LUCAS RODRIGUES E THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO
O ex-servidor da Secretaria de Estado de Administração (SAD), Bruno Saldanha, negou ter participado do esquema investigado na ação penal derivada da 2ª e 3ª fase da Operação Sodoma. E informou que um dos delatores do esquema lhe deve R$ 70 mil.
Saldanha, que também foi servidor do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), foi interrogado na tarde desta segunda-feira (29), no Fórum de Cuiabá. Na ação penal, ele é acusado de ter exigido R$ 25 mil do empresário Julio Tisuji, da empresa Webtech, para fazer “vistas grossas” ao fato de o empresário pagar propina ao grupo investigado para manter o contrato da empresa com o Estado, na gestão passada.
“Eu jamais solicitei vantagem indevida ao longo desses anos que trabalhei na SAD, sempre trabalhei de forma séria, correta”, disse ele, que era fiscal do contrato à época. Em seu depoimento, Saldanha disse que a citação de Tisuji - que é delator da ação - sobre a suposta propina exigida não passa de uma “cortina de fumaça”.
O ex-servidor ainda tentou descreditar as palavras do empresário. “Eu fiquei surpreso com as declarações dele [Tisuji], nunca pedi carona para ele, nunca solicitei vantagem indevida, nada disso. Ele estava fazendo cortina de fumaça, um colaborador com a pratica de mercado corromper servidores, que atesta na frente de todos que pagou propina para continuar com contrato no Estado, para ele é muito fácil me envolver", reclamou.
Dívida
Bruno Saldanha disse que a única relação que teve com o empresário foi quando prestou serviços pessoais a ele, que não tinham qualquer relação com o contrato da Webtech.
Ele está me devendo, inclusive, cerca de R$ 70 mil por esse serviço que prestei para ele, ele só me pagou R$ 5 mil
“Ele está me devendo, inclusive, cerca de R$ 70 mil por esse serviço que prestei para ele, ele só me pagou R$ 5 mil. Depois que ele me pagou esses R$ 5 mil, me mandou mensagem pedindo emprestado R$ 500, porque ele tinha viajado para Brasília e tinha deixado de pagar um colaborador dele. Eu fiz a transferência para ele da conta da minha esposa. Isso ocorreu em 2015, eu não era mais fiscal do contrato", alegou.
O ex-servidor ainda afirmou que o escândalo envolvendo seu nome manchou sua imagem. “Eu sou um homem honesto. Meu nome foi jogado no lixo. Eu era reconhecido nacionalmente como a pessoa que mais conhece de previdência do Estado. E estou arcando com uma coisa que eu não fiz”, disse.
A denúncia da Sodoma
Segundo a denúncia, assinada pela promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco, o grupo era dividido em várias ramificações, e cada uma delas possuía graus hierárquicos. Silval Barbosa é apontado como o líder da organização, "responsável por articular e coordenar as ações dos demais integrantes".
O grupo atuaria exigindo pagamento de propina para conceder incentivos fiscais e para manter contratos de empresas com o Governo do Estado. Na divisão secundária figuram os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, Cezar Zílio e Pedro Elias; o ex-secretário adjunto de Administração, coronel José Jesus Nunes Cordeiro; o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Cézar Correa Araújo; o ex-procurador do Estado Chico Lima; a ex-secretária de Nadaf na Fecomércio, Karla Cintra; e o filho de Silval, o médico e empresário Rodrigo Barbosa.
“Os indícios apontam que a organização criminosa atuou de forma perene durante toda a gestão de Silval Barbosa, provocando prejuízo a toda a população mato-grossense, que até hoje arca com as consequências das ações criminosas de seus membros, frente ao sucateamento da máquina administrativa, ausência de investimento em infraestrutura, na saúde, segurança e educação pública, etc”, diz trecho da denúncia.
Já o ex-deputado José Riva foi denunciado após o depoimento do empresário Paulo Mischur, da empresa Consignum, alvo da 2ª fase da Sodoma. Mischur relatou ter pago R$ 17,6 milhões ao grupo liderado por Silval e a José Riva para manter o contrato com o Estado.
O ajuste da propina, conforme a ação, teria sido feito com a ajuda do empresário Tiago Dorileo, que também é alvo da Operação Ararath. O grupo também teria exigido R$ 1 milhão da Zetra Soft, do empresário Fábio Drumond, para que a empresa passasse a gerenciar os empréstimos consignados dos servidores – tarefa então feita pela Consignum.
A tratativa, no entanto, acabou não sendo efetivada e o contrato – assim como as supostas propinas pagas para mantê-lo – continuou com a empresa de Mischur. Também foi denunciado o servidor Bruno Sampaio Saldanha. Ele teria exigido propina para fazer “vistas grossas” ao contrato da empresa Webtech, de Julio Tisuji, que também confessou ter pago valores ao grupo.
Quanto ao prefeito cassado de Várzea Grande, Walace Guimarães, consta na denúncia que ele ofereceu R$ 1 milhão, em 2012, ao então secretário de Administração, César Zílio, para que o poder público pagasse valores a gráficas – por serviços inexistentes ou incompletos - no intuito de levantar dinheiro para pagar custos de campanha.
Entre as gráficas estavam as de propriedade dos empresários Antônio Roni de Liz e Evandro Gustavo Pontes da Silva, igualmente denunciados.
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