistentes ou incompletos - no intuito de levantar dinheiro para pagar custos de campanha.
"Eu fiz a adesão a pedido do César Zílio, mas não sabia que ele estava sendo favorecido por conta disso. Ele só me disse que o processo era uma questão politica".
"A adesão era para atender necessidade de algumas secretarias, a minha função era só autorizar a adesão".
"Nunca me mandou direcionar licitação" (atualizada às 17h13)
Em seu depoimento, José Cordeiro disse que o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Araújo, nunca lhe deu ordens para direcionar licitações.
"Ele não tinha competência para isso. Ele nunca me mandou direcionar uma licitação. Quem cuida dos processos era os secretários da pasta. Nunca me reuni com ninguém para tratar sobre propina ou ameaça".
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