ALLAN PEREIRA
Da Redação
Os casos de infecção e internação de pacientes com covid-19 (a doença causada pelo coronavírus) foram maiores onde ocorreram incêndios florestais em cidades próximas ou nas áreas da Amazônia Legal e do Pantanal, sugere um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicada no livro "Covid-19 no Brasil".
O estudo buscou apontar uma correlação entre as queimadas nesses dois biomas, do qual Mato Grosso faz parte, com os casos de covid-19. Em 2020, o Pantanal brasileiro passou por um grande incêndio que devastou 40% do seu território. Já na Amazônia, houve aumento de casos devido a incentivos para grilagem e exploração de terras.
A partir da análise dos dados do Ministério da Saúde, os pesquisadores Tatiane Cristina Moraes de Sousa, Sandra de Souza Hacon e Christovam Barcellos encontraram três áreas consideradas vulneráveis para casos de covid-19 devido às queimadas, sendo duas em Mato Grosso.
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A primeira se encontra no arco do desmatamento no norte de Mato Grosso, para a expansão da agropecuária e extração de minério, impactando diretamente diversas comunidades indígenas do Parque do Xingu. Já a outra está no Pantanal, que registrou elevada taxa de casos e óbitos por covid-19.
Os pesquisadores apontam que as duas regiões têm como agravante a escassez e a precariedade dos serviços de saúde para as respectivas populações.

A pesquisa sugere que a correlação entre queimadas e casos de covid-19 pode ocorrer fumaça e demais poluentes emitidos durante o processo de queima. Além de gases que aumentam o efeito estufa, os incêndios lançam elevada concentração de material particulado.
Segundo os pesquisadores, é claro na literatura científica a associação entre material particulado fino e surgimento, ou agravamento de infecções respiratórias, mas as alterações provocadas por esses materiais no sistema respiratório de pessoas expostas às queimadas podem resultar em aumento nos casos de covid-19.
Estudos preliminares realizados na China identificaram aumento de 6% no risco de morte pelo coronavírus em Pequim, quando havia exposição prolongada a material particulado fino, de cinco de dias.
Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também identificou uma elevação de 30% na internação por doenças respiratórias de crianças da Região Norte do país, moradoras próximas às áreas de queimadas, em comparação com outras residentes em outras áreas.
"Desse modo, em virtude da conhecida associação entre material particulado oriundo de queimadas e aumento na suscetibilidade e gravidade de doenças infecciosas agudas do sistema respiratório e do histórico de aumento de internações durante os períodos de queimadas na Amazônia, é possível inferir o aumento na demanda por serviços de saúde, principalmente internações, durante o período de intensas queimadas que têm ocorrido na Amazônia Legal e no Pantanal, além do potencial aumento de casos graves de Covid-19 devido à suscetibilidade causada pela exposição prévia às fumaças", registra a pesquisa.
Os pesquisadores alertam também que, mesmo que não haja infecção pelo coronavírus, as pessoas afetadas pela fumaça podem enfrentar problemas de atendimento na rede de saúde, já que as unidades estarão comprometidas para atender os doentes da covid-19.
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