ALEXANDRE ATHENIENSE
Após retornar de mais uma edição do ABA Techshow, organizado pela American Bar Association em Chicago, gostaria compartilhar com os leitores algumas impressões que colhi sobre as tendências da prática da advocacia neste início de século.
A mobilidade que vem sendo propiciada pelos dispositivos móveis de comunicação, sejam smartphones ou tablets, estão impulsionando cada vez mais a prática da advocacia para o meio eletrônico. A partir daí, surgem novos desafios que deverão ser vencidos nos próximos anos para que a tecnologia possa criar maior comodidade e aprimorar a prestação de serviços para os clientes do século XXI. Esta mudança demandará a inevitável necessidade dos escritórios em armazenar todo o seu conteúdo de peças em ambientes virtuais, facilitando o acesso e compartilhamento de arquivos entre colaboradores e clientes. Uma das mais poderosas ferramentas para esse fim é o Box.com, embora a mais popular seja o Dropbox.
Isto não significa dizer que o escritório de advocacia perderá o controle sobre o gerenciamento de seu patrimônio digital composto por diversos trabalhos jurídicos que consumiram inúmeras horas de trabalho. Esses programas são oferecidos a preço razoável e são cobrados por uso anual ou mensal e por número de usuários. A maioria deles possuem minuciosos recursos de auditabilidade, que permitem o amplo monitoramento de produtividade e todos os acessos realizados aos arquivos, evitando ou alertando sobre o vazamento de informações para terceiros.
Por outro lado, o atendimento remoto por videoconferência por meio de programas como o Gotomeeting já é uma realidade fácil de ser assimilada. Esse recurso encurta as distâncias, diminui o número de viagens e deslocamentos e, sobretudo, quebra barreiras geográficas para a efetiva prestação de prestação de serviços jurídicos. Entretanto, a maioria dos escritórios ainda não atentou para a importância de se criar uma estrutura de atendimento desse porte, a partir de uma natural demanda que surge a partir da busca da expertise de um profissional localizado por uma ferramenta de busca na internet.
Esse plano de contingenciamento inclui ainda a necessidade da adoção de novas formas de pagamento simplificadas e eletrônicas, inclusive pelo uso de cartão de crédito, o que é permitido pela OAB.
No Brasil, esta migração para o mundo digital não será causada apenas por demanda dos clientes, mas, sobretudo, pelo Judiciário, na medida em que surjam novas práticas processuais por meio eletrônico nos tribunais.
A advocacia digital demanda uma nova visão estratégia sobre como o advogado deverá se posicionar no planejamento de sua presença online, seja firmando-se como formador de opinião em sua área de atuação por meio de blogs, seja buscando o próspero networking por meio das redes sociais.
Já existem soluções no mercado como o software Yammer, que permite que o escritório crie a sua própria rede social interna, sejam com seus clientes ou parceiros, tornando a comunicação muito mais rápida e eficiente do que a tradicional troca de e-mails.
Não tenho dúvidas de que, em pouco tempo, com a crescente desmaterialização do papel nas atividades profissionais, surgirá um novo modelo de negócio para a advocacia. Estar atento às mudanças advindas do mundo digital passa a ser uma tarefa imperativa que naturalmente está sendo assimilada pela nova geração. Quem não se conectar a essas mudanças vai ser uma vítima do apartheid digital. É inegável que a resistência à mudança é própria do ser humano, mas esse é um caminho sem volta.
Alexandre Atheniense - é advogado especialista em Direito Digital, sócio de Aristóteles Atheniense Advogados e coordenador da pós-graduação em Direito de Informática da ESA OAB-SP.
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