THAIZA ASSUNÇÃO
DO MIDIANEWS
Seguindo uma ordem de Brasília, a Superintendência Regional da Polícia Federal de Mato Grosso está priorizando inquéritos contra crimes de corrupção. As investigações acontecem na mesma linha da Operação Lava Jato, que apura um desvio bilionário de dinheiro público da Petrobras.
O superintendente da PF no Estado, delegado Áderson Vieira Leite, afirmou que a instituição tem concentrado todos os esforços para combater “crimes de colarinho branco” em Mato Grosso.
Vieira era chefe da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros e à Lavagem de Dinheiro da Polícia Federal em Brasília.
Lá, ele inclusive deu apoio às investigações da Lava Jato, coordenada pela PF do Paraná.
Quando cheguei aqui, disse que não ia inventar roda, e sim seguir o normativo do órgão. Por isso, nesse primeiro momento, estamos focados em combater a corrupção
“Quando cheguei aqui, disse que não ia inventar a roda, e sim seguir o normativo do órgão. Por isso, nesse primeiro momento, estamos focados em combater a corrupção”, afirmou.
Somente em Cuiabá, conforme o chefe da PF, há 1,5 mil inquéritos em andamento. Para não quebrar o sigilo das investigações, Vieira disse que não pode revelar o teor das ações.
Entretanto, adiantou que existem agentes debruçados sobre documentos da operação Ararath, o que dá a entender que, em breve, pode ser deflagrada uma nova fase da ação, que investiga crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro dentro da Assembleia Legislativa e Governo do Estado.
“A Operação Ararath é muito extensa. Eu acompanhei o nascimento dela em 2008. Até agora, a ação desvendou, digamos, apenas uma parte dessa estrutura criminosa. Portanto, ainda existem outras frentes a serem exploradas”, declarou.
Nesta semana, o chefe da PF conversou com o MidiaNews por cerca de 40 minutos na sede da superintendência, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Av. do CPA). E, ao ser questionado sobre a existência de pressões políticas na instituição e até casos de suborno, Vieira garantiu que a PF atua com independência e que os agentes têm um nível de profissionalismo elevado.
O delegado fez ainda uma análise da Operação Lava Jato e a consequência dela na política brasileira.
Veja os principais trechos da entrevista:
MidiaNews - A PF investiga, principalmente, crimes do colarinho branco. Tem conhecimento sobre tentativa de suborno ou propina em Mato Grosso?
Áderson Vieira - Não. Nós somos muitos ciosos com a questão da disciplina, da lisura e do comportamento dos nossos servidores. Somos uma equipe bem compacta, fechada, de forma que aqui em Mato Grosso nós não damos espaço para esse tipo de prática, e também não aceitaríamos isso.
MidiaNews – Mas já ouve alguma tentativa?
Áderson Vieira - Não. Conosco não. A nossa atuação tem um nível de profissionalismo muito grande. As provas colhidas são tão robustas que não há espaço para um questionamento desse nível por parte de um terceiro. Não permitimos aproximação. Além do mais, o nosso trabalho é fiscalizado pelo Ministério Público Federal e pelo Judiciário Federal.
MidiaNews – A Polícia Federal é, de fato, um órgão autônomo?
Áderson Vieira - A PF tem, digamos, uma autonomia na parte da sua investigação. Temos um orçamemento definido em lei. Mas não para fazermos investimentos onde quisermos - isso não. Seguimos as diretrizes do Executivo Federal. Mas quando o fato entra aqui dentro, nós temos, sim, autonomia para realizar investigações. Não há uma pressão de Brasília, de que lado quer que seja. Ninguém chega aqui e diz: faça isso ou não faça aquilo. Temos uma atuação bem republicana, de acordo com os fatos que são representados.
MidiaNews - Um dos questionamentos que ouvimos da sociedade é o fato da PF não divulgar o nome dos presos e detalhes das operações. Acredita que o sigilo seja importante?
Áderson Vieira - Isso depende muito da atuação do Poder Judiciário Federal. Aqui em Mato Grosso, nós recebemos orientações para não divulgarmos informações sobre as operações. No sentindo de não expor as pessoas. Mas temos um exemplo oposto agora, com a Lava Jato, só que isso é a postura do juiz Sérgio Moro. Não são vazamentos ou divulgação de dados feitos pela Polícia Federal.
Mas aqui no Estado, isso não acontece, não se tem essa postura por parte do Judiciário. Na Operação Ararath, por exemplo, a ordem era não dar nem entrevista.
É muito fácil falar que foi a Polícia Federal que vazou algo, até porque geralmente é o lado mais fraco da história.
MidiaNews - O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, disse em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” que não vai tolerar vazamentos de investigações. E afirmou ainda que, se “cheirar” vazamento por um agente, a equipe inteira será trocada, sem a necessidade de prova. Como analisa essa declaração?
Áderson Vieira - Repudio completamente. É muito fácil falar que foi a Polícia Federal que vazou algo até porque geralmente é o lado mais fraco da história. E eu posso te afirmar, com base na minha experiência, que a PF não vaza nenhuma informação. Acontece que, antes de deflagramos uma operação policial, todas as informações já foram encaminhadas para o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário Federal. No dia da deflagração, os advogados dos acusados também têm por lei o direito ao acesso às informações. Então há um universo muito grande de pessoas que passam a ter conhecimento do fato.
MidiaNews – Superintendência Regional da Polícia Federal de Mato Grosso tem um controle nessa questão de vazamento?
Áderson Vieira - Claro! Primeiro que os nossos sistemas, tanto o que trabalha com informações bancárias como o de interceptações telefônicas, são auditados. Há servidores previamente autorizados para ter acesso. E é possível auditar qualquer tipo de pesquisa que seja atípica. Importante destacar também: o sistema é todo concentrado aqui. Então todos os servidores têm que se deslocar à PF para trabalhar, e não teria como extrair qualquer informação e repassar para algumas pessoas sem deixar algum rastro.
MidiaNews - A Operação Lava Jato pode ser um marco, uma vez que se trata de investigação de pessoas em cargos públicos e donos de empreiteiras?
Áderson Vieira - O que a Lava Jato tem demostrado é efetivamente a promiscuidade existente entre parte do poder público e o privado, no que diz respeito à questão de relação econômica. Descobriu-se empresas que pagavam propina para ganhar obras públicas. Servidor público recebendo propina para facilitar os trâmites burocráticos relacionados a uma empresa. Então o maior legado da Lava Jato tem sido a de colocar tudo isso às claras. Com isso as nossas instituições, que são instituições sólidas, estão sendo obrigadas a posicionar, a tomar as medidas cabíveis, seja no âmbito administrativo, judicial, executivo.
MidiaNews – Há relatos, tanto da sociedade, como de parte da imprensa, de que a operação estaria sendo usada para beneficiar determinado partido e prejudicar outro. Como analisa esse debate?
Áderson Vieira - A Polícia Federal adquiriu uma respeitabilidade muito grande, principalmente pelo exercício das suas atividades ser de caráter republicano. Não é um órgão do atual governo, é um órgão do Estado, e como tal tem desempenhado as suas funções. De forma que não tem como fazer esse tipo de argumento. Os fatos estão aí: comprovam que não tem sido essa a postura da Polícia Federal. O que se extrai a partir daí não depende da gente. Temos trabalhando, expondo os fatos. Porém os resultados a partir daí fazem parte desse jogo político. Mas nós não somos indutores disso.
MidiaNews - Recentemente houve uma manifestação aqui em frente à Polícia Federal em apoio aos trabalhos desempenhados, principalmente com relação à Lava Jato. Isso motiva a equipe?
Áderson Vieira - Nós buscamos não nos envolver nisso até para deixar bem claro nosso posicionamento de apartidarismo. Nós observamos a participação dos populares, com as suas diversas matizes ideológicos e políticas. Evitamos nos manifestar. A consciência que nós temos é que estamos fazendo o nosso trabalho, seja ele pra que lado for.
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