AIRTON MARQUES
DA REDAÇÃO
O ex-deputado José Riva, réu na ação penal derivada da Operação Célula-Mãe, afirmou que vai explicar a origem do dinheiro gasto para assistencialismo na Assembleia Legislativa de Mato Grosso no seu interrogatório, marcado para o dia 28 de março.
“Eu tenho certeza que a sociedade mato-grossense saberá que não houve desvio de um centavo. Pelo contrário, não teve dinheiro público mais bem utilizado do que esse. E isso eu vou provar no dia 28 de março”, declarou Riva.
A declaração foi dada aos jornalistas, no fim da audiência de instrução realizada na tarde desta segunda-feira (22), quando mais testemunhas de defesa dos réus foram ouvidas.
Eu tenho certeza que a sociedade mato-grossense saberá que não houve desvio de um centavo. Pelo contrário, não teve dinheiro público mais bem utilizado do que esse
O ex-parlamentar é um dos acusados na ação que tramita na Vara Contra ao Crime Organizado da Capital e que investiga um suposto esquema que teria desviado cerca de R$ 1,7 milhão dos cofres públicos e contado com a participação de servidores e advogados, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso.
De acordo com a denúncia formulada pelo Gaeco, o suposto estratagema consistiria na simulação de compras para justificar os gastos com as “verbas de suprimento” (já extintas), que eram recebidas no gabinete do então parlamentar, entre 2011 e 2014.
Além de Riva, também são réus no processo: os ex-chefes de gabinete do ex-parlamentar, Geraldo Lauro e Maria Helena Caramelo; e os ex-servidores da Assembleia Legislativa e colaboradores da ação, Hilton Carlos da Costa Campos e Marisol Castro Sodré.
As audiências serão retomadas na próxima quarta-feira (24), quando será ouvido o deputado Mauro Savi (PR) e os colaboradores da ação penal, Hilton e Marisol. Riva, Maria Helena e Geraldo serão interrogados no dia 28 de março.
Casa de apoio
Na audiência desta segunda-feira, servidores da Casa de Leis, ligados ao gabinete do ex-parlamentar, afirmaram que prestavam serviço a diversas pessoas carentes, que procuravam Riva solicitando ajuda, como, até mesmo, pagamento de exames e consultas médicas.
O servidor da Assembleia, José Antunes de França, declarou que diversas pessoas eram trazidas do interior do estado para buscarem atendimento médico na Capital e que o gabinete do ex-deputado Riva chegava a encaminhar estas pessoas para uma casa de apoio. Local em que dormiam e conseguiam agendar consultas médicas.
José Antunes chegou a ser prefeito do município de Castanheira.
“Quando fui prefeito de Castanheira, nos anos de 2009 e 2012, solicitava o apoio do gabinete do ex-deputado José Riva. O apoio solicitado era, em sua maioria, na área da saúde. Os pacientes eram atendidos em uma casa de apoio. A região não tinha nenhum hospital. Tudo era Cuiabá. A gente ligava e pedia apoio na Assembleia. Tanto alimentar quanto correr para buscar atendimento médico”, declarou a testemunha.
O servidor afirmou ainda que tinha conhecimento de que o deputado ajudava financeiramente tais casas de apoio. No entanto, não soube informar a origem do dinheiro que era destinado para estes locais.
O ex-deputado, no fim da audiência, declarou que não só ele ajudava a manter estes locais, como também outras instituições, que as utilizavam para indicar pessoas carentes.
“Essa verba de suprimento eu vou provar no meu interrogatório como eram usadas [...] Havia uma casa de apoio que atendiam pessoas carente, que não encontravam apoio no SUS e no poder público. Eram mantidas por várias instituições. Não eram só deputados que colocavam pessoas lá”, declarou.
Célula-Mãe
A Operação Célula-Mãe foi deflagrada em outubro de 2015. O suposto esquema teria desviado cerca de R$ 1,7 milhão dos cofres públicos e contado com a participação de servidores e advogados.
Além de Riva, Maria Helena e Geraldo Lauro, outros 21 réus respondem a uma ação em separado pelos mesmos fatos.
Segundo as investigações, José Riva comandaria o suposto esquema e os servidores seriam os responsáveis por receber o dinheiro das verbas de suprimento, montar as fraudes, coagir servidores e “blindar” o ex-deputado.
Conforme o Gaeco, Riva se utilizava de parte do dinheiro para a manutenção de “mensalinho” para políticos e lideranças do interior do Estado.
Além disso, as investigações concluíram que os recursos bancariam uma série de “mimos”, que seriam distribuídos a "inúmeras pessoas físicas e jurídicas, tanto da Capital, como do interior de Mato Grosso".
Entre os itens citados pelo Gaeco, estão a distribuição de uísques, o pagamento de festas de formaturas (inclusive, de faculdades particulares), jantares, serviços de massagistas, entre outros.
O promotor Marco Aurélio de Castro, chefe do Gaeco, disse que a investigação também constatou que o ex-deputado se utilizava dos recursos desviados para abastecer suas aeronaves particulares e custear despesas com honorários advocatícios.
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