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ÚLTIMAS NOTÍCIAS Quarta-feira, 06 de Setembro de 2017, 09:04 - A | A

06 de Setembro de 2017, 09h:04 - A | A

ÚLTIMAS NOTÍCIAS / ÁUDIO DA JBS

Joesley sugere ter negociado com ex-auxíliar de Janot

Em gravação, empresário diz que delatores da JBS são 'joia da coroa'

DO G1



Em um dos trechos do áudio que será investigado pela Procuradoria Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F e delator da Lava Jato, se gaba com o diretor de Relações Institucionais da empresa, Ricardo Saud, de que os executivos da holding eram a "joia da coroa" do Ministério Público.

A gravação foi divulgada no início da tarde desta terça-feira (5) pelo jornal "O Globo"; no fim da tarde, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo e autorizou a liberação do conteúdo da gravação.

Nesta segunda (4), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou que mandou investigar se delatores da JBS omitiram informações. Segundo ele, a apuração poderá levar à eventual rescisão do acordo de colaboração, hipótese em que apenas os benefícios obtidos pelos delatores são anulados, mas não as provas entregues por eles.

Na gravação, Joesley Batista relata que o ex-procurador da República Marcelo Miller, incentivou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, chefe do Ministério Público Federal, a fechar acordo de delação premiada com os executivos da J&F, grupo que é acionista majoritário do frigorífico JBS. Miller trabalhou com Janot durante três anos. Ele deixou a PGR em abril deste ano e passou a atuar no escritório de advocacia Trench Rossei e Watanabe, que atende a JBS.

 

De acordo com a PGR, os novos áudios entregues pelos delatores da JBS indicam que Marcello Miller atuou na "confecção de propostas de colaboração" do acordo que viria a ser fechado entre os colaboradores e o Ministério Público Federal.

"Nós somos a joia da coroa deles [Ministério Público Federal]. O Marcelo [Miller] já descobriu e já falou com o Janot: 'Ô, Janot, nós temos o cara [Joesley], nós temos o pessoal que vai dar todas as provas que nós precisamos'. Ele já entendeu isso", ressaltou Joesley ao diretor da J&F em meio à conversa de quatro horas que, aparentemente, foi gravada acidentalmente em 17 de março.

Ao longo das quatro horas de gravação, Joesley e Saud mencionam diversas vezes conversas que tiveram com o ex-auxiliar de Janot, demonstrando intimidade com Marcelo Miller.

Nos relatos, eles sugerem que o ex-procurador da República intermediou a aproximação do dirigentes do grupo empresarial com o chefe do Ministério Público. Conforme o diretor da J&F, Marcelo Miller repassava informações a Janot por meio de um "amigo em comum".

Saud chegou a dizer ao dono da JBS que ouviu de Miller que o procurador-geral, após deixar o comando da PGR, iria atuar com ele no mesmo escritório de advocacia que ele havia se transferido depois de se desvincular do Ministério Público.

Como advogado, o ex-procurador Miller chegou a atuar nas negociações da JBS para fechar um acordo de leniência, o escritório deixou o caso antes do fechamento do acordo. O acordo de leniência é uma espécie de delação da empresa, na esfera cível. Em julho, Miller foi desligado do escritório.

  • Ricardo Saud: "O Janot vai sair e vai ficar com Marcelo no escritório."
  • Joesley Batista: "Mas então você tá confirmando minha tese, que sempre pensei ,que te falei que ele [Miller] vai no banheiro e conta pra alguém."
  • Ricardo Saud: "Não, diz que é o Janot... Amigo em comum, que é dono de escritório, que é onde Janot vai trabalhar. Já entendi, Marcelo saiu antes, tem um outro saindo, Cristian... e o Janot não vai concorrer [à reeleição na PGR], vai sair, vai vir advogar junto com ele e esse Cristian nesse escritório. Escritório único, ele, esse Cristian e Janot."
 
 
'Chegar no Janot'

Em meio ao diálogo, Joesley Batista ressalta ao diretor da J&F destaca a importância de eles se aproximarem de Marcelo Miller para "chegar no Janot" e, com isso, negociarem a delação premiada com imunidade penal, que assegurou que os delatores da empresa não seriam denunciados pelo Ministério Público.

O empresário insinua que tinha meios para influenciar o ex-procurador da República. Segundo ele, os dois precisavam estar "100% alinhados" com o ex-auxiliar de Janot para obter os benefícios no acordo de delação premiada.

"Por isso, é que eu quero que nós dois temos que estar 100% alinhado. Nós dois e o Marcelo, entendeu? É, mas nós dois temos que operar o Marcelo direitinho pra chegar no Janot e pá. Tã tã tã", observa Joesley.

"Eu acho, é o que eu falei pra Fernanda, é o que eu falei pro... nós nunca podemos ser o primeiro. Nós temos que ser o último. Nós temos que ser a tampa do caixão", declarou.

Nesta segunda-feira, após Janot anunciar a investigação para apurar eventuais irregularidades na delação dos executivos da J&F, a assesoria de Marcelo Miller divulgou uma nota na qual o ex-procurador se dizia inocente.

"Marcello Miller tem convicção de que não cometeu qualquer crime ou ato de improbidade administrativa e informa que está à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos", diz o comunicado de Miller.

'Amigo de todo mundo'

Na sequência, o empresário afirma para Ricardo Saud, se vangloriando da negociação, que a delação premiada articulada com a PGR iria garantir imunidade aos dirigentes e salvaria o grupo empresarial.

"Nós vamos sair amigos de todo mundo e nós não vamos ser presos. Pronto. E nós vamos salvar a empresa", destacou Joesley.

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