LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
O advogado Pedro Jorge Zamar Taques, sócio e irmão do ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, também é alvo de mandado de prisão na Operação Bônus, 2ª fase da Operação Bereré.
Ele se entregou ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) no final da manhã desta quarta-feira (09). Os agentes do Gaeco tentavam cumprir a prisão contra ele desde o início da manhã.
Outros cinco alvos, entre eles o próprio Paulo Taques, também tiveram a prisão cumprida. Foram presos deputado estadual Mauro Savi (DEM); o ex-diretor-presidente da EIG Mercados (empresa pivô do esquema), José Kobori; e os empresários Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, sócios da Santos Treinamento, empresa que, segundo as investigações, era usada para lavagem do dinheiro desviado do órgão.
A operação apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015. Ele deverá ser trazido a Cuiabá ainda nesta quarta.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Jorge Taques chegou a atuar em pelos menos dois processos judiciais em defesa da EIG. Em ambas, a participação do advogado foi oficializada por meio de uma carta de substabelecimento assinada em 14 de maio de 2015 pelo escritório que representa a EIG em Brasília.
Ele foi citado em depoimentos à Delegacia Fazendária (Defaz) e ao Ministério Público Estadual pelos empresários Marcelo da Costa e Silva e Roque Anildo Reinheimer, que confessaram envolvimento no suposto esquema.
De acordo com eles, logo após Kobori assumir a diretoria da EIG, em 2014, o mesmo anunciou que a questão administrativa e política da empresa ficaria a cargo dele, pois teria proximidade com Jorge Taques, primo do futuro governador Pedro Taques, tendo estudado com o advogado no Colégio São Gonçalo.
Jorge Taques havia sido seu advogado quando de sua separação e que assim iria ser o responsável pelas tratativas da manutenção do contrato perante o novo Governo
“Bem como que Jorge Taques havia sido seu advogado quando de sua separação e que assim iria ser o responsável pelas tratativas da manutenção do contrato perante o novo Governo que, segundo as pesquisas, seria vencida por Pedro Taques, primo de Paulo Taques”, disse Reinheimer.
Contudo, os sócios da Santos Treinamento não aceitaram essas alterações, motivo pelo qual Marcelo Costa disse ter tido uma “briga feia” com José Kobori.
“Posteriormente eu vim a tomar conhecimento que, mesmo antes dessa briga, descobri através de uma procuração de substalecimento datada de 06/10/2014, ou seja, um dia após a eleição, que Kobori havia substabelecido os serviços jurídicos da FDL para o escritório de Paulo Taques, corroborando o que Kobori havia dito para mim quando alegou ser amigo de Jorge Taques e por isso influencia no Governo”.
Já no início da nova gestão, em janeiro de 2015, Marcelo Costa disse que a EIG parou de repassar os lucros devidos à Santos Treinamento, “deixando evidente que dessa forma os repasses deixaram de ser pagos para a Santos atender outros interesses”.
Sócio corrobora versão
A versão apresentada pelo empresário Roque Reinheimer foi no mesmo sentido da formulada por Marcelo Costa.
Ele disse que a partir de 2015 a EIG Mercados e a Santos Treinamento rescindiram a parceria, sem a assinatura dele, motivo pelo qual ele procurou Valter Kobori em Brasília para tratar do assunto.
“Após insistir em ser atendido pelo senhor Kobori, este mandou um representante, que apresentando-se como advogado da empresa FDL/EIG, disse que ‘eventuais prejuízos fossem tratados na Justiça e que a partir de então, todos os assuntos relacionados a empresa FDL/EIG em Cuiabá/MT fossem tratados no escritório de advocacia do chefe da Casa Civil, com o senhor Paulo Taques”.
Roque Reinheimer disse que questionou o representante de que forma iria iniciar uma conversa com Paulo Taques sem ter nenhum documento que indicasse que o mesmo era o novo defensor da EIG, “ocasião em que este advogado entregou-lhe uma procuração e substalecimento da EIG para Pedro Jorge Zamar Taques”, sócio de Paulo.
O sócio da Santos Treinamento contou que chegou a conseguir marcar uma reunião com Paulo Taques.
“Ao iniciar as conversas com Paulo Taques, percebi que este ficou um pouco alterado e de certa forma acabou me intimidando, então desisti de prosseguir na conversa”.
A operação
A 1ª fase da operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
Foram alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia". Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.
Também contribuíram para a investigação os depoimentos do ex-governador Silval Barbosa e de seu irmão Antonio Barbosa, delatores da Operação Malebolge, que confessaram ter participado do esquema no Detran.
As empresas FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação Ltda (que agora usa o nome de EIG Mercados Ltda.) e a Santos Treinamento Ltda teriam sido usadas para lavar dinheiro no esquema.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
Conforme as investigações, parte dos valores milionários pagos pelo Detran à FDL eram repassados para a empresa Santos Treinamento, que seria de fachada e atuaria apenas para “lavar” e distribuir a propina aos políticos. Dezenas de servidores e parentes de servidores do Poder Legislativo também teriam sido usados para lavar o dinheiro arrecadado por meio do esquema criminoso.
Após as buscas, o desembargador José Zuquim também autorizou investigações contra os deputados José Domingos Fraga (PSD), Wilson Santos (PSDB), Ondanir Bortolini, o “Nininho” (PSD), Baiano Filho (PSDB) e Romoaldo Júnior (PMDB), suspeitos de terem se beneficiado do esquema.
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