CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO
O cabo da Polícia Militar Gerson Correa - delator do esquema conhecido como Grampolândia Pantaneira – afirmou que a divulgação de áudios do ex-governador Silval Barbosa foi feita para trazer “viés pirotécnico” à Operação Ouro de Tolo, deflagrada em 2015.
A Ouro de Tolo é a segunda fase de outra operação denominada Arqueiro. Esta investigou um esquema que teria operado na Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas), entre 2011 e 2013, e desviado R$ 2,8 milhões por meio de convênios fraudulentos. A sua segunda fase prendeu a então secretária da Setas e primeira-dama do Estado Roseli Barbosa.
Segundo Gerson, os promotores do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) à época - Marco Aurélio de Castro e Samuel Frungilo - vazaram os áudios à imprensa para fazer “estardalhaço”.
“Quando eu falo 'manipulação seletiva de áudios', eu falo em fazer um estardalhaço que o Gaeco em algumas situações fez. Como ocorreu com o vazamento de áudios de conversas oriundas dessa investigação com o senhor desembargador Marcos Machado, com o senhor ex-vice-presidente da Republica Michel Temer”, disse.
“Então, quando falo em manipulação seletiva, na verdade é para poder pegar o fato de uma investigação e jogar a imprensa para trazer o viés pirotécnico. E isso aconteceu nessa operação”, completou.
Quando eu falo 'manipulação seletiva de áudios' eu falo em fazer um estardalhaço que o Gaeco em algumas situações fez. Como ocorreu com o vazamento de áudios de conversas oriunda dessa investigação
A informação foi dada durante depoimento como testemunha na tarde do dia 13 de fevereiro ao juiz Jorge Luiz Tadeu Rodrigues, da Sétima Vara Criminal, no âmbito da Operação Ouro de Tolo. Gerson trabalhou dentro do Gaeco por cerca de 12 anos e saiu do grupo em 2014.
Durante o depoimento, Gerson confirmou informações que já havia dado na ação conhecida como “Grampolândia Pantaneira”, na Justiça Militar. Em dezembro, houve o julgamento da ação e Gerson recebeu o perdão judicial.
Conversas vazadas
As conversas vazadas ocorreram em 2015. Em setembro, vazou um diálogo entre o então governador Silval Barbosa e Nara de Deus Vieira, chefe de gabinete do vice-presidente da República, Michel Temer.
No diálogo, o ex-governador estaria tentando usar de influência política para obter a soltura da esposa, Roseli Barbosa, presa durante a Operação Ouro de Tolo.
Dias antes, houve o vazamento de gravações de conversas telefônicas entre Silval, um advogado não identificado e o desembargador Marcos Machado.
O cabo da Polícia Militar garantiu que o vazamento foi feito com cunho pessoal, mas não detalhou.
“Posso dizer com toda certeza, que esse fato nessa operação Ouro de Tolo aconteceu isso. E o objetivo era de cunho pessoal de alguns membros do MPE”.
Auditoria no Guardião forjada
Gerson ainda reafirmou que o sistema Guardião – tecnologia responsável por realizar as interceptações telefônicas – passou por uma falsa auditoria.
Segundo ele, para esconder as práticas de “barriga de aluguel” cometidas por vezes sem intenção. “Barriga de Aluguel” é uma tática ilegal feita quando números de pessoas comuns são listados como se pertencessem a alvos de investigações policiais.
“Eu participei de investigações que ocorreram, sim com erros, alguns dolosos e outros culposos, em algumas investigações cujo resultado o MPE escondeu, como a auditoria que deveria ser realizada dentro do Sistema não foi realizada”.
“Cito por exemplo a Operação Ouro de Tolo. Trouxe esse exemplo, no que concerne ao alvo senhora Roseli Barbosa. Quando ela foi alvo de investigação, tem toda um história por trás que remete à modalidade ‘barriga de aluguel’, porque Silval e filhos não eram alvos dessa investigação. E teve a anuência dos promotores de Justiça do Gaeco. Falo isso porque eu fiz esse levantamento”, disse.
Veja trecho da audiência:
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