THAIZA ASSUNÇÃO E CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO
O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro afirmou, na tarde desta quinta-feira (2), que não seria “bobo” de retomar o jogo do bicho após passar 15 anos preso.
A declaração foi feita ao juiz Geraldo Fidelis, da 2ª Vara Criminal de Cuiabá, durante audiência de justificação após uma denúncia de que Arcanjo teria voltar a atuar com o jogo.
“Eu era um bicheiro aqui em Cuiabá, nunca escondi nada de ninguém. Isso é público e notório. Eu passei 15 anos na cadeia. Ninguém sabe o que sofri. Você acha que eu sou bobo de fazer alguma coisa e voltar para prisão?”, afirmou Arcanjo.
O ex-bicheiro contou que esta fazendo curso de administração de empresas, aulas de inglês durante o dia. "O que quero dizer é que sou estudante de administração, faço inglês, e fiz um curso de seminário nesse tempo em que estou solto", disse Arcanjo.
No início deste mês, a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), da Polícia Civil, desmontou umas das centrais do jogo do bicho em Cuiabá. Entre os itens apreendidos, foram encontradas anotações com nomes do filho e da ex-mulher do ex-bicheiro.
Durante a audiência, Arcanjo disse que ficou sabendo da denúncia pela imprensa e que não tinha detalhes sobre o caso.
Denúncia
A decisão do magistrado em ouvir o ex-bicheiro leva em conta uma denúncia apócrifa, anexada aos autos nos dias 26 e 28 de junho e no dia 17 de julho deste ano.
Eu era um bicheiro aqui de Cuiabá, nunca escondi nada de ninguém. Eu passei 15 anos na cadeia. Ninguém sabe o que sofri. Você acha que eu sou bobo de fazer alguma coisa e voltar para prisão?
Segundo o magistrado, a denúncia ressalta que Arcanjo deu a seu genro, Giovani Zen, o poder de comandar o jogo do bicho em Cuiabá.
Na denúncia recebida pelo juízo diz que Giovani Zen deu uma máquina de apostas de jogo do bicho para Alberto Jorge Toniasso. Depois de uma confusão, Alberto teria sido agredido pelo genro do ex-bicheiro.
Arcanjo enfatizou que não se lembra de nenhum Alberto. “Se eu conheço é de muito tempo atrás”, afirmou.
“O que fiquei sabendo é que esse moço foi lá no escritório e oferecer pontos de uma banca de jogo aqui de Cuiabá que são dele. E o Giovani recusou, porque nós não mexemos mais com isso”, completou.
Arcanjo pontuou dizendo que jamais irá fazer alguma coisa para perder sua liberdade.
"Eu posso ser tudo na minha vida, menos bobo e burro”, disse.
“Só Deus sabe o que eu passei. Agora, estou tentando seguir minha vida. Estudando e trabalhando”, finalizou.
Genro nega crime
A pedido de Arcanjo, Giovani Zen também foi ouvido na audiência e negou o crime.
“Uma pessoa me procurou para marcar um encontro com esse Alberto. Eu o recebi na minha sala, em um local onde trabalham 30 pessoas. Ele perguntou se eu tinha interesse em jogo do bicho e respondi que ele estava enganado, porque a gente não trabalha com isso”, disse.
Só Deus sabe o que eu passei. Agora, estou tentando seguir minha vida. Estudando e trabalhando
“Ele insistiu e eu falei que não tínhamos interesse e tirei ele da sala. Não teve nada de maquininha, nem de agressão”, concluiu.
Ao final da audiência, o Ministério Público Estadual (MPE) requereu uma oitiva com Alberto Toniasso para esclarecimentos dos fatos.
O juiz marcou outra audiência sobre o caso para o dia 13 de setembro.
"Reinado"
Arcanjo comandou o jogo do bicho por décadas na Capital.
Em ação realizada pela GCCO no dia 10 dia de julho, foram detidos quatro homens e 50 máquinas usadas em apostas em Cuiabá.
Anotações em um envelope com os nomes do filho de Arcanjo, João Arcanjo Ribeiro Filho, e da ex-mulher dele, Silvia Chirata, também foram encontradas pelos policias.
Em depoimento, um dos detidos afirmou que as máquinas apreendidas pertenceriam a um homem que trabalha para empresa Colibri.
A marca Colibri, que pertencia a Arcanjo, ficou conhecida nos anos 90 com o jogo do bicho.
Condenações
João Arcanjo foi solto no dia 26 de fevereiro de 2018, após passar 15 anos na prisão. Ele foi condenado pelo assassinato do empresário Sávio Brandão, dono do jornal Folha do Estado (já extinto), entre os outros crimes.
Atualmente, o ex-bicheiro - que está em regime semiaberto - trabalha durante o dia em um lava jato que pertence a ele, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA), e retorna à noite para a casa dele, no bairro Boa Esperança.
Arcanjo foi considerado o chefe do crime organizado nas décadas de 80 e 90, em Mato Grosso. Ele foi condenado por crimes que vão de assassinatos a lavagem de dinheiro e contrabando.
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