GONÇALO ANTUNES DE BARROS
Qual a digital de uma máquina? Qual ou quais as digitais de seus programas? Mais especificamente, uma máquina eletrônica tem moral?
Há uma moral implícita em cada tecnologia? Não, não há. Os usuários que não a sabem, mas, como depende dos sujeitos que a opera, a moral, aqui, é plúrima. Será?
Discordando e fundamentando, inclusive, na mais alta tecnologia, sendo um dos mais renomados engenheiros do Vale do Silício, criador da ‘Way of The Future Church’, uma igreja voltada à inteligência artificial, Anthony Levandowiski, e seguidores, exortam pelos direitos das máquinas e idealizam uma inteligência artificial divina.
Somente para adoçar ainda mais referida inquietação, em havendo tal possibilidade, vale dizer, uma moral específica para determinada tecnologia, como se daria a interface, a conexão entre linguagens, humana e da máquina?
Pode-se concluir que o nascer de uma determinada tecnologia é a fixação de um marco no tempo, que muda a direção e sentido até então aceitos, realizando sua própria história
Talvez Leibniz (mônada) pudesse explicar algo nesse sentido, mas não espancaria novas dúvidas a cada investida na janela chamada ‘ciberespaço’.
O certo é que a máquina não busca um limite, a ele só os humanos. Se programar a máquina para responder a dada pergunta e, conforme as respostas, programa-la ‘livremente’ para novas indagações e também novas respostas, se terá uma situação de infinitude. A cada conjunto de 0 e 1 haverá outros e mais outros como indagações e respostas. Contudo, nisso há entendimento? As combinações numéricas são acasos ou haverá sentido, linguagem a interpretar, nelas?
Na passagem mais conhecida de Guy Debord, objetivando definir ‘Sociedade do Espetáculo’, esta não seria um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens’ (cf. texto de Leonardo Goldberg e Wellington Zangari, publicado na revista ciência e vida, Filosofia).
Somos modelos, imagens às quais aderimos e sob as quais nos comunicamos? Modelos de existência através dos quais os seres, aderindo a um ou outro, se reconhecem? Em sendo assim, por que negar realidade à inteligência artificial?
Sabemos que há individualidade por haver uma historicidade vivida e interpretada por cada qual. Somos um feixe de ações no tempo, capitaneadas por acontecimentos, pensamentos e interpretações. Por isso, inclusive, que mudamos com ele, o tempo, e o que mantém nossa identidade nunca será o nome, o RG ou CPF, mas a nossa história, a de cada qual. Ela nos faz reconhecidos.
Pode-se concluir que o nascer de uma determinada tecnologia é a fixação de um marco no tempo, que muda a direção e sentido até então aceitos, realizando sua própria história, que nada mais faz que criar identidade, se projetando como imagem e alteridade para o outro ou outros.
É por aí...
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é juiz em Cuiabá.
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