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JUSTIÇA Segunda-feira, 29 de Agosto de 2016, 15:45 - A | A

29 de Agosto de 2016, 15h:45 - A | A

JUSTIÇA / DEPOIMENTO

Ex-secretário diz que filho de Silval ficava com 85% da propina

Pedro Elias foi interrogado pela juíza Selma Arruda; ele é réu e delator da ação penal derivada da operação

LUCAS RODRIGUES E THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO



O ex-secretário de Estado de Administração, Pedro Elias, afirmou que o médico Rodrigo Barbosa, filho do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), foi o principal beneficiário das propinas pagas pelo empresário Julio Tisuji, dono da empresa Webtech, na gestão passada.

Ele afirmou que, assim que recebia os valores, repassava a Rodrigo, que ficava com 85% e devolvia 15% a ele. A declaração foi dada durante audiência de ação penal derivada da 2ª e 3ª fase da Operação Sodoma, na qual ele é réu e delator.

"Eu comuniquei o Rodrigo Barbosa e ele me disse que o repasse seria para ele, não para o Silvio [Araújo, ex-assessor de Silval]. Eu firmei acordo com o Rodrigo que, assim que identificasse uma fonte de receita, eu passaria para ele. Fizemos esse acordo quando eu assumi a Sad".

"Eu recebia do Julio, repassava para o Rodrigo e o Rodrigo me passava 15% do valor. Fiz isso três vezes".        

O valor total da propina paga por Julio Tisuji a Pedro Elias, segundo o próprio empresário, foi de R$ 700 mil.  Pela declaração do empresário, Rodrigo Barbosa teria ficado com R$ 595 mil e Pedro Elias com R$ 105 mil.

Já Pedro Elias disse que recebeu R$ 510 mil de Tisuji. Por essa conta, Rodrigo Barbosa teria ficado com R$ 433,5 mil e o ex-secretário R$ 76,5 mil.

Eu recebia do Julio, repassava para o Rodrigo e o Rodrigo me passava 15% do valor. Fiz isso três vezes

Em seu depoimento, Pedro Elias também pediu desculpas por ter integrado a organização criminosa. Chorando muito, ele se desculpou com a sociedade e com a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, em audiência que ocorre nesta segunda-feira (29).

"Peço desculpas à senhora, pelo mal que fiz, por ter participado dessa organização. Naquele momento os meus valores eram outros", disse ele, em lágrimas e com voz embargada.

Pedro Elias é acusado de ser um dos "fiscais" da propina em esquema que teria exigido dinheiro de empresários para a manutenção e concessão de contratos de empresas com o Estado. O dinheiro arrecadado era posteriormente usado para quitar favores políticos, despesas de campanha e aquisição de bens pessoais.

O ex-secretário foi preso no final de março, mas solto após iniciar um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Estadual (MPE).

Na delação, ele deu detalhes do esquema e se comprometeu a devolver R$ 2,05 milhões aos cofres do Estado, valor que admitiu ter recebido a título de propina quando foi titular da Pasta na gestão do ex-governador Silval Barbosa.

A devolução será feita por meio da entrega de sete imóveis e pagamentos parcelados em dinheiro. Pedro Elias se comprometeu a devolver os seguintes bens que, segundo ele, foram adquiridos de forma criminosa: dois apartamentos no Edifício Della Rosa, avaliados em R$ 350 mil; uma sala comercial no Edifício Santa Rosa Tower, avaliada em R$ 250 mil; uma sala comercial no Edifício Jardim Cuiabá Office, avaliada em R$ 180 mil; e três terrenos em Várzea Grande, avaliados em R$ 60 mil.

Como a avaliação destes imóveis soma R$ 840 mil, o ex-secretário se comprometeu a pagar o R$ 1,2 milhão restante em até 18 meses.

Confira como foi a audiência:

Pedro Elias chora (atualizada às 10h40)

O ex-secretário começa seu depoimento pedindo desculpas e chora muito.

"Peço desculpas à senhora, pelo mal que fiz, por ter participado dessa organização. Naquele momento os meus valores eram outros", disse ele, em lágrimas.  

Confirmação de esquema (atualizada às 10h45)

Pedro Elias confirmou o esquema que já havia relatado em sua delação. Ele ressaltou que a organização era composta pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB); o médico e filho de Silval, Rodrigo Barbosa; o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Araújo; os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf e Marcel de Cusi; o ex-secretário adjunto de Administração, coronel José Jesus Nunes Cordeiro e o procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o "Chico Lima".

Eu só recebi R$ 100 mil da Consignum, antes dessa reunião com o Riva. O resto eu passei para o Silval

"A minha posição era pegar o dinheiro e levar o dinheiro da Consignum. Quando eu assumi a secretaria, eu procurei o Willians [Mischur, dono da Consignum] para checar o valor que vinha sendo pago, a pedido do Silval. Depois o Silval pediu de novo que eu procurasse o Willians e confimasse o valor [R$ 500 mil]. E aí eu passei a receber a propina. Eu tirava um parte para mim, cerca de R$ 100 mil, e passava o resto para ele.

O ex-titular da Sad disse que recebeu "só" R$ 100 mil da propina paga por Willians Mischur, sendo que o restante foi pago por meio de dois apartamentos.

Riva assumiu contrato (atualizada às 10h55)

Segundo o ex-secretário, a partir de 2014 o eentão deputado José Riva passou a querer trocar a empresa Consignum por outra que poderia pagar mais propina.

Pedor Elias disse que levou o fato ao conhecimento de Silval Barbosa, sendo que o ex-governador teria dito que não tinha mais o que fazer, pois "a partir daquele momento a condução daquele contrato era do deputado Riva".

"A partir daí, eu acredito que foi só uma vez, fui chamado pelo Riva para ser comunicado desse processo. Ele pediu para que eu não interferisse no processo licitatório. A conversa foi no gabinete dele".

Reunião sobre propina (atualizada às 11h02)

De acordo com o delator, foi marcada uma reunião na casa de José Riva, onde também compareceu o empresário Willians Mischur, no intuito de acertar o valor da propina.

"Eu não sei qual foi o motivo que levou o Riva e o Willians a chegar a um denominador comum, porque nessa reunião ele já tinha um acordo, a reunião só foi uma formalidade. A partir daí, o Riva  passou a receber a propina de R$ 500 mil por mês. O Riva dizia que tinhas despesas e que precisava do dinheiro. O Willians concordou e o processo licitatório ficou sub judice".

"Eu só recebi R$ 100 mil da Consignum, antes dessa reunião com o Riva. O resto eu passei para o Silval. Na reunião, ficou estipulado que o Willians deveria passar R$ 50 mil para mim. Eu recebia esse dinheiro através de dois apartamentos".

Propina da Webtech (atualizada às 11h24)

Pedro Elias também falou sobre a propina paga pelo empresário Julio Tisuji, da empresa Webtech.

"Fui procurado pelo Sílvio [Araújo] para falar com a empresa, e através de uma conversa com o proprietário Julio [Tisuji], ficou marcado uma reunião, entre eu, ele e o Silvio. Nesse encontro ficou definido que o Julio teria que passar 20% do lucro. Após essa reunião, eu comuniquei o Rodrigo Barbosa e ele me disse que o repasse seria para ele, não para o Silvio. Eu firmei acordo com o Rodrigo que, assim que identificasse uma fonte de receita, eu passaria para ele. Fizemos esse acordo quando eu assumi a Sad".

Nunca fiz negócios com Pedro Nadaf, pelo o que eu presenciava ele era uma especie de interlocutor do Silval

"Eu recebia do Julio, repassava para o Rodrigo e o Rodrigo me passava 15% do valor. Recebi isso três vezes".

Participação de Nadaf, Chico Lima e Cursi (atualizada às 11h58)

A promotora de Justiça Ana Bardusco questionou Pedro Elias sobre a função de Nadaf no esquema.

"Nunca fiz negócios com Pedro Nadaf, pelo o que eu presenciava ele era uma especie de interlocutor do Silval. Uma vez ele me chamou e disse que precisava resolver uma questão para levantar dinheiro. Eu entendi que era para fazer algo dentro do Governo e eu disse que não ia fazer, e ele entendeu".

Pedro Elias também foi questionado sobre Chico Lima e Marcel de Cursi. "Eu nunca tratei nada com o Chico Lima, mas desconfiava a participação dele no Condes".

"Também não fiz nenhum negócio com ele [Cursi], porém, a Sefaz não tinha uma postura correta com as demais secretarias. Por exemplo, vários recursos que eram destinados à Sad, ele retirava. Agora eu entendo as razões dos fatos, mas antes eu não sabia porque faziam isso".

Medo de Sílvio Araújo (atualizada às 12h08)

Pedro Elias diz que sente medo de dois integrantes da organização criminosa: Sílvio Araújo e José Jesus Cordeiro.

"Eu tenho muito temor em relaçao ao Sílvio, pela forma como ele tratava as questões. E mais agora depois da informação que Pedro Nadaf que está na reportagem que disse que ele não duraria um ano", afirmou, chorando, ao falar sobre a declaração da suposta ameaça recebida por Nadaf (veja AQUI).

"Ele [Sílvio Araújo] sempre foi muito bruto, arrogante. Temo o Cordeiro também, não só pelo fato dele ser policial e andar armado, mas por sempre dizer que trocava tiros, isso ou aquilo".

Relação com Rodrigo Barbosa (atualizada às 12h25)

O advogado Bruno Alegria, que faz a defesa de Rodrigo Barbosa, perguntou como Pedro Elias conheceu o seu cliente.        

"Através de amigos em comum, em 2010. Eu trabalhava na prefeitura de Várzea Grande, na gestão de Murilo Domingos".

"Depois eu fui trabalhar na campanha do Silval, a pedido do Rodrigo. Na campanha eu sempre me reportava a ele, ele era um dos coordenadores. Depois da campanha,  fui convidado pelo Rodrigo, com aval do pai dele, obviamente, para ocupar um cargo no governo. Meu primeiro cargo foi de assessor especial na Casa Civil. Depois fui adjunto e titular da secretaria. Se o Rodrigo não quisesse que eu fosse secretário, eu não seria. Ele tinha influência suficiente para me barrar lá".

Bruno Alegria também perguntou quais foram os valores que Pedro Elias recebeu e que, em tese, teriam sido repassados a Rodrigo Barbosa.

"Em torno de R$ 180 mil, R$170 mil e R$ 160 mil. Foram três pagamento. Dois enquanto eu era adjunto, e um quando era secretário".

Citação a empresário (atualizada às 12h38)

Bruno Alegria questionou Pedro Elias se ele conhece o "Jurandir", dono da Solução Cosméticos. O empresário foi citado pelo também ex-secretário e delator, Cesar Zílio. O advogado perguntou se Pedro Elias trocou cheques na factoring de Jurandir.

O ex-secretário diz que conhece o empresário, mas que prefere não responder a questão.

Invasão de apartamento (atualizada às 12h41)

O advogado de Rodrigo Barbosa também perguntou sobre a suposta invasão de um apartamento em que Pedro Elias guardava documentos sobre os crimes.

O alegado furto dos documentos foi um dos motivos que embasou a prisão de Rodrigo Barbosa que, posteriormente, provou que estava viajando na data da invasão.

"Quando eu procurei a Defaz [Delegacia Fazendária], me comprometi de levar alguns documentos para os delegados, que evidenciavam a compra de uns imóveis que fiz com o dinheiro a título de propina. Eu pedi para uma tia abrir o armario e, ao retornar, ela disse que o armário estava aberto e não tinha nenhum documento lá".

"Eu nunca afirmei que foi o Rodrigo, apenas disse que ele tinha conhecimento que eu frequentava o apartamento", disse ele, que chorou novamente e afirmou que nunca acusou ninguém pelo furto.

"Se cada um assumisse sua culpa, nada disso aqui estaria acontecendo".

Bruno Alegria ainda perguntou se Pedro Elias se sentiu ameaçado quando a esposa de Rodrigo Barbosa encaminhou uma mensagem para sua esposa.

"Eu pensei que eles queriam saber se eu tinha feito delação, não lembro o teor da mensagem", disse, chorando novamente.

Investigações sigilosas (atualizada às 14h16)

A defesa de Sílvio Correa, representada pelo advogado Leonardo Bassil, alegou que há outras investigações da suposta organização criminosa sob sigilo. Ele pediu que a defesa poss ater acesso a estes autos.

Os advogados de Silval Barbosa e de Chico Lima também concordaram com a solicitação. Já a promotora de Justiça Ana Bardusco afirmou que a defesa deve se preocupar com as acusações que constam na ação penal.

"Não estamos selecionando as imputações. A organização criminosa atuou em 4 anos, então são inumeras condutas que o MPE tem a obrigação de apurar".

A juíza concordou com a promotora e negou acesso às investigações sigilosas. Ela ressaltou que não há qualquer irregularidade no fato de o MPE não inserir os fatos novos nesta denúncia.

"O que está na denúncia é o que tem que ser tratado aqui, então para mim nós temos uma conta fechada".

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