LUCAS RODRIGUES E AIRTON MARQUES
DA REDAÇÃO
O ex-deputado estadual José Riva confessou que indicou parte das contas usadas para o “retorno” dos R$ 9,4 milhões supostamente desviados da Assembleia Legislativa, mas garantiu que o esquema teria sido orquestrado pelo deputado estadual Romoaldo Junior (PMDB).
A declaração foi dada no interrogatório que ocorre na noite desta sexta-feira (15), relativo à ação penal derivada da Operação Ventríloquo, deflagrada em julho de 2015.
No depoimento, Riva também afirmou que o deputado Mauro Savi e a ex-deputada Luciane Bezerra foram beneficiados pelo esquema.
Ele contou à juíza Selma Arruda que só ficou sabendo do “acordo” para a concessão indevida de créditos ao então advogado do HSBC e delator do esquema, Joaquim Fábio Mielli
Não é justo que eu passe como líder de uma coisa que eu não fui
Camargo, após o pagamento já ter sido liberado, em 2014.
“Não pedi nenhuma porcentagem. Fui comunicado que já havia sido feito o acordo. Depois Romoaldo me comunicou que, no acordo, seria devolvido 45%. Falou que se eu tivesse alguma conta a pagar, eu poderia falar para ele”, afirmou.
Em lágrimas, Riva justificou que resolveu falar o que sabia em razão de “não suportar mais” carregar a carga da denúncia em suas costas.
“Não é justo que eu passe como líder de uma coisa que eu não fui", disse.
Contas indicadas
Riva admitiu ter indicado várias contas as quais o advogado Joaquim Mielli teria depositado parte do valor recebido no acordo com a Assembleia.
Na época, Mielli havia dito ao banco HSBC que os créditos não haviam sido liberados, mas o banco soube do acordo por meio do advogado Julio César Rodrigues, que dedurou o alegado esquema por não ter ficado satisfeito com os R$ 372 mil recebidos.
O ex-presidente da Assembleia disse que não se recorda de todas as contas que indicou para o “retorno” dos valores.
Porém, ele listou um repasse de R$ 450 mil à União Avícola, feito em cinco parcelas; um repasse de R$ 230 mil a um destinatário chamado “Iramed”; e dois depósitos de R$ 500 mil à Tauro Motors.
Riva também citou outros depósitos feitos em contas supostamente indicadas pelo deputado Romoaldo Junior, a exemplo dos repasses de R$ 714 mil à Redeshop e de R$ 241 mil ao Canal Livre.
Segundo Riva, o deputado Mauro Savi (PR) e a ex-deputada Luciane Bezerra também teriam indicado contas. Mais de R$ 1 milhão teria sido depositado em contas ligadas a Mauro Savi, conforme Riva.
Não vou poupar ninguém pela verdade. O que for meu, eu vou assumir. Não vou jogar a culpa em ninguém
Promessa de colaboração
O ex-deputado afirmou que irá colaborar para o esclarecimento dos fatos e pediu mais tempo para buscar documentos que provem o que ele contou no interrogatório.
"Quando decidi pela confissão, minha intenção era contribuir. Não teria motivo para vir aqui fazer uma confissão meia boca", disse.
Ele adiantou que pretende "devolver tudo" o que recebeu no esquema.
"Não vou poupar ninguém pela verdade. O que for meu, eu vou assumir. Não vou jogar a culpa em ninguém", afirmou.
“Sem privilégios”
Riva ainda rebateu a acusação do advogado Julio César Rodrigues, que o acusou de ter privilégios e “mandar” no Centro de Custódia da Capital (CCC), local onde estava preso até o início do mês.
"Nunca recebi privilegio em presídio. Tanto é que estava com mais dois detentos na cela", disse.
O político relatou que no CCCC todos sabiam que Julio César seria solto hoje, “pois ele gritava que viria hoje e entregaria todo mundo".
A juíza Selma Arruda atendeu ao pedido de Riva para buscar mais documentos. Ela marcou novo interrogatório para o dia 20 de maio, ocasião em que o ex-deputado responderá aos demais esclarecimentos relativos ao caso.
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