RENATO DE PAIVA
Na semana passada escrevi neste espaço um artigo criticando a redação empolada e pernóstica dos profissionais do direito.
Entre as manifestações que recebi uma chamou-me a atenção. Foi o desabafo de um advogado local dizendo que a escrita complicada do meio jurídico é um problema menor. O maior, ele afirma, são as peças produzidas por profissionais atualmente , simples cópias baixadas da internet, e que, na sua incompetência, os advogados fazem uma mistura tão grande no copiar/colar que ao final o juiz não sabe o que ele está pedindo e a outra parte tem problemas para defender-se porque não entende o que está escrito.
Pelo que o leitor garante, grande parte dos advogados que estão aí militando, não tem a menor condição de escrever empolado, pois nem escrever eles sabem.
Aí, conversando com um professor de uma faculdade de direito aqui da capital, fui me inteirando do tamanho do problema.
As faculdades de direito no Brasil, não gozam de boa fama. Há muitas décadas elas criaram a formação à distância, mesmo antes da Internet que hoje junta alunos e professores. Os tais cursos vagos colocaram no mercado um monte de advogados totalmente despreparados. Na época nem havia o exame de ordem, que de alguma forma seleciona os profissionais.
Hoje parece que o grande vilão é o FIES. As faculdades particulares encontraram nesse sistema uma forma de conseguirem grande volume de alunos e perceberam que reprová-los é um péssimo negócio. Se os reprova no primeiro ano, desfalcam o segundo, e deixam de matricular um novo candidato. Talvez este financiamento não seja tão mau na intenção, mas a ganância dos empresários do ensino o transformou em um câncer.
Soube que os diretores de faculdades exigem a aprovação em massa dos alunos para garantir o faturamento com novos alunos do FIES. Mesmo sem condições de escrever um único parágrafo entendível os futuros advogados vão sendo aprovados.
A julgar pelo volume de peças claramente copiadas da Internet, segundo informa o leitor, parece que até a OAB está falhando no processo de seleção.
Creio que alguns vão questionar este texto dizendo-o elitista. Vão alegar que sou contra o FIES porque é direcionado para pessoas mais pobres. Mas não é verdade. O que se busca é mérito, independente da classe social. Também o FIES não é o único responsável pela qualidade dos advogados, ele apenas veio piorar algo que já era muito ruim.
Sei que esse “mérito” sempre vai aparecer mais nas esferas mais ricas da população. A razão é que pessoas abastadas podem dedicar somente aos estudos e os pobres precisam conciliar trabalho e academia, o que torna muito difícil a competição para eles.
Mas o capitalismo é mesmo assim. A vida quase sempre não é justa, ela “privilegia” uns que nascem na abundância e nega o mesmo favor a outros. A igualdade tão discutida ainda não foi
alcançada e, provavelmente, nunca será. As tentativas de nivelar as pessoas, várias vezes tentadas no mundo, foram um verdadeiro fiasco.
A faculdade por muito tempo não será universal, e nem necessária a todos. Mesmo nos países mais desenvolvidos há uma grande procura por cursos técnicos, principalmente porque o crescimento tecnológico exige mão-de-obra especializada.
Talvez fosse melhor o país investir em um bom ensino técnico, produzindo profissionais de que o país precisa, do gastar a grana no ensino superior, jogando no mercado um monte de
candidatos ao desemprego. Primeiro porque não há trabalho para tanta gente diplomada, segundo, porque as faculdades, preocupadas com as mensalidades, esquecem de lhes ensinar a profissão.
Renato de Paiva Pereira – Escritor e empresário.
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