CÍNTIA BORGES E CAMILA RIBEIRO
DA REDAÇÃO
O deputado estadual Baiano Filho (PSDB) afirmou que os cheques emitidos pelo empresário Claudemir Pereira dos Santos - e sacados por dois assessores seus - são oriundos de um empréstimo feito por ele junto a um colega parlamentar.
Claudemir dos Santos é investigado na Operação Bereré, que apura esquema de pagamento de propina em razão de um contrato com a empresa EIG Mercados com o Detran.
Os cheques, totalizando R$ 35 mil, são investigados na Operação Bereré e foram recebidos pelo chefe de gabinete e pelo assessor parlamentar do deputado, Luiz Otávio Souza e Wilson Medrado, respectivamente.
“É um empréstimo que fizeram a meu pedido. Não temos relação com qualquer problema [relacionado à Bereré]. Tenho a consciência tranquila”, disse o deputado.
Baiano Filho prestou esclarecimentos na sede do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) na manhã desta quinta-feira (12).
Um empréstimo que fizeram a meu pedido. Não temos relação com qualquer problema. Tenho a consciência tranquila
No entanto, à imprensa, o parlamentar não quis revelar o nome do colega a quem pediu o empréstimo para, segundo ele, sanar dívidas de campanha. “Está no depoimento”, disse.
“Foi por necessidade. A eleição tinha acabado de terminar, tinha saído de uma licença, acabei solicitando [o dinheiro] de um companheiro da Assembleia”, afirmou.
O chefe de gabinete de Baiano teria recibido três cheques de R$10 mil e o assessor parlamentar, um cheque de R$ 5 mil, em outubro de 2014.
A Operação Bereré apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran Mato Grosso, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Depoimento de assessores
Foi por necessidade. A eleição tinha acabado de terminar, tinha saído de uma licença, acabei solicitando [o dinheiro] de um companheiro da AL
No dia 22 e 23 de fevereiro, Luiz Otávio Souza e Wilson Medrado prestaram depoimentos à Delegacia Fazendária (Defaz).
De acordo com os depoimentos, os cheques foram usados para pagar as despesas de gabinete do deputado.
Os depoimentos embasaram a decisão do desembargador José Zuquim em autorizar uma investigação contra Baiano Filho.
Nas oitivas, Luiz Otávio Souza disse que na condição de chefe de gabinete era praxe o uso de sua conta pessoal para pagar as despesas do deputado Baiano Filho no gabinete.
E relatou que. os três cheques que recebeu nos dias 13 e 14 de outubro de 2014, de R$ 10 mil cada, emitidos por Claudemir Pereira, foram usados para pagar as contas do gabinete do deputado.
Versão semelhante foi dada pelo assessor parlamentar Wilson Medrado, que é subordinado de Luiz Souza. Ele contou que sempre assessorou o político e que já recebeu valores em suas contas bancárias ou efetuou saques em dinheiro ou de cheques de terceiros, “tudo a pedido do chefe de gabinete que distribui os serviços”.
A operação
A operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
Foram alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia". Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.
Também contribuíram para a investigação os depoimentos do ex-governador Silval Barbosa e de seu irmão Antonio Barbosa, delatores da Operação Malebolge, que confessaram ter participado do esquema no Detran.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
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