THAÍZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO
O Ministério Público Estadual (MPE) identificou seis pontos “irrefutáveis” que indicariam a participação e envolvimento do ex-governador Pedro Taques (Solidariedade) no esquema criminoso de interceptações telefônicas, que se tornou conhecido como "Grampolândia Pantaneira".
As provas, segundo o MPE, constam em uma ação que denunciou Taques, o ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, e outras quatro pessoas por improbidade administrativa com ressarcimento ao erário nesta segunda-feira (22).
Também foram denunciados o ex-comandante da Polícia Militar, Zaqueu Barbosa, o ex-chefe da Casa Militar, coronel PM Evandro Lesco, o ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos, coronel PM Airton Siqueira e o sargento da PM Gerson Corrêa.
De acordo com o MPE, o primeiro ponto refere-se ao início das interceptações clandestinas, em meio ao período eleitoral para o cargo de governador do Estado, que Pedro Taques disputava à época.
“No período em questão a campanha eleitoral encontrava-se no auge, notadamente em virtude do início da permissão das propagandas eleitorais (a partir do dia 15 de agosto do ano eleitoral). É inevitável concluir, portanto, ainda mais na fase derradeira de campanha eleitoral, que qualquer informação de adversários políticos seria de extrema valia visando o êxito no pleito eleitoral”, diz trecho da ação.
O segundo ponto diz respeito às características e peculiaridades das pessoas interceptadas. Conforme o MPE, entre eles estavam adversários de Taques no pleito, como os advogados dos então candidatos Lúdio Cabral, Janete Riva e José Marcondes Muvuca.
“No intuito de refutar qualquer tentativa de eximir o prévio conhecimento e responsabilidade nos fatos apurados, importante indagar: quais pessoas, efetivamente, teriam interesse na interceptação (diálogos/informações) de pretensos candidatos e/ou coordenadores de partido político que não àqueles que são seus respectivos adversários políticos?", indaga o MPE.
"Quais interesses políticos os executores confessos (Zaqueu, Lesco e Gerson) teriam em interceptar candidatos ao Governo e advogados de campanha eleitoral, senão em atender aos interesses pessoais e de pessoas interpostas (vide Pedro Taques)?".
"Por que todos os pretensos candidatos e/ou coordenadores de campanha ao Governo do Estado de Mato Grosso foram interceptados, com exceção ao então candidato ao Governo Pedro Taques?”, questiona trecho da ação.
“Diante das peculiaridades das pessoas interceptadas no escritório clandestino e das proximidades das eleições estaduais, não restam dúvidas do envolvimento do requerido José Pedro Gonçalves Taques na idealização e operacionalização do sistema que visou cooptar informações de adversários políticos, utilizando-se, para tanto, da máquina pública estatal de uma forma ampla”, diz outro trecho da ação.
Recompensados com cargos
Já o terceiro ponto apontando pelo MPE demostra que os executores dos grampos ilegais foram “agraciados” com cargos no staff de Pedro Taques.
Zaque Barbosa foi nomeado subchefe do Estado Maior da Polícia Militar; Airton Siqueira Júnior foi nomeado secretário chefe da Casa Militar; Evandro Lesco foi nomeado secretário-adjunto da Casa Militar e Paulo Taques, secretário chefe da Casa Civil.
“Nota-se, portanto, que todos aqueles que idealizaram e executaram as interceptações clandestinas (obviamente, sabendo da ilicitude) foram agraciados com cargos políticos de prestígio, demonstrando a estreita ligação entre o Requerido Pedro Taques e os demais idealizadores e executores das interceptações telefônicas clandestinas”, diz trecho da ação.
O quarto ponto refere-se ao fato de que o seu primo, Paulo Taques, atuou ativamente na "Grampolândia Pantaneira".
Entre vários apontamentos, o Ministério Público deu destaque à interceptação telefônica contra Tatiane Sangalli, sua ex-amante.
“Esta riqueza de elementos que apontam Paulo Taques como atuante na ‘Grampolândia Pantaneira’, tem como efeito reflexo o envolvimento do então governador Pedro Taques, seja pelo vinculo íntimo e familiar entre eles, seja pelas condutas prévias concomitantes e posteriores à construção do escritório clandestino”, diz trecho da ação.
Já o quinto ponto diz respeito à tentativa do ex-governador de tentar macular o prévio conhecimento da existência dos grampos clandestinos.
Na ocasião, Taques chegou a acusar o promotor de Justiça Mauro Zaque de ter fraudado a numeração do Protocolo Geral do Estado, em documento referente a uma denúncia sobre a prática de interceptações telefônicas ilegais no Governo.
Na época, o Ministério Público abriu investigação em relação a denúncia de Taques e, com base em depoimentos de servidores do Executivo e laudo pericial da Controladoria-Geral do Estado, concluiu que Zaque não participou de nenhuma irregularidade.
“É inimaginável pensar que tamanha formalidade desempenhada pelos informantes (Mauro Zaque e Fabio Galindo) não fora suficiente a 'alertar' o ggovernador (ora requerido Pedro Taques) das enfadonhas interceptações que estavam ocorrendo no "escritório clandestino", sem olvidar que inevitavelmente as ‘tratativas’ também foram ratificadas e reeditadas de forma informal (seja no contato pessoal, telefônico etc), afinal, ambos (Mauro e Galindo) eram indicações políticas do próprio requerido e, dessa forma, conversas cotidianas eram inevitáveis”, diz trecho da ação.
PMs entregaram Taques
O sexto e último ponto se refere aos depoimentos de Zaqueu Barbosa, Evandro Lesco e Gerson Barbosa que, conforme o MPE, foram enfáticos em apontar que os verdadeiros "arquitetos" do escritório instalado no seio da Polícia Militar eram Pedro Taques e Paulo Taques.
“Pelo exposto, de acordo com todos os elementos indiciários acima apontados, é possível concluir a participação protagonizante do requerido Pedro Taques nos fatos envolvendo as interceptações telefônicas clandestinas”, apontou o MPE.
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