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26 de Dezembro de 2018, 16h:43 - A | A

ÚLTIMAS NOTÍCIAS / CODINOME "GLUTÃO"

Lava Jato tenta identificar destinatário de R$ 3 mi pagos pela Odebrecht

Os valores teriam sido pagos pela aprovação do projeto de resolução do senado 72/2010

ANDRÉIA SADI E MARIANA OLIVEIRA
DO G1



Perícia realizada nos sistemas de comunicação e de contabilidade informais da Odebrecht mostra que a empresa pagou pelo menos R$ 8,5 milhões, entre maio e agosto de 2012, a cinco políticos – os senadores Romero Jucá (MDB-RR) e Renan Calheiros (MDB-RR) e os ex-senadores Delcídio do Amaral (sem partido-MS) e Gim Argello (sem partido-DF), além de um quinto nome ainda não identificado.

O político indicado nas planilhas da empreiteira pelo codinome de "Glutão" teria recebido R$ 3 milhões em Brasília em maio de 2012, mas a Polícia Federal ainda não sabe de quem se trata.

Os valores teriam sido pagos pela aprovação do projeto de resolução do senado 72/2010, que limitou a concessão de benefícios fiscais pelos estados em portos a produtos importados. O caso ficou conhecido como "Guerra dos Portos" e beneficiou diretamente uma das empresas do grupo Odebrecht, a Braskem.

Em 12 de dezembro, a PF pediu ao relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Edson Fachin, mais 60 dias de prazo para conclusão das investigações.

O objetivo dos policiais é cruzar dados da perícia com provas coletadas na Operação Armistício, realizada em 8 de novembro e que recolheu informações de supostos intermediários de Jucá, Renan e Gim Argello.

Fachin pediu para a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestar em parecer sobre o pedido da Polícia Federal para prorrogar mais uma vez as investigações. O magistrado aguardará o posicionamento da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para então decidir se estende o prazo da apuração.

O inquérito foi aberto em abril de 2017 com base nas delações premiadas dos executivos e ex-dirigentes da Odebrecht.

O ex-executivo da construtora Cláudio Melo Filho delatou à PGR o repasse de R$ 3 milhões a Jucá, que era líder do governo no Senado, para aprovação do projeto que limitou a concessão de benefícios fiscais a importados.

Além disso, a empresa também teria feito o pagamento de R$ 500 mil ao ex-senador Delcídio do Amaral, que cobrou a suposta propina após o texto ter sido aprovado pelo Congresso Nacional.

Um relatório de análise da PGR, finalizado em junho deste ano mas incluído recentemente na investigação, analisou dados do sistema de comunicação paralela da empresa, o Drousys, e do sistema de contabilidade, o MyWebDay. Os dados mostram os pagamentos a Jucá, Renan, Gim Argello e Delcídio, além do nome ainda não identificado.

Conforme o Drousys, Delcídio teria recebido os R$ 500 mil em São Paulo EM 16 de agosto, em pagamento por meio do doleiro Álvaro Novis.

O MyWebDay indicou o destino dos outros R$ 8 milhões, com os endereços:

  • - R$ 1 milhão para o codinome Campari, que seria Gim Argello, no dia 10 de maio de 2012. O pagamento foi feito em São Paulo, no bairro do Ibirapuera.
  • - R$ 3 milhões, mediante três pagamentos de R$ 1 milhão cada, nos dias 17 e 24 de maio e 20 de junho de 2012, em favor de Liderança, que seria Jucá. Os pagamentos teriam sido feitos em São Paulo, um por orientação de Cláudio Melo e outros dois na Avenida Paulista.
  • - R$ 1 milhão para o codinome Justiça no dia 31 de maio de 2012, que seria Renan Calheiros. Pagamento que teria sido feito em São Paulo, no bairro da Mooca.
  • - R$ 3 milhões para o codinome Glutão, em Brasília, no dia 9 de maio de 2012, conforme orientação de Cláudio Mello.

Em depoimento dado em Brasília no dia 9 de novembro último, Cláudio Mello falou sobre o codinome Glutão. Segundo o termo de declarações juntado ao inquérito, "o declarante não se recorda no momento qual o nome da pessoa para qual tenha sido indicado este codinome; que o declarante se compromete a verificar junto à empresa Odebrecht informações que possam auxiliar na identificação da pessoa de codinome Glutão".

Ao pedir mais prazo para investigar o caso, o delegado Bernardo Amaral, da Polícia Federal, menciona a necessidade de identificar o quinto político beneficiado pela propina da Odebrecht. Amaral destacou ainda que a PF fará análise de todo o material e das comunicações da empresa com doleiros para confirmar os pagamentos.

Em nota divulgada por sua assessoria de imprensa, Renan afirmou que não há nenhuma investigação ou citação direta a ele envolvendo a suspeita de pagamento de propina para aprovar o projeto no Senado.

"Certamente não sou eu. Não há, repito, em nenhuma investigação, citação direta a mim. Todas são por ouvir dizer, 'interpretei', 'soube', 'falaram', 'disseram', 'presença intrínseca' e coisas desse tipo. Não encontrarão nada porque nunca cometi malfeito", escreveu o senador alagoano na nota.

Também por meio de nota, a assessoria de Romero Jucá disse lamentar que, "mais uma vez", tentem envolver o nome do senador de Roraima "em um esquema que está sendo propagado por dois delatores que não apresentam nada além de e-mails trocados entre eles".

"Este mês, foi arquivado pelo STF mais um inquérito que investiga o senador [Jucá], mostrando que as acusações não se sustentam pois não há nada que possa comprometê-lo", diz trecho do comunicado.

O MDB divulgou nota nesta quarta-feira na qual afirma acreditar que senadores do partido estejam sendo citados em uma investigação "cujo vazamento tem como objetivo nítido apenas tumultuar o ambiente político".

O blog não conseguiu contato nesta quarta-feira com os advogados de Gim Argello. Na ocasião em que foi deflagrada a Operação Armistício, a defesa do ex-senador do Distrito Federal informou que só iria se pronunciar "depois de ter acesso à integralidade da operação".

A assessoria de Delcídio do Amaral afirmou ao blog nesta quarta-feira que o senador cassado "não tem nada a ver com esse rolo". Ainda de acordo com a assessoria, a Odebrecht "aproveitou" um pedido de Delcídio para "ajudar prefeitos" do Mato Grosso do Sul, em 2012, e incluiu na delação como se tratasse de propina para o ex-senador.

"Na realidade, o pedido do Delcídio para as campanhas de três prefeitos do Mato Grosso do Sul foi atendido com doações regulares diretamente a esses prefeitos. Portanto, não existe essa história de que o Delcídio recebeu R$ 500 mil em dinheiro em São Paulo", afirmou ao blog a assessoria do ex-senador.

A assessoria de Delcídio enviou ao blog cópias de documentos que o ex-senador usa para sustentar a versão de que solicitou à Odebrecht apenas contribuições para a campanha de prefeitos sul-matogrossense.

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