DA REDAÇÃO
A Delegacia Fazendária de Mato Grosso deflagou na tarde desta terça-feira (22) a terceira fase da Operação Sodoma.
Segundo o delegado Lindomar Tófolli, foram cumpridos mandados de prisão contra os ex-secretários de Estado Pedro Elias Domingos de Mello (Administração) e Sílvio César Correa Araújo (Gabinete). Os policiais também cumpriram mandado de busca e apreensão na casa de Pedro Elias.
Além disso, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) também é alvo de outro mandado de prisão, relativo a esta fase. Ele, no entanto, já está preso em decorrência da Operação Seven, que investigou a compra em duplicidade de uma área na região de Manso por parte do Governo.
Conforme o delegado Lindomar Tofolli, a empresa Consignum, do empresário Willians Paulo Mischur, alvo da segunda fase operação Sodoma, teria pago de R$ 500 mil a R$ 700 mil mensais em propina para membros da Secretaria de Estado de Administração durante 2011 a 2014.
O delegado explicou que a propina era paga para que a empresa mantivesse contratos com o Governo.
O ex-governador, de acordo com a Defaz, tinha conhecimento dos fatos, tendo inclusive presenciado uma das negociações.
"Teve situações de negociação de pagamento de proprina, que segundo alguns esclarecimentos que foram prestados, o silval estava presente no contexto do fato, estava presente pessoalmente na situação", disse Tofolli.
“Identificamos um novo braço dessa organização criminosa, que tem como líder o ex-governador Silval Barbosa, dentro da Secretaria de Administração. A primeira na gestão do Cersar Zilio e posteriormente do Pedro Elias”, complementou o delegado.
Com mais esses dois mandados, sobe para seis o número de ex-secretários de Estado presos.
A Polícia Civil já havia pedido a prisão preventiva de Silvio Araújo e de Silval Barbosa na segunda fase da Sodoma, também deflagrada neste mês. Porém, na ocasião, a juíza Selma Arruda ainda não havia encontrado novos indícios de crimes contra eles.
Uma fonte da Secretaria Estadual de Segurança informou que a Sodoma 3 é consequência direta da 2. "Documentos encontrados na segunda fase levou à deflagração da terceira", informou a fonte.
Conforme o delegado Tofolli, depoimentos também contribuíram para as investigações, como os do arquiteto José da Costa Marques e do empresário Willians Mischur.
"A investigação ainda está em andamento, as provas estão sendo produzidas e logo teremos novos resultados", garantiu, o delegado, ao afirmar que pode ter novas operações a caminho.
Segundo o delegado, Pedro e Silvio devem ser ouvidos ainda nesta semana. Eles poderão responder pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e crime organizado.
A primeira fase da operação, deflagrada em setembro do ano passado, identificou a prática de esquemas de suposta cobrança de propina em troca de benefícios fisicais no Estado.
O empresário João Batista Rosa, de Cuiabá, fez delação premiada e confirmou que pagava propina, além de ter dado detalhes do esquema.
Nesta primeira fase, foram presos os ex-secretários Pedro Nadaf (Casa Civil), Marcel Cursi (Fazenda) e Silval Barbosa.
A segunda fase, deflagrada no último dia 11, detectou movimentações financeiras de empresas que teriam pago propina ao ex-secretário César Zílio, também preso.
Alvo de duas operações
Antes da Sodoma 3, Silvio Araújo já havia sido citado na Sodoma 1 e chegou a ser preso na Operação Arqueiro, em agosto do ano passado, sendo liberado em setembro do mesmo ano.
Na primeira fase da Sodoma, as investigações apontaram que Sílvio Araújo recebeu R$ 25 mil, no dia 22 de março de 2013, por meio de TED (Transferência Eletrônica Disponível), feita pela factoring FMC Recuperação de Crédito Ltda., pertencente a Frederico Muller Coutinho – um dos delatores do alegado esquema.
Segundo o empresário João Batista Rosa, delator e sócio da Tractor Parts, empresa que teria pago R$ 2,6 milhões em propinas para o grupo criminoso, o cheque foi repassado a Sílvio a mando do ex-procurador do Estado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o Chico Lima.
Parte do dinheiro obtido no suposto esquema, conforme as investigações do Ministério Público Estadual (MPE) e da Polícia Civil, foi "lavado" por Chico Lima.
As investigações revelam que o dinheiro saía da factoring e era pulverizado a várias pessoas. O ex-assessor de Silval teria sido um dos beneficiados.
Já na Operação Arqueiro, ele é apontado como integrante de alegado esquema que teria desviado, entre 2011 e 2014, pelo menos R$ 2,8 milhões da Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas), na época comandada pela ex-primeira-dama Roseli Barbosa – que também foi presa e posteriormente liberada.
Encaminhados
No final da tarde, Sílvio Araújo foi encaminhado por policiais civis para o Presídio do Carumbé, enquanto Pedro Elias foi para o CCC (Centro de Custódia de Cuiabá).
O advogado Estalco Neto, que defende Silvio Araújo, falou com a imprensa na porta da Defaz. Ele disse ainda não havia tomado conhecimento das acusações, mas que considera "atípica" uma operação ocorrer no final da tarde.
Exemplo na Lava Jato
O secretário de Segurança Pública, Fábio Galindo Silvestre, disse que a investigação é o resultado de um trabalho "criterioso, estratégico e que emprega as melhores filosofias e técnicas".
"A exemplo da Operação Lava Jato, que se desenrola em fases, digerindo todo o volume de informações angariado, a Sodoma trabalha na mesma lógica, avançando passo a passo, alcançando todos os que participaram da organização criminosa investigada", disse.
A Delegacia Especializada de Crimes Contra a Administração Pública e Contra a Ordem Tributária (Defaz) é integrante do Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos (Cira), que foi criado em 2015 pelo governador Pedro Taques como uma alternativa para melhorar a arrecadação do Estado com a prevenção e repressão de atividades de danos ao erário e lesão patrimonial.
O Cira é formado por vários órgãos que prestam serviços à população, como Ministério Público, secretarias de Segurança Pública e de Fazenda e Procuradoria Geral do Estado.
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