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OPINIÃO Quinta-feira, 19 de Julho de 2012, 17:25 - A | A

19 de Julho de 2012, 17h:25 - A | A

OPINIÃO / CHRISTIANE BATISTA

Parece ser outro país

Brasil tem dinheiro, mas não para todos

CHRISTIANE BATISTA



Desde que assisti ao vídeo da campanha publicitária “Vamos Nessa”- estrelada por Caco Ciocler e promovida pela autarquia federal Agência Nacional do Petróleo, vinculada ao Ministério das Minas e Energia - algo me chamou a atenção. É mesmo o Brasil ali?

A campanha tem o objetivo de divulgar os programas da ANP de capacitação profissional na indústria do petróleo. Caco diz “já somos um dos grandes produtores de petróleo do mundo”.

Atores genéricos dizem “o setor do petróleo tem os melhores índices de emprego do país” e “com salários acima da média do mercado”. Ao final, em cenas hollywoodianas chamam os jovens para seguir carreira nos avançados programas de qualificação profissional patrocinados pela agência. De cara, duvido que muitos jovens hoje estudantes da escola pública tenham a base educacional imprescindível para alcançar esta qualificação de primeiro mundo anunciada.

Chegar lá sem entender bem as quatro operações matemáticas ou sendo semi-analfabeto em física vai dificultar um pouco o processo. A menos que haja cotas especiais também na qualificação da ANP para formar um tool pusher, por exemplo. Mas isso é assunto para outro papo.

Na contrapartida do sorridente Ministério das Minas e Energia está o Ministério do Planejamento autodeclarado em crise e do qual serve apenas como interlocutor o Ministério da Educação.

Crise pelo menos diante dos professores universitários em greve. Estes criticam o processo de precarização vivido pelas universidades como consequência principalmente do REUNI, um dos zilhares de programas criados pelo governo com pompa e circunstância em 2007 visando a expansão das universidades federais.

Não obstante, se multiplicam pelo país as queixas de alunos e professores sobre as más condições estruturais das unidades novas ou ampliadas: há jovens estudando em containers ou escolas infantis, esgoto correndo vivo e ausência ou precariedade de laboratórios de pesquisa e bibliotecas. E não obstante ainda os 4,4 bilhões de reais que já foram consumidos pelo programa federal só em obras onde há suspeita de fraudes, atraso em licitações, obras paralisadas e/ou obras atrasadas, segundo dados da CGU em levantamento feito sob amostragem em pequeno número do total de obras do programa.

Pergunto: sabe Deus o que é ser um dos maiores produtores de petróleo no mundo? Em dados de 2011, o Brasil ocupava a colocação entre Kuwait e Emirados Árabes, sendo o nono do planeta. Tem força nas commodities importantes e é um exportador robusto de produtos agrícolas, automóveis, máquinas e minério de ferro. Porém, já no ranking mundial das remunerações de professores universitários feito pela Folha, os profissionais tupiniquins estão em 17º, com a nota de rodapé dizendo que não é possível viver confortavelmente percebendo aquela remuneração.

Pode ser impressão minha, mas acho que tem dinheiro sim, mas depende. Duvida? Abra novamente a Folha de São Paulo e veja que a partir de 14 de junho, data em que Paulo Maluf passou a considerar publicamente a possibilidade de apoiar Haddad em vez de Serra em São Paulo, a liberação de emendas para o PP de Maluf quintuplicou. Até aquela data, a liberação acumulada desde janeiro era de R$ 7,2 milhões.

De um mês para cá, foram mais R$ 36,6 milhões para emendas do partido. Oras, o Ministério do Planejamento alega crise aos professores grevistas. Mas pode ser impressão minha que tem crise só para uns e outros. Para injetar no PP tem verba da grossa. Para investir na campanha da ANP e cuspir na cara dos professores grevistas que ali os salários são acima da média também tem. Digo que essa afirmativa, no atual momento econômico brasileiro, é despudorada e escarnecedora.

“A política econômica está se transformando num emaranhado de medidas desconexas, pontuais, que não estão atuando no sentido de ganhar tempo para que se encontrem estratégias de longo prazo”, adverte Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. “As estratégias de longo prazo passaram a ficar de lado. Estamos perdendo o foco da política econômica”, inquieta-se o especialista do Ipea.

Ele tem razão. O que se vê é ufanismo e maquiagem em estatísticas econômicas do trio parada dura Lula, Dilma e Mantega. Mas para quem está na arena com os leões como nós mortais não tem engano. Vide as montadoras demitindo agora mais de três mil trabalhadores com previsão de mais cortes. O setor já espera fechar o ano em queda.

“Eu acho que não só o setor, mas a economia como um todo precisa de medidas mais estruturantes e que mexam no problema central que torna o Brasil hoje tão pouco competitivo quando comparado com outras economias. É o famoso Custo Brasil que não está sendo atacado”, afirma Flávio Meneguetti, presidente da Fenabrave.

Vale lembrar o que contem no Custo Brasil: o aglomerado de problemas que dificultam o crescimento do país. Alta carga de impostos, juros extorsivos, burocracia, corrupção e falta de estrutura básica como estradas e portos em boas condições e carência de qualificação humana.

Caco Ciocler vai me desculpar. A mídia ficou muito bonita, o texto quer impressionar e consegue. Mas e todas as outras áreas profissionais essenciais, como ficam? Investir sim na área petrolífera sem desdenhar de todas as outras competências desenvolvidas nas universidades federais.

Vendo Caco na tela duvidei que falava do Brasil. Viajei e imaginei uma universidade federal com a cara desta campanha, linda, dinâmica, produtiva e que sabe onde quer chegar. Estimulando professores a estimular os alunos a pesquisa e descobertas. Produzindo profissionais top de linha, como as imagens sugerem. Estruturada e rica, chamando os jovens às ciências subsidiadas por um governo onisciente do seu poder de evolução através da educação.

Foi só uma viagem, voltei para continuar lendo as últimas notícias da greve. “Só a educação vai fazer com que todos sejamos da mesma nação", disse Cristovam Buarque.

Christiane Batista é bacharel em Direito e acadêmica de Letras na UFMT.
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