KATIANA PEREIRA
DO MIDIANEWS
O delegado da Polícia Federal (PF) Cristiano Nascimento afirmou, na tarde desta sexta-feira (19), que não descarta a possibilidade de servidores de órgãos públicos, como a Justiça Eleitoral, terem participado da clonagem de documentos oficiais – títulos de eleitor, RGs e comprovantes de votação - que foram encontrados jogados dentro do córrego da Capela do Piçarrão, na zona rural de Várzea Grande, na quinta-feira (11).
“É uma hipótese que nós não podemos descartar. Neste momento inicial da investigação estamos trabalhando com todas as hipóteses e linhas de investigações possíveis. Nada pode ser descartado. Nenhuma possibilidade de identificação de autoria foi ou está sendo descartada”, ressaltou.
Um fato que chamou a atenção do delegado federal é que os únicos documentos que parecem ser originais são os comprovantes de votação que estavam jogados no córrego.
“Encontramos comprovantes de votação, de emissão da Justiça Eleitoral. Eles estão em formulário contínuo, do mesmo tipo que a Justiça Eleitoral utiliza, o mesmo tipo de letra, com característica de serem autênticos ou verdadeiros. O detalhe curioso, é que apesar de estarem em formulários contínuo, pertencem a zonas e seções diferentes. O normal é que os comprovantes de uma mesma zona e seção estejam agrupados no mesmo formulário, isso me chamou muito a atenção”, disse.
O delegado disse ainda que informações mais detalhadas relacionadas à autoria das falsificações serão obtidas com o avanço das investigações. “Na medida em que formos avançando nas investigações, que as entrevistas forem feitas, as informações forem sendo depuradas e cruzadas, teremos um ciclo de suspeitos menores. No momento tudo é possível”.
Falsificações grotescas
A investigação da Polícia Federal constatou que os 92 RGs e 27 títulos de eleitor encontrados têm evidencias de serem falsificados, pois estão com erros grotescos.
"Todos os RG têm a mesma data de emissão, foram feitos a partir da mesma certidão de nascimento e em muitos deles nome de pai e mãe estão repetidos. Identificamos essas características que evidenciam que os documentos são falsos. Somente a pericia oficial vai poder dizer se o suporte [papel onde os documentos foram impressos] são falsos ou originais”, explicou.
Os documentos de identidade estavam sem as fotografias e alguns sem assinaturas, o que, segundo o delegado, comprova que não foram utilizados. "Esses documentos, desse jeito, não seriam aceitos nas seções. Mas também havia títulos de eleitor já assinados e plastificados, prontos para o uso.
Votação suspeita
O delegado também frisou que a situação possui várias vertentes, inclusive pelo fato de cinco eleitores terem procurado a Polícia Federal no dia das eleições. Eles relataram que outras pessoas votaram em seus nomes.
“Essas pessoas foram atendidas por agentes da Polícia Federal, que estavam de plantão nas seções. Lá mesmo elas foram qualificadas e tiveram seu testemunho tomado. Também colhemos as informações grafológicas desses eleitores. Agora vamos confrontar essas grafias com as que estão registradas no livro de votação”.
Caso seja comprovada a autoria das falsificações e utilização dos documentos falsos, os autores podem ser autuados pelos crimes de falsificação de documento público e utilização de documentação falso.
O delegado ressaltou que ainda é cedo para se falar em compra de votos na eleição de Várzea Grande, mas caso a investigação siga para essa linha, a suspeita será apurada com rigor.
Resultados
A eleição foi vencida pelo deputado estadual Wallace Guimarães (PMDB), que obteve 47.338 votos (35,14% dos válidos). Na segunda posição ficou Lucimar, com 44.286 votos (32,87% dos válidos), seguida pelo prefeito Tião da Zaeli (PSD), com 41.272 cotos (30,63% dos válidos).
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