AIRTON MARQUES
DA REDAÇÃO
Em depoimento à Delegacia Fazendária (Defaz), o ex-secretário da Casa Civil, Pedro Nadaf, afirmou que repassou R$ 100 mil ao ex-secretário de Administração, César Zílio, como pagamento da compra de 100 cabeças de gado. No entanto, ele se recusou a revelar se a compra foi declarada em Imposto de Renda.
A declaração foi feita no dia 17 de março, ao delegado Lindomar Tóffoli, da Delegacia Fazendária.
Pedro Nadaf foi preso durante a primeira fase da Operação Sodoma, em setembro do ano passado. Zílio também teve prisão preventiva decretada na segunda fase da operação, mas foi soltou após firmar termo de colaboração premiada.
Nadaf disse que, em 2012, esteve no gabinete de Zílio, na Secretaria de Estado de Administração (SAD), e tomou conhecimento de que o pai do ex-secretário, Antelmo Zílio, estava vendendo as cabeças de gado.
Além da compra dos bovinos, também ficou acordado que Nadaf arrendaria parte de pasto de Antelmo, em uma fazenda localizada em local chamado de “Serra Azul”, no município de Nobres (146 km ao Norte de Cuiabá), para abrigar o gado.
Conforme o depoimento, Nadaf pagou as cabeças de gado com cheques do proprietário do Grupo Tractor Parts, João Batista Rosa – colaborador da 1ª fase da Operação Sodoma -, que, segundo ele, lhe pagou pela prestação de assessoria empresarial, por meio de sua empresa, a NBC Consultoria.
“Nessa ocasião, repassou a César Zílio o montante aproximado de R$ 100 mil em cheques, dentre os quais cheques que lhe foram repassados por João Batista Rosa. Além de cheques de outras empresas que não se recorda no momento e que, talvez, até cheques da própria empresa NBC”, diz trecho do depoimento à Polícia.
Ainda em seu depoimento, o ex-secretário afirmou que negociações idênticas foram realizadas por outras três vezes, no ano seguinte.
“Ocorreram negociações idênticas em anos posteriores por cerca de três vezes. Pagos em cheques em valores menores. Em todas as outras vezes, também numa média de 100 cabeças de gado”, declarou.
Ao delegado Lindomar Tóffoli, o ex-secretário da Casa Civil declarou que Antelmo Zílio emitiu nota fiscal da compra, mas não se recordava se tal nota era eletrônica ou manual.
As cerca de 700 cabeças de gado em posse de Cézar Zílio foram bloqueadas pela Justiça, como parte do termo de colaboração premiada firmado por ele com o Ministério Público Estadual (MPE).
O rebanho foi dado como garantia, caso ele não devolva R$ 1,3 milhão aos cofres públicos.
Assunto de delação
Segundo o ex-secretário César Zílio, Nadaf adquiriu um total de 1.200 cabeças de gado, entre 2012 e 2014, de forma clandestina, “buscando ocultar a origem e localização de bens”. O rebanho é avaliado em R$ 1,5 milhão.
Deste total, 486 cabeças já teriam sido vendidas e as outras 714 estariam nas Fazendas Campo Alto e Santa Bárbara, que são administradas por Cézar Zílio.
Em sua delação, Zílio disse que o rebanho – formado por animais de idades diversas – foi adquirido por Nadaf por sua intermediação, uma vez que também atuava como pecuarista na época.
O gado, conforme o depoimento, foi mantido no pasto das propriedades de Zilio, sendo que as despesas eram pagascom a venda de parte dos animais.
“Com o propósito de ocultar estes bens, a transação foi toda realizada de forma clandestina, sem emissão das respectivas notas fiscais de venda e, sem registrar a aquisição e propriedade no órgão competente e na Receita Federal”, contou.
O delator disse ao MPE que mantém em seu poder pelo menos 714 cabeças de gado de propriedade de Pedro Nadaf, e adiantou que “essa quantidade pode aumentar ante a possibilidade de terem dado cria e que as aquisições foram pagas com proveito de crime”.
“Esclarece que tais aquisições são a origem dos cheques de emissão das empresas do Grupo Tractor Parts, da DIismafe, Trimec e de vários cheques que recebeu da NBC, os quais utilizou para promover o pagamento dos imóveis que adquiriu localizado na Avenida Beira-Rio”, diz outro trecho do depoimento de Zílio, citando empresas investigadas por suposta participação no esquema.
Venda de móveis
No depoimento, o delegado Lindomar Tóffoli também questionou Pedro Nadaf sobre os cheques de Marnie de Almeida, esposa do ex-secretário Marcel de Cursi – preso desde setembro de 2015 -, depositados na conta de sua irmã, Yasmim Nadaf.
Conforme a investigação da Defaz, a irmã de Nadaf recebeu dois cheques da empresa M. de A. Claúdio EPP, aberta em nome da esposa de Cursi.
Nadaf negou que os cheques tenham sido como pagamento de propina. Segundo o ex-secretário, os cheques foram repassados como pagamento da compra de móveis usados em sua casa e teriam sido depositados na conta de Yasmin, para que ela pagasse despesas de sua mãe.
"Sendo que alguns dos objetos vendidos foram tapetes, mesas de centro, lustres, mandalas e outros. Que Marcel efetuou o pagamento em cheques para o interrogado e este realizou o depósito na conta de sua irmã Yasmin, para a quitação de alguns débitos de sua mãe. Visto que Yasmin é quem controla as contas de sua mãe”, diz trecho do depoimento.
Após a quebra do sigilo bancário de Marnie Cláudio, a Defaz identificou que a empresa aberta no nome dela movimentou mais de R$ 6,8 milhões, entre os anos 2012 e 2015.
A Polícia suspeita que a empresa seja de fachada e tenha sido aberta para movimentar dinheiro obtido de forma criminosa.
Veja fac-símile de trecho do depoimento de Pedro Nadaf:
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