AIRTON MARQUES
DA REDAÇÃO
Como parte de sua colaboração com as investigações da ação penal derivada da Operação Sodoma 1, o ex-secretário de Estado de Indústria, Comércio, Minas, Energia e Casa Civil, Pedro Nadaf, transferiu para a Justiça três imóveis de sua propriedade.
Os apartamentos estão localizados em Cuiabá e, juntos, valem R$ 1,7 milhão. Os bens serão usados como garantia do ressarcimento ao erário público por conta de sua participação em suposto esquema que teria lucrado R$ 2,6 milhões, em 2013 e 2014, por meio da exigência de propina para a concessão de incentivos fiscais ao empresário João Batista Rosa.
No depoimento à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, no dia 15 de agosto, Nadaf – que ficou preso por mais de um ano no Centro de Custódia da Capital - foi reinterrogado e confessou ter participado do esquema.
À Justiça, o ex-secretário entregou um laudo técnico elaborado pelos engenheiros civis Márcia Izaura Salles Dias e Edmilson Pinho de Sá, no dia 26 de agosto deste ano.
De acordo com o documento, o primeiro imóvel disponibilizado por Nadaf é um apartamento no Edifício Monreale, na Rua Estevão de Mendonça, no Bairro Quilombo, na Capital.
Avaliado em R$ 1,1 milhão, o apartamento tem área total de 326,58 m², com sala, dois quartos com suítes, sacada, churrasqueira, cozinha, despensa e área de serviço.
Os outros dois imóveis colocados à disposição pelo ex-secretário foram avaliados em R$ 335 mil cada. Eles estão localizados no Condomínio Morada do Parque, no Bairro Morada do Ouro, em Cuiabá.
De acordo com o laudo técnico, os imóveis são idênticos, tendo 60,84 m² de área total, divididos em sala, sacada, um quarto com suíte, banheiro, área de serviço e cozinha.
Ao colocar os imóveis à disposição, o ex-secretário requereu que a juíza Selma Arruda oficiasse os inquilinos que atualmente ocupam os imóveis "que, a partir desta data, deverão fazer o pagamento dos alugueres em juízo, na forma da lei".
Nadaf responde a três ações no total, na 1ª e 2ª fase da Operação Sodoma e na Operação Seven.
Confissão
Na audiência à juíza Selma Arruda, Nadaf afirmou que ajudou a arrecadar cerca de R$ 12 milhões para a campanha de 2010, que elegeu Silval Barbosa ao governo, e que parte desse dinheiro foi para o Caixa 2, ou seja, não foi declarado à Justiça Eleitoral. O ex-secretário ainda revelou que Silval Barbosa liderou o esquema investigado na operação.
"O Silval participou de algumas reuniões. Em alguns desses trabalhos nós levantamos em torno de R$ 12 milhões. Parte foi para o Caixa dois e parte para a doação oficial da campanha".
"Ele se limitava a cuidar de grandes empresários, o Silval era uma pessoa muita fechada. Como a senhora pode ver, eu não faço parte de outros processo, como a Consignum. O Silval tinha a liderança de tudo na organização".
O ex-secretário pediu desculpas e disse que está disposto a ressarcir os cofres públicos com os bens que possui. Ele chorou e se desculpou por ter prejudicado pessoas que envolveu no esquema, sem citar nomes.
"No uso desses cheques que eu recebi, eu prejudiquei muitas pessoas. Eu pedi a uma pessoa com mais de 40 anos de trabalho pagar algo para mim com esse cheque, e ela acabou sendo demitida. Eu induzi, expus essas pessoas".
A denúncia
Na denúncia referente a primeira fase da Sodoma, Nadaf é acusado de ter exigido do empresário João Batista Rosa (delator do esquema) a renúncia de um crédito de R$ 2,5 milhões em favor do grupo criminoso, além de ter exigido propinas mensais para manter as três empresas do delator em programa que concedia benefícios fiscais.
Segundo a promotora Ana Bardusco, o ex-secretário utilizava de sua condição de presidente da Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio) para manter relações estreitas e ganhar a confiança do empresariado mato-grossense, o que era de interesse da organização criminosa.
A promotora destacou que, de 2011 a 2014, boa parte dos 246 cheques pagos pelo delator João Batista a título de propina foi entregue pessoalmente a Nadaf, na sede da Fecomércio.
De acordo com a denúncia, o término da gestão Silval Barbosa não impediu Nadaf de dar prosseguimento ao esquema, sendo que apenas mudou o local de onde operava os alegados crimes.
“Necessário reconhecer que ao deixar a administração pública a organização criminosa transferiu o seu “balcão de negócios” da sede do governo estadual para a sede da Fecomércio, fato que fica evidenciado nas reuniões realizadas naquele ambiente pela organização criminosa, como ilustram os contatos com o empresário João Rosa, que constantemente era convidado a se reunir com Pedro Nadaf e Marcel Cursi naquela sede”, disse Ana Bardusco.
Outra prova do “uso criminoso do espaço físico da Fecomércio” é o fato de a diretora financeira da federação, Karla Cintra, ser considerada o “braço direito” de Nadaf e, em tese, ter colaborado para a lavagem do dinheiro recebido de propina.
“Veja, desse modo, que além de ser responsável por controlar os pagamentos da propina realizada por intermédio da NBC [empresa da qual era sócia], tinha tarefa similar em relação aos cheques diretamente recebidos por Pedro Nadaf. A integração de ações e vontades ente ela e Pedro Nadaf é inquestionável e, foi por intermédio dele, que aderiu a organização criminosa”, afirmou a promotora.
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