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OPINIÃO Segunda-feira, 07 de Novembro de 2011, 12:46 - A | A

07 de Novembro de 2011, 12h:46 - A | A

OPINIÃO / EDUARDO MAHON

Mosquito da burrice

As universidades pensam ajustar a desigualdade social na base do decreto

EDUARDO MAHON



No artigo anterior, não critiquei propriamente a plataforma de quotas das instituições estatais de ensino superior. Simplesmente, pontuei que, se políticos fossem obrigados a matricular seus próprios filhos em escolas publicas de ensino fundamental e médio, certamente a qualidade do aprendizado melhoraria. Por motivos óbvios. Foi apenas isso, sem entrar no mérito do interesse, utilidade, constitucionalidade da medida de reserva de vagas.

Neste ensaio sim, gostaria de firmar posição sobre a decisão universitária de reservar suas vagas aos discentes negros, de origem pobre ou de ensino estatal. Parece que o Brasil quer imitar as politicas afirmativas norte americanas que foi capaz de produzir um presidente negro, embora haja uma marcada tendência ao preconceito, a segregação e a fragmentação social entre brancos e negros, conservadores e liberais, republicanos e democratas. As sociedades são bem diferentes, mas isso não importou...

As universidades pensam ajustar a desigualdade social na base do decreto e, mirando a realidade atual, não querem deixar passar o tempo para que a melhoria no ensino básico seja sentida. Dessa forma, abreviando o processo pela urgência social, pretendem intervir na realidade de forma brusca, perseguindo uma igualdade imediata sobre um preconceito secular que não suporta esperar nem um dia sequer. Não deixa de ser profundamente nobre e ética a opção universitária, mas de boas intenções, como pontifica o ditado, o inferno vai enchendo.

Temos algumas questões preliminares a enfrentar. Quem classifica a cor da pele do candidato? Haveria auditoria, caso um meio branco quisesse se confundir com um completamente negro? Quão negro, mulato, mameluco, moreno, pardo um cidadão tem que ser para pleitear essa vaga? E o pobre? Classe media pode ser dividia entre classe media baixa, media-media e media rica? A perplexidade seria digna daquela famosa composição de Caetano: só pra mostrar aos outros quase pretos (e são quase todos pretos), e aos quase brancos pobres como pretos, como é que pretos, pobres e mulatos, e quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados.

Podemos continuar problematizando. Anotem a situação das mais intrigantes. Um filho de família abastada faz matricula num colégio municipal e toma aulas particulares com os melhores professores da cidade, assim como efetua matricula em cursinhos de reforço. Ao final de sua penosa jornada pelo ensino estatal, não haverá qualquer sombra de competição, porque inevitavelmente este estudante terá muito mais chances que seus colegas, disputando com os mesmos, num nível infinitamente superior.

Aqui vai uma receita pra vaga garantida em universidades federais, para os concorridos cursos de Medicina, Direito, Arquitetura, Engenharia: de imediato, migre para uma escola estadual e efetue a sua inscrição em cursos paralelos de língua portuguesa e estrangeira, exatas e humanas. Você terá maiores chances matemáticas porque estará concorrente não com alunos iguais do ensino particular e sim disputando com alunos do ensino publico que não tem qualquer condição de complementar os estudos com outras alternativas de alto gabarito.

Não se consegue mensurar o quão imbecil é o pensamento que assaltou a universidade federal. Pode ser um espasmo populista de ordem esquerdista, uma recorrente cegueira ideológica ultrapassada, transmitida por algum mosquito latino americano. Ou, finalmente, o resultado daqueles que tinham livros verdes, vermelhos e pretos como manual de catecismo na adolescência. Mas, tudo bem. De agora em diante um estudante quotista terá a marca da segregação intelectual na cor da pele. Salvem UFMT dela mesma! Exterminem esse mosquito que picou os dirigentes.

 

EDUARDO MAHON é advogado

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