ASSESSORIA
Uma parceira firmada entre o Poder Judiciário de Mato Grosso e a Prefeitura de Várzea Grande está oportunizando a reintegração à sociedade de oito reeducandos da Cadeia Pública do Capão Grande, por meio de oferta de trabalho de limpeza em colégios públicos da cidade. Além da chance de prestar um serviço social e do benefício da remição de pena, os participantes do Projeto Escola Limpa recebem um salário-mínimo.
Na manhã de hoje, o juiz titular da Quinta Vara Criminal da Comarca de Várzea Grande, Abel Balbino Guimarães, participou de uma vistoria dos trabalhos desempenhados na Escola Municipal Manoel João de Arruda, onde os detentos realizam a limpeza e pintura desde a última quinta-feira (12 de abril).
Na ocasião, o magistrado agradeceu o empenho dos reeducandos em aproveitar a chance e destacou a iniciativa como fundamental para a reintegração social. “Ao invés de ficarem reclusos contando as horas para deixar a cadeia, eles estão desenvolvendo um serviço importante para as escolas, para os alunos, entrando novamente em contato com a sociedade”.
Para o magistrado, outro ponto positivo da iniciativa é o pagamento do salário, sendo que parte é reservada para o momento do término do cumprimento da pena. “Quando deixar a cadeia o reeducando vai ter uma reserva para recomeçar a vida”, ressaltou. Lembrou ainda a importância da educação na vida de crianças e adolescentes para a garantia de um futuro melhor. “Quem não teve a mesma chance, quem errou, também merece ser tratado com dignidade. Porém, precisamos evitar que isso ocorra e o melhor caminho é por meio da educação”.
Preso há um ano e 15 dias, Luiz Mayro Soares, 30, aponta que o convite para cuidar de escolas públicas é uma oportunidade maravilhosa. “Conseguimos compreender o valor da liberdade vendo as crianças estudando, brincando. Sem contar que a possibilidade de sair de dentro da cadeia nos ajuda a refletir sobre o que fizemos e o que posso fazer para mudar. Ficar preso entre quatro paredes limita a nossa visão de vida e por isso abracei essa oportunidade de reinserção. Erramos, falhamos, mas podemos fazer algo positivo”.
A diretora da Escola Municipal Manoel João de Arruda, Alenil Almeida de Arruda, está satisfeita com o serviço prestado dentro e fora do colégio. Ela conta que o mato estava alto e a escola precisava muito do serviço. Além da retirada de todo o mato, os presos pintaram muros, meio-fio e vão se dedicar à reforma do parquinho infantil da unidade de ensino. “Eles são muito atenciosos. Estão sempre perguntando o que precisam fazer, se o serviço feito está bom. A escola estava bem suja e agora mudou, ficou limpa, clarinha”.
A escola atende 517 alunos de quatro a 12 anos, distribuídos nos períodos matutino e vespertino. Os estudantes foram conscientizados sobre a presença dos reeducandos no colégio. Segundo a diretora, esta é uma forma de mostrar aos alunos que devemos dar uma segunda chance a quem erra. “Trabalho com gente e preciso acreditar que todos merecem uma nova oportunidade. Quero contribuir com isso da melhor forma possível”.
Conforme a presidente da Fundação Nova Chance, Neide Mendonça, a iniciativa da Prefeitura de Várzea Grande em buscar a Instituição para ofertar serviço aos presos é de grande relevância. Ao ser contatada, a Fundação acionou a diretoria da cadeia e pediu que fossem selecionados reeducandos com perfil para prestação de serviços gerais.
Para participar, os presos precisam demonstrar o interesse no serviço, apresentar bom comportamento dentro do sistema prisional e ter cumprido pelo menos um sexto da pena a que foram condenados. Após a classificação, o pedido de participação no projeto é encaminhado a Vara de Execuções Penais de Várzea Grande, que pede parecer do Ministério Público e Defensoria Pública.
Também participou da vistoria o prefeito de Várzea Grande, Tião Zaeli, que apontou a expectativa de integrar 200 presos até o fim do ano. Na unidade prisional, atualmente, existem cerca de 270 homens.
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