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VARIEDADES Quinta-feira, 26 de Maio de 2016, 11:47 - A | A

26 de Maio de 2016, 11h:47 - A | A

VARIEDADES / PROPINA NA SODOMA

Empresário diz ter pago R$ 600 mil e promete devolver R$ 300 mil

Júlio Tisuji confessa pagamento ao ex-secretário César Zílio e temor em perder contrato com o Governo

AIRTON MARQUES
DA REDAÇÃO



Ao firmar um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Estadual (MPE), o empresário Júlio Minoru Tisuji, sócio-proprietário da Webtech Softwares e Serviços Ltda., confessou ter pago R$ 600 mil de propina ao ex-secretário de Estado de Administração, César Zílio, nos anos de 2011 e 2012.

No acordo, que foi homologado pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, no dia 5 de maio, o empresário se comprometeu a devolver aos cofres do Estado metade deste valor - R$ 300 mil -, a título de ressarcimento pelo dano moral coletivo causado.

O pagamento, segundo o termo, será feito em até 18 meses, em seis parcelas trimestrais de R$ 50 mil. A primeira parcela deve ser paga até o mês de agosto deste ano.

Deixo de homologar o acordo, no que diz respeito ao compromisso do MPE de não denunciar o colaborar Júlio Minoru Tsuji, exceto quanto aos fatos relacionados à ação penal, oriunda da Operação Sodoma 2

Apesar de homologar o acordo, a juíza Selma Arruda fez uma adequação na proposta: retirou as cláusulas que impediam o MPE de denunciar o empresário por outras questões que possam surgir fora das investigações da segunda fase da operação.

“Deixo de homologar o acordo, no que diz respeito ao compromisso do MPE de não denunciar o colaborador Júlio Minoru Tsuji, exceto quanto aos fatos relacionados à ação penal, oriunda da Operação Sodoma 2”, disse a magistrada.

Porém, caso seja denunciado e condenado por outros fatos decorrentes das investigações, o acordo prevê a diminuição da pena de Tisuji em até 2/3 ou, até mesmo, o benefício do perdão judicial.

Júlio Tisuji confessou ter pago propina para obter em troca a manutenção de contrato de prestação de serviço com o Governo do Estado.

Ele foi conduzido coercitivamente à Delegacia Fazendária, no dia 11 de março, durante a deflagração da segunda fase da operação.

No total, o empresário prestou quatro depoimentos à Defaz, oportunidade em que relatou o suposto esquema de cobrança de propina realizado, primeiramente, pelo ex-secretário César Zílio e, posteriormente, pelo também ex-secretário de Administração, Pedro Elias.

Nos depoimentos, Júlio Tisuji também revelou que os repasses, a titulo de propina, consistiam em 20% do faturamento de sua empresa.

Cobrança de Zílio

Em um de seus depoimentos, Júlio Tisuji afirmou que firmou contrato com o Governo do Estado no ano de 2008, ainda na gestão do hoje ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), pela Secretaria de Administração.

A Webtech, de acordo com o empresário, foi contratada para a prestação de serviços especializados de organização de acervo documental dos benefícios de aposentadorias, pensões e outros.

Segundo Tisuji, até o ano de 2011, quando seu contrato com o Governo já estava chegando ao fim, ele não pagou nenhum valor de propina.

No entanto, nesse ano, ele relatou que foi procurado por César Zílio, que teria lhe cobrado o pagamento de propina para que sua empresa continuasse com o contrato de prestação de serviço renovado.

“Onde César Zílio disse para o declarante que a SAD iria fazer nova licitação com o mesmo objeto do contrato do declarante, mas que se o declarante tivesse interesse em vencer essa nova licitação e continuar a contratar com o Estado, teria que pagar um percentual para os seus ‘chefes’”, diz trecho do depoimento prestado no dia 17 de março.

Mas que, se o declarante tivesse interesse em vencer essa nova licitação e continuar a contratar com o Estado, teria que pagar um percentual para os seus ‘chefes’

Tisuji completou que Zílio não informou quem eram os “chefes” citados na conversa, mas o ex-secretário teria afirmado que parte dos valores seria usada para quitar dívidas de campanha.

O empresário disse que aceitou a cobrança de propina (20% do lucro do contrato), pois se sentiu intimidado com a cobrança do ex-secretário, uma vez que o Governo era o principal cliente de sua empresa.

Ele contou também que havia feito investimentos para atender a demanda do Executivo.

Tisuji ainda declarou que, em 2011, repassou R$ 250 mil a César Zílio, e, em 2012, R$ 350 mil.

Os repasses, segundo o dono da Webtech, eram feitos diretamente a Zílio. No entanto, alguns valores foram entregues a terceiros, indicados pelo próprio ex-secretário.

Repasses a Pedro Elias

O empresário, em depoimento no dia 29 de março, reiterou que, a partir de 2013, os pagamentos de propina foram pagos ao ex-secretário Pedro Elias, que substituiu Zílio no cargo.

“Ratifica se recordar de ter ouvido, nos corredores da Sad, que César Zílio tinha saído de lá e Pedro Elias assumido o lugar, em razão de Zílio não estar sendo honesto com o seu grupo, de não estar repassando todo o dinheiro que angariava a título de recebimento de propinas para dividir entre os demais participantes de seu grupo”, disse o empresário.

A denúncia da Sodoma

Segundo a denúncia, assinada pela promotora Ana Cristina Bardusco, o grupo era dividido em várias ramificações, e cada uma das ramificações possuía graus hierárquicos.

Silval Barbosa é apontado como o líder da organização, "responsável por articular e coordenar as ações dos demais integrantes".

O grupo atuaria exigindo pagamento de propina para conceder incentivos fiscais e para manter contratos de empresas com o Governo do Estado.

Na divisão secundária figuram os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, Cézar Zílio ePedro Elias; o ex-secretário adjunto de Administração, coronel José Jesus Nunes Cordeiro; o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Cézar Correa Araújo; o ex-procurador do Estado Chico Lima; a ex-secretária de Nadaf na Fecomércio, Karla Cintra; e o filho de Silval, o médico e empresário Rodrigo Barbosa.

“Os indícios apontam que a organização criminosa atuou de forma perene durante toda a gestão de Silval Barbosa, provocando prejuízo a toda a população mato-grossense, que até hoje arca com as consequências das ações criminosas de seus membros, frente ao sucateamento da máquina administrativa, ausência de investimento em infraestrutura, na saúde, segurança e educação pública, etc”, diz trecho da denúncia.

Já o ex-deputado José Riva foi denunciado após o depoimento do empresário Paulo Mischur, da empresa Consignum, alvo da 2ª fase da Sodoma.

Mischur relatou que pagou R$ 17,6 milhões ao grupo liderado por Silval e a José Riva para manter o contrato que tinha com o Estado.

O ajuste da propina, conforme a ação, teria sido feito com a ajuda do empresário Tiago Dorileo, que também é alvo da Operação Ararath.

O grupo também teria exigido R$ 1 milhão da Zetra Soft, do empresário Fábio Drumond, para que a empresa passasse a gerenciar os empréstimos consignados dos servidores – tarefa então feita pela Consignum.

A tratativa, no entanto, acabou não sendo efetivada e o contrato – assim como as supostas propinas pagas para mantê-lo – continuou com a empresa de Mischur.

Também foi denunciado o servidor Bruno Sampaio Saldanha, que atualmente está no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

Ele teria exigido propina para fazer “vistas grossas” ao contrato do empresário Julio Tisuji, da empresa Webtech, que também confessou ter pago valores ao grupo.

Quanto ao prefeito cassado de Várzea Grande, Walace Guimarães, consta na denúncia que ele ofereceu R$ 1 milhão, em 2012, ao então secretário de Administração, César Zílio, para que o poder público pagasse valores a gráficas – por serviços inexistentes ou incompletos - no intuito de levantar dinheiro para pagar custos de campanha.

Entre as gráficas estavam as de propriedade dos empresários Antonio Roni de Luz e Evandro Gustavo Pontes da Silva, igualmente denunciados.

Leia mais:

Ex-secretário aceita devolver R$ 1,3 milhão para evitar cadeia

Empresário confessa repasse de 20% de lucro como propina

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