LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
Chefe do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), o promotor de Justiça Marco Aurélio Castro afirma ter certeza de o grupo irá deflagrar novas fases da Operação Seven, que apura suposto desvio de R$ 7 milhões dos cofres do Estado.
Ao MidiaNews, o promotor adiantou que o foco das investigações do Gaeco em relação à 2ª fase da Seven, deflagrada na semana passada, é descobrir onde foi parar o montante supostamente desviado , cujos valores teriam sido ocultados por meio de lavagem de dinheiro.
“Porque o foco principal sempre foi o crime principal. Então muitas vezes a operação morria nisso. Você provava a fraude, provava quem participou dela, denunciava e acabou. E agora estamos fazendo o caminho inverso do dinheiro. Então outras fases virão, tenho certeza disso. E nessa fase, especificamente, denunciada na semana passada, nós verificamos o padrão típico do lavador de dinheiro: aquele que recebe a bonificação do Estado devolve para os criminosos que estavam com poder de decisão, e esses criminosos pulverizam esse dinheiro na praça”, contou.

Agora estamos fazendo o caminho inverso do dinheiro. Então outras fases virão, tenho certeza disso
O alegado esquema denunciado pelo Gaeco teria ocorrido por meio da compra, pelo Estado, de um terreno de R$ 7 milhões na região do manso. A área de terra, segundo o grupo, já pertencia ao Estado e teria sido adquirida novamente do médico Filinto Corrêa da Costa, com valor superfaturado em R$ 4 milhões.
De acordo com a denúncia, os integrantes do esquema teriam feito manobras administrativas para possibilitar a negociação, e, com isso, recebido em troca parte dos R$ 7 milhões, a título de propina. Entre os denunciados estão o cunhado de Filinto Corrêa, o procurador aposentado Chico Lima, e os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf e Marcel de Cursi.
Reforço nas investigações
Para auxiliar as apurações desta fase, o promotor de Justiça relatou que a Polícia Civil designou dois investigadores especializados em lavagem de dinheiro, que deverão complementar o trabalho já realizado pela equipe do Ministério Público Estadual (MPE).
Até o momento, Marco Aurélio Castro disse que parte dos cheques supostamente emitidos para o pagamento da propina já foram localizados e revelaram a maneira como ocorreu a lavagem dos valores.
“Nós temos situações de compra de fazenda, situações de compra de gado, situações de compra de veículo, onde a pessoa que adquire não pega o dinheiro da sua conta, mas sim o cheque da pessoa que recebeu a propina, e passa direto de quem recebeu o produto. Essa é a típica lavagem de dinheiro”.
“Foi uma movimentação muito grande de cheques e dinheiro, em torno de R$ 3 milhões. Toda essa movimentação deixa rastro. Então o Ministério Público hoje, o Gaeco especificamente, trabalha nessa questão de levantar o rastro. E, levantando o rastro, vamos encontrar as pessoas que se beneficiaram desse esquema”, afirmou.
Possível envolvimento do atual governo
O promotor de Justiça também falou sobre o depoimento do empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Maluf, que depôs que cheques emitidos pelo médico Filinto Corrêa foram usados para pagar parte das cerimônias de posse do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e do atual governador Pedro Taques (PSDB).

O Gaeco trabalha nessa questão de levantar o rastro. E, levantando o rastro, vamos encontrar as pessoas que se beneficiaram desse esquema
Segundo Marco Aurélio, como as suspeitas sobre o atual Governo envolvem pessoas com prerrogativa de foro, as investigações em relação a isso foram encaminhadas ao procurador-geral de Justiça, Paulo Prado, que possui a competência para fazer as apurações.
“Nós esperamos que a verdade venha à tona, seja para confirmar isso ou não, mas que a verdade apareça e o Ministério Público possa fazer seu papel de investigador e de ressarcir a sociedade pelo mal praticado por pessoas que decidem, em determinado momento da vida, inverter aquele discurso que é inerente ao servidor público, ou seja, honestidade, probidade e lealdade com o serviço público”, finalizou.
Denúncia da Seven 2
Na primeira denúncia da Operação Seven, o Gaeco apurou suposto esquema que teve o intuito de autorizar o Intermat a comprar uma área rural de 727 hectares na região do Manso, que já pertenceria ao Estado e foi adquirida novamente de Filinto Corrêa, com preço superfaturado de R$ 4 milhões.
O valor pago pelo terreno, segundo o Gaeco, teria sido repartido entre os membros da alegada organização criminosa.
Desta primeira ação penal são réus: o ex-governador Silval Barbosa (PMDB); o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf; o ex-secretário adjunto de Administração, José de Jesus Nunes Cordeiro; o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto; o ex-procurador do Estado, Francisco Lima, o "Chico Lima"; o ex-secretário adjunto de Mudanças Climáticas, Wilson Pinheiro Taques; o ex-secretário de Planejamento, Arnaldo Alves de Souza Neto; o médico Filinto Corrêa da Costa; e os servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Francisval Akerley da Costa e Cláudio Takayuki Shida.
Já na 2ª denúncia da Seven, o Gaeco afirmou que os valores supostamente desviados foram maquiados para ocultar a origem ilícita.
Alguns dos cheques emitidos por Filinto Corrêa após receber o montante chegaram a ser usados, segundo o MPE, no custeio da posse do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e em parte da decoração de flores da posse do governador Pedro Taques (PSDB).
O médico Filinto Corrêa, de acordo com a denúncia, também teria tentado ocultar o montante por meio de aplicações em previdências privadas. Parte dos R$ 7 milhões também teria sido repassada aos filhos do médico (João Celestino e Filinto Júnior) e usada para a compra de uma BMW X6.
O Gaeco também rastreou a compra, por parte do procurador aposentado Chico Lima, de uma moto BMW modelo R 1200 GS branca, ano 2015/15. O veículo também teria sido adquirido com o dinheiro lucrado no esquema.
Em relação a Pedro Nadaf, o Gaeco afirmou que o ex-secretário chegou a simular a negociação de uma fazenda e a compra de um carro para ocultar a origem dos cheques emitidos pelo médico.
Teriam participado destas tratativas o diretor do Sesc em Mato Grosso, Marcos Amorim da Silva, e os empresários Roberto Peregrino Morales Filho e Antônia Magna Batista da Rocha.
Já o ex-secretário Marcel de Cursi, segundo o Gaeco, teria utilizado a empresa de sua esposa Marnie de Almeida Cláudio (a M de A Claúdio EPP) para entregar três cheques ao ex-presidente da Metamat, João Justino Paes de Barros, para que este fizesse a troca por dinheiro.
Segundo o Gaeco, João Justino tinha o conhecimento da origem ilícita dos cheques, mas, mesmo assim, procurou o empresário André Luís Marques de Souza – do ramo de factoring - para realizar a troca, por meio do depósito dos cheques na empresa de Andre Luís.
O intuito, de acordo com a denúncia, seria movimentar os cheques de tal maneira que o dinheiro voltasse “limpo” a Cursi.
Ainda na denúncia, o Gaeco apontou que Afonso Dalberto e Luciano Amaral teriam feito operação financeira para ocultar a transferência de R$ 500 mil de Filinto Corrêa, relativa à suposta propina para que o ex-presidente do Intermat colaborasse com o alegado esquema.
Nesta segunda ação penal são réus: o médico Filinto Correa da Costa e seus dois filhos, o advogado João Celestino Correa da Costa Neto e o empresário Filinto Correa da Costa Junior; o procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”; os ex-secretários de Estado Pedro Jamil Nadaf e Marcel Souza de Cursi; o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto; o ex-presidente da Metamat, João Justino Paes de Barros; o diretor do Sesc em Mato Grosso, Marcos Amorim da Silva; o fazendeiro Roberto Peregrino Morales; e os empresários Luciano Cândido do Amaral, Antônia Magna Batista da Rocha e André Luiz Marques de Souza.
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