DA REDAÇÃO
O juiz Wladymir Perri, substituto da 11ª Vara Militar de Cuiabá, que decretou a prisão preventiva do cabo Gerson Correa, na tarde desta sexta-feira (19), fez duras críticas ao policial em seu despacho.
O cabo, que é réu no caso dos grampos ilegais em Mato Grosso, foi preso novamente porque descumpriu uma das medidas cautelares impostas a ele, de não sair de casa à noite, quando foi ao Malcom Pub no dia 30 de agosto.
Em princípio, a defesa do cabo negou que tivesse ido à boate. Mas depois que os proprietários entregaram à Justiça uma ficha em que consta o nome do policial, o advogado Neyman Monteiro reconheceu o descumprimento, mas argumentou que o cabo esteve no local atrás da esposa, com quem havia brigado.
“Quero acreditar que o douto causídico agiu em sua peça inicial de boa fé, de modo que, se o próprio advogado foi ludibriado, ao ponto de posteriormente ter que justificar em nome do principio da verdade real, então esse cidadão, cabo Gerson Luiz Ferreira Correa Junior, não merece qualquer credibilidade, ou seja, o descrédito é total”, escreveu o magistrado.
“Ao ponto de se poder concluir que ele tem uma personalidade distorcida, o que oferece sérios riscos à sociedade e, principalmente para a apuração dos fatos, o que, por si, só, já justificaria a decretação da prisão preventiva, desta feita, para garantir a ordem publica, até porque a sua participação na apuração do fato delituoso tudo está levando a crer ser intensa”.
“Apenas para efeito de argumentação, ao contrário do afirmado pelo ínclito e culto advogado, o tal descumprimento, como consignado, não é porque acarretou nenhuma outra infração penal, que deva ser interpretado de somenos importância, pelo contrário, o representado CB/MT Gerson não tem respeito nem pela instância superior, ou seja, pelo Tribunal de Justiça, pois foi essa instância que lhe concedeu a liberdade”, afirmou o juiz.
“E mesmo assim, sob o pretexto da briga conjugal, resolve ir com amigos da família e aí entende, já virando festa, resolve curtir a noite cuiabana como a situação do referido representado fosse corriqueira”.
Grampolândia
O caso dos grampos veio a público em maio do ano passado.
Além do cabo, também são réus do esquema o ex-comandante da Polícia Militar, coronel Zaqueu Barbosa; os coronéis Evandro Alexandre Lesco e Ronelson Barros, ex-chefe e ex-adjunto da Casa Militar, respectivamente e o coronel Januário Batista.
Os grampos clandestinos militares tinham a finalidade de espionagem política, escuta de advogados no exercício de sua função, jornalistas, desembargadores, deputados e médicos. E, nesse contexto, estima-se que foram grampeados ilegalmente entre 80 e 1000 terminais.
Gérson foi o único a confessar o crime. Ele afirmou que chegou a operar as escutas ilegais dentro do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE), local onde atuava.
“Nesse período, eu estava lotado no Gaeco, fazia dupla jornada. Com o surgimento da plataforma Sentinela, facilitou muito o trabalho porque o acompanhamento era operado pela web. Então, eu realizava algumas escutas na sede do Gaeco mesmo”, afirmou.
Segundo Gerson Correa, foi o cabo PM Euclides Luiz Torezan, também envolvido na trama, quem instalou o sistema em seu computador no Gaeco, para que ele pudesse ouvir os grampos dentro da instituição.
Do Gaeco, Gerson passou a operar os grampos de uma sala comercial, localizada na Rua Desembargador Ferreira Mendes, nº 235, na região central de Cuiabá. Lá, ele teve ajuda de outros quatros militares.
As interceptações, segundo ele, só foram interrompidas após o promotor de Justiça Mauro Zaque – que descobriu o esquema - interrogar os coronéis Zaqueu Barbosa e Airton Siqueira sobre o caso.
O promotor de justiça Allan Sidney do Ó Souza apresentou recentemente as alegações finais do processo relacionado ao caso dos grampos e, entre os requerimentos, pediu a condenação do cabo Gerson e dos coronéis da PM Zaqueu Barbosa e Evandro Lesco.
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