EDUARDO MAHON
O personalismo político é tão atraente como repulsivo. No início, costumamos apostar na figura do herói, do salvador, do xerife, quando não nas três imagens unidas numa única pessoa, como no caso do atual Governador Pedro Taques.
Era bastante simples a opção de voto, após a passagem da nuvem de gafanhotos que devastou Mato Grosso. Eu mesmo cheguei a lançar Taques à Presidência da República por três motivos razões: não havia (e não há) candidato moralmente decente, Taques vinha de uma excelente performance no Senado e, ainda, poderia consertar o estrago que garimpeiros amadores fizeram às contas públicas do Estado.
Portanto, era natural a esperança. Ocorre que, quanto maior a esperança, maior a frustração. A atração pelo chefe, pelo líder, pelo homem que prometia a moralização da máquina pública foi dissolvida em repulsa pelo megalômano, pelo egocêntrico, pelo capataz-administrador que menospreza de servidores a parlamentares.
Em tempos tão bicudos como os nossos um governador deve ser mais simpático que a própria miss simpatia, para manter a motivação, a autoestima, a convicção no projeto, mesmo diante da crise financeira
Nas pesquisas mais sérias, a enorme rejeição não se volta contra o governo e sim contra o governador. Por que? Pela crônica antipatia. Ele diz – e disse comigo ao lado – que fez concurso para miss simpatia.
Parece, no entanto, que estamos lidando com o vencedor do troféu miss antipatia. O político é um homem público que tem obrigação de ser simpático, de atender bem, de ser educado e atencioso, de mostrar-se solícito e sensível aos problemas dos outros. Diria, inclusive, que em tempos tão bicudos como os nossos um governador deve ser mais simpático que a própria miss simpatia, para manter a motivação, a autoestima, a convicção no projeto, mesmo diante da crise financeira. Não é o único problema.
A teimosia com a comparação, a fixação em medir-se com um criminoso, preso, confesso, rebaixou a figura de Pedro Taques, até porque muitos aliados ficaram (e ainda ficam) constrangidos por terem apoiado o adversário criticado. Novamente, uma falta de sensibilidade política.
Durante o governo, Taques desprezou completamente a tradição política mato-grossense, incorporando a síndrome petista do “nunca antes na história”. Cheguei a ver o Governador assegurando, em matéria de cultura, muitos fatos inéditos que, no final das contas, tratam-se de reedições de atos passados sem o devido crédito. O resultado vê-se a olhos desarmados: museus fechados, artistas sem receber, contratos não cumpridos.
A altíssima rotatividade de secretários – um a um, investigados, presos ou simplesmente improdutivos, já demonstra que o Governador – estreante na política – não vinha com uma equipe, um grupo, uma aliança. Fez questão, ao revés, de sublinhar o caráter técnico do primeiro escalão quando, na verdade, o que precisávamos era de diálogo, de boa vontade, de estrutura política capaz de administrar as frustrações que cimentaram um caminho pedregoso da rejeição.
No início, o que havia de errado no governo Taques era ter Taques demais no governo. Explico: espera-se de um homem com dificuldades de articulação, de comunicação e de simpatia, alguém com esse talento para fazer o meio-de-campo na Casa Civil. Blindando-se da “turba bandoleira”, Taques duplicou-se e entronizou outro Taques na articulação política, sofrendo o rescaldo de críticas mornas, o banho-maria lento e a repulsa velada dos agentes políticos que tratavam com o Palácio Paiaguás e encontravam uma cápsula, uma redoma, uma muralha em torno do governante.
Também tive ocasião de apontar o grave equívoco de comunicação, preferindo o Governador rivalizar com questões miúdas, numa linguagem técnica, pouco popular e dialógica. A ironia, tão bem-vinda nos debates, é um veneno na boca do governante a se asfixiar de arrogância.
Havendo uma alternativa viável, prefiro colar os cacos das esperanças espatifadas e entregar a alguém mais político, mais parceiro, mais leal, mais dialógico, mais cordial, mais humilde, mais estrategista, mais eficiente e, sobretudo, mais simpático.
Por derradeiro, cito o equívoco, o gravíssimo desencontro lógico, de culpar o funcionalismo público pela crise financeira. Se realmente fosse esta uma verdade, deveria o Governador manejar os artifícios jurídicos adequados para cassar vantagens ilegais, aumentos inconstitucionais, equiparações financeiramente insustentáveis.
A mesmíssima artilharia deveria voltar-se contra contratos equivocados ou fraudulentos (como o do VLT que chegou a ser defendido pelo Governo e Secretários de Estado, buscando inclusive autorização legislativa para novos empréstimos), que curiosamente foram mantidos ou mesmo aumentados.
Não, não estou insinuando corrupção. Prefiro não pensar que o Governador tenha relação com qualquer dos fatos que levou tantos Secretários à cadeia, inclusive por corrupção. Ainda quero desacreditar nos depoimentos de réus, de colaboradores, de antigos aliados financeiros e acreditar que o tropeço administrativo de Taques deve-se única e exclusivamente a equívocos pessoais e políticos.
Se vou votar em Taques em 2018? Nem os aliados que ainda frequentam feijoadas do Governador sabem se votam nele. Não há pior solidão do que o próprio vice criticar a gestão da qual faz parte. O resta de melhor?
Para mim – e para milhares de mato-grossenses – o voto virou um excruciante jogo do “menos pior”. Havendo uma alternativa viável, prefiro colar os cacos das esperanças espatifadas e entregar a alguém mais político, mais parceiro, mais leal, mais dialógico, mais cordial, mais humilde, mais estrategista, mais eficiente e, sobretudo, mais simpático.
Porque, afinal de contas, errar uma vez é humano, duas já é burrice.
EDUARDO MAHON é advogado
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