DO VALOR ECONÔMICO
O grupo Bom Jesus, um dos maiores do setor de agronegócios de Mato Grosso, com produção de grãos e fibras e revenda de insumos, deve assinar, nos próximos dias, um acordo com credores para reestruturar suas dívidas bancárias, superiores a R$ 2 bilhões.
O conglomerado, que tem sede em Rondonópolis (212 km ao Sul de Cuiabá), já tinha um endividamento elevado, mas a situação piorou a partir de meados de 2015, com a disparada do dólar e a maior inadimplência de seus clientes.
Com faturamento de R$ 2,3 bilhões no ano passado, o Bom Jesus negocia uma solução para seu passivo desde outubro.
Até agora, segundo fontes ouvidas pelo Valor, já conseguiu obter a adesão de metade de seus credores para um acordo.
A meta é conseguir o apoio de pelo menos 70% deles. Nessa lista estão Rabobank, Banco Votorantim, Itaú, Banco Latinoamericano de Comércio Exterior (Bladex), Santander, Bradesco, HSBC, Banco do Brasil e Credit Suisse.
O objetivo do "standstill" – acordo fora do âmbito judicial que consiste na suspensão de ações de execuções de garantias por credores por um determinado período – é justamente evitar que o Bom Jesus trilhe o mesmo caminho do Grupo Pinesso e do J.Pupin, grandes produtores de soja e algodão no Centro-Oeste que pediram recuperação judicial em 2015.
Uma vez assinado o acordo, o Bom Jesus deve contratar um assessor financeiro para que, a partir daí, os dois lados comecem a desenhar um plano de pagamentos.
À reportagem, o diretor financeiro do grupo, Valdoir Slapk, antecipou que esse plano passará inevitavelmente por uma venda de ativos, sobretudo terras, além do alongamento do prazo de vencimento da dívida.
O Bom Jesus cultiva soja, milho e algodão em 250 mil hectares, e metade de sua área está em fazendas próprias. Além disso, o grupo também tem no portfólio de ativos outros 72 mil hectares em fazendas ainda não exploradas na Bahia.
Sem mencionar números, Slapk garantiu que o grupo está "muito bem calçado" em patrimônio, com ativos "bem superiores" ao passivo. Destacou, ainda, que operacionalmente o negócio de cultivo agrícola, carro-chefe da empresa, teve resultados "muitos bons" em 2015.
"A margem Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] foi de 32% ano passado", disse.
O executivo reconheceu que as áreas do grupo cultivadas com soja no norte de Mato Grosso registraram perdas de produtividade devido a intempéries, mas disse que a quebra não foi significativa. Além disso, acrescentou, a região concentra apenas 20% da área total do grupo semeada com a oleaginosa.
Slapk, que confirmou que o grupo está em vias de assinar o "standstill", reiterou que a guinada da moeda americana frente ao real teve um efeito muito ruim no endividamento da empresa – 85% em dólar. Mas observou que foi fundamental para a deterioração financeira a elevada inadimplência de seus clientes da divisão de revenda de insumos.
Basicamente, esse negócio consiste no financiamento a outros produtores. O grupo vende insumos (fertilizantes, defensivos, etc) em troca da entrega (futura) de produto agrícola (soja, milho, algodão).
"A inadimplência foi muito grande na safra 2014/15 [encerrada em meados do ano passado]", explicou Slapk.
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