RICARDO GIULIANI NETO
Pensei em haraquiri; confesso: nas coisas de não viver, sou ruim. Curto a vida e vamo que vamo! Mas saber que um juiz do RJ ganha R$ 150 paus na terra onde se diz que “País rico é País sem miséria”… Ora, dá uma espada aí.
Penso no código de honra japonês pelo caradurismo dos que recebem os R$ 150 paus e pela desfaçatez dos que autorizam os pagamentos aos tais caras-de-pau. Meu!, é de pegar a peixeira e arrancar o bucho! “Estrebuchar-me myself ”, diria o Tio Joel Santana, brasileiríssimo.
O pior de tudo é quando debatemoso tema e nos agridem com coisas do tipo “quem pensam que são?” Dia desses um Juiz disse pra “my self”, num debate público: “se existem Juízes que pensam ser deuses há advogados com a certeza de que são”. “Até pode tobe”. Sobrevivemos de money privado enquanto “eles forgot” que somos brasileiros indignados berrando o dever de criticar para defender a coisa pública como deuses/cidadãos. O constrangimento de ouvir juízes de direito, desembargadores e outras cossitas mais explicando milhões e milhões pagos para funcionários públicos para o fim tapar goteiras em coberturas é unbelievable. Meu!, assim?, só com haraquiri ni-nóis.
Alternativas vêm à mente e iluminam desejos de futuro e boa ventura. Reler Aristóteles e empanturrar-me com os dotes da virtude, seria uma delas. Outra, enfurnar-me numa caverna para virar objeto de estudo; do buraco sairia um novo livro falando de homens e civilização. Ninguém o leria. Mais uma: tornar-me jóquei e, nos prados do mundo, vencer carreiras exclusivamente para ser fotografado junto ao meu honesto animal de Puro-Sangue-Inglês. Sabem vocês, o mais famoso PSI era o“filho-da-puta”, propriedade de um militar, ao que dizem, traído pela esposa; o tal PSI tornou-se importante pelo palavrão no nome e pelas corridas vencidas, mas o nome foi-lhe dado porque o PSI teria sido presente do marido traído à traidora mulher. Traições são um despudor irritante, e o batismo do PSI, confesso-lhes, foi merecido.
Pensei viver entre troncos de árvores apodrecidas, entregue à história que, agonizante,lambe a morte e dá vida para fungos e moluscos de carapaça. Viveriacoberto por folhas de bananeiras, entretido com estrelas e vagalumes no céu. Entre o podre das árvores deixaria os séculos no passado, encontraria um futuro viável, menos pueril e corrupto. Comeria moluscos invertebrados de doce sabor; cogumelos fervidos em água de pura cacimba, beberia; a psilocibina produziria alucinações e, então, finalmente teria um mundo pintado com as cores dos que abominam os haraquiris morais e as traições públicas.
Aí, entre moluscos invertebrados, drogas naturais e paus ocos de podridão, viveria.
RICARDO GIULIANI NETO é advogado em Porto Alegre, mestre e doutor de direito.
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