JÔNATAS PULQUÉRIO
O Plano Safra é, sem dúvida, um dos pilares fundamentais que sustentam o crescimento e desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Ao longo de sua história, ele proporcionou crédito acessível a milhares de produtores rurais, garantindo os recursos necessários para impulsionar a produção e modernizar o setor. No entanto, à medida que o agronegócio brasileiro avança e enfrenta novos desafios, como as mudanças climáticas e a volatilidade dos mercados, surge a necessidade de aprimorar o Plano Safra para melhor atender às demandas do setor.
Uma questão que merece destaque é a articulação entre o financiamento rural e as políticas de mitigação de risco, como o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). O PSR tem sido um instrumento importante para proteger os produtores rurais contra perdas provocadas por eventos climáticos adversos, como secas e enchentes, que são cada vez mais frequentes. No entanto, a ausência de valores específicos destinados ao PSR nos anúncios do Plano Safra 2023/24 e 2024/25 levanta uma preocupação sobre a integração dessas duas áreas fundamentais – financiamento e mitigação de risco.
A concessão de crédito é essencial para o crescimento do setor, mas sem a devida articulação com as políticas de seguro rural, a estabilidade financeira dos produtores pode ser comprometida em momentos de crise. A integração entre essas políticas não só protegeria a renda dos produtores, mas também contribuiria para a resiliência do agronegócio diante das adversidades climáticas.
Além disso, o modelo de crédito rural precisa se adaptar à nova realidade dos produtores. Muitos já não dependem exclusivamente do sistema bancário tradicional para financiar suas operações, recorrendo a alternativas como barter, arrendamento e contratos com redes de distribuição. Nesse contexto, é necessário que o Plano Safra explore novas formas de financiamento que estejam em sintonia com as demandas do mercado atual.
Um caminho promissor que está sendo debatido é a utilização de instrumentos financeiros inovadores, como o FIAGRO (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais). O FIAGRO Reorg, por exemplo, poderá ser uma solução eficaz para integrar o mercado de capitais ao financiamento rural, permitindo que os produtores tenham acesso a recursos de forma diversificada e que seus passivos sejam melhor administrados. Acreditamos que esse tipo de inovação pode fortalecer o sistema financeiro agrícola, oferecendo mais flexibilidade e opções para os produtores, especialmente em tempos de crise.
Durante nossa gestão no Departamento de Gestão de Risco Agropecuário do MAPA, trabalhamos para aproximar o mercado de capitais das políticas públicas, com o objetivo de complementar o Plano Safra por meio do FIAGRO e outras iniciativas. A intenção foi abrir novas fontes de crédito, alinhadas às políticas de mitigação de risco, e, com isso, ampliar a resiliência do agronegócio brasileiro. Embora enfrentemos desafios naturais de adaptação, o futuro do Plano Safra pode ser ainda mais promissor com essas integrações.
O Plano Safra, em sua essência, já desempenha um papel fundamental para o sucesso do agronegócio. No entanto, sua modernização e a inclusão de instrumentos financeiros inovadores e integrados às políticas de mitigação de risco são passos necessários para garantir sua continuidade como ferramenta de apoio ao setor.
Ao olharmos para o futuro, é essencial que trabalhemos juntos, governo e mercado, para que o Plano Safra continue evoluindo, atendendo tanto aos grandes como aos pequenos produtores e garantindo que o agronegócio brasileiro permaneça competitivo, sustentável e resiliente diante dos desafios que estão por vir.
Essa evolução, longe de ser uma crítica ao que já foi conquistado, é um reconhecimento da importância do Plano Safra e um convite à inovação e ao fortalecimento de políticas que garantam o crescimento contínuo do setor.
*Jônatas Pulquério é ex diretor de Gestão de Risco do MAPA, bacharel em Administração e Direito e especialista em Agronegócio e Direito do Seguro e Resseguro
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Marcelo 11/10/2024
Tão importante quanto a mitigação de risco seria o engajamento dos produtores grandes e pequenos no combate ao desmatamento e formação de uma política privada de sustentabilidade. Temos experimentado o terrível clima de deserto em 2024 e nada vejo de preocupação por parte desse segmento que depende das chuvas.
1 comentários