EDUARDO MAHON
Eu fiz curso de datilografia. Imaginem só: curso de datilografia! Conheci um amigo que batia numa Ramington. Eu já usava a Olivetti. Meus exames – veja que nem se fala mais ‘exame’ – eram copiados em mimeógrafo. As provas vinham quentes com cheiro de álcool, muitas vezes borradas.
Minha mãe passava os paninhos nos quais servia os pães às visitas, os guardanapos de linho, as toalhas de mesa. Tudo era engomado. Já visitei cidades em que havia um telefone coletivo, com telefonista e hora marcada para fazer e receber telefonema. Afora isso, eram orelhões e suas fichas.
Música? Escutava LP’s e, caso eu gostasse da canção, tinha que ter destreza para colocar a agulha no exato ponto de início para ouvir de novo, sem riscar o disco. Senão... Tinha o K7 usado com a caneta bic pra rebobinar.

O carro precisava esquentar nos dias frios, pesquisa era na biblioteca com a Delta ou a Barsa
O carro precisava esquentar nos dias frios, pesquisa era na biblioteca com a Delta ou a Barsa, o boletim era entregue somente aos pais, a gente tinha que levantar para mudar o canal da televisão porque não tinha controle remoto.
Imaginem chegar em 2016. Sou do tempo da banha de porco na latinha... Quem diria, hein? Quem diria que encontraríamos imaginação para passarmos por tudo o que passamos e, ainda assim, nos adaptar à modernidade?
Bem, estamos nós aqui, todo mundo falando com todo mundo, todo mundo vendo tudo de todo mundo, num mundo conectado a ponto de ninguém ser obrigado a sair de casa. E eu? Eu gosto de livros. É saudosismo. Gosto do cheiro do livro, da textura das páginas.
Na minha sala, há um toca-discos e um telefone de bocal. Acho elegante escrever cartas à mão, mesmo sem nunca ter feito curso de caligrafia. Nem me serviria para nada mesmo, já que acredito estar com as extremidades fossilizadas quando me for daqui.
Eu gosto de fotos impressas para colocar no álbum. Imaginem só? 2016! Era ontem quando, na vitrola, tocava Jorge Ben, antes de virar Jorge Ben Jor. Passou num instante. Agora, depois dessa postagem, vou levantar, coar o café no pano e fazer um pão na chapa, antes que me tirem isso também.
Deem licença para um novo-velho-novo de 38 anos. Já tenho muitos Papas em meu curriculum. Sobrevivi ao impossível, sobrevivi ao meu passado. Isso não é incrível?...
Viva 2016!
EDUARDO MAHON é advogado em Cuiabá.
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